Basta acompanhar o noticiário, transitar no meio ou conversar com líderes e trabalhadores para perceber um novo cenário relacionado ao mercado de trabalho. Da contratação às estruturas hierárquicas, muitos acreditam que os modelos de outrora já não se enquadram mais na nova realidade. Na noite dessa terça-feira, 10, no Memorial da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), especialistas se reuniram para debater esses aspectos durante a primeira edição do projeto EmerGente.
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A iniciativa, promovida pela Associação Comercial e Industrial (ACI) de Santa Cruz do Sul com apoio da Unisc e da Gazeta Grupo de Comunicações, proporcionou ao público novas reflexões sobre liderança, contratações e gerações de profissionais, entre outros pontos desafiadores. Para isso, os palestrantes Luiz Motta, CEO da Excelsior Alimentos e vice-presidente de indústria da ACI; professor Rafael Henn, reitor da Unisc; e Juliano Colombo, consultor nas áreas de educação e inovação, expuseram seus pontos de vista sobre o tema.
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O que disseram
Juliano Colombo, consultor nas áreas de educação e inovação
Primeiro a palestrar, Colombo abordou questões envolvendo a atração e retenção de talentos em tempos de escassez, lembrando que esse já é considerado um problema mundial. “Para atrair e reter talentos, as empresas precisarão transformar suas políticas internas e encontrar formas de minimizar os impactos externos, inclusive influenciando as mudanças de políticas públicas.”
O palestrante também citou a produtividade como um dos grandes problemas do Brasil. Relacionado a isso, trouxe à tona a reflexão: por que insistimos em olhar somente para os jovens? Colombo abordou os desafios que envolvem educação, habilidades básicas, papel dos líderes, protagonismo feminino, mão de obra imigrante e diferenças entre gerações, entre outros pontos. “Pela primeira vez na história cinco gerações compartilham o mesmo espaço de trabalho, com potenciais e necessidades diferentes.”
Rafael Henn, reitor da Unisc
Em seguida, o professor Rafael Henn trouxe dados especialmente voltados aos cenários escolar e acadêmico. Para ele, que já atuou em cargo de gerência na indústria durante 15 anos, parte dos problemas perceptíveis atualmente é reflexo da carência no setor educacional. “A crise de talentos começa na base. Não temos uma educação adequada em todos os níveis no Brasil.”
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Henn citou a realidade envolvendo os sistemas de ensino a distância e presencial, bem como as mudanças que vêm ocorrendo, como o marco regulatório publicado recentemente. Além disso, a necessidade de aprendizagem contínua; o novo papel das universidades, como centro de aprendizagem ao longo da vida; a evolução das tecnologias e o desenvolvimento de competências emocionais figuraram em sua explanação. “Assim como tem ocorrido na história mundial, sabemos que muitos outros empregos ainda vão surgir, mas com habilidades diferentes. E o que a educação está fazendo para se adequar às novas realidades? Precisamos de foco em problemas reais. Precisamos saber, saber ser e saber fazer.”
Luiz Motta, CEO da Excelsior Alimentos e vice-presidente de indústria da ACI
Por último, Motta citou as realidades, dentro das empresas, que as diferentes gerações encontraram e ainda têm encontrado. “Precisamos entender o modelo e refletir sobre como vamos agir. Não dá para trabalhar do mesmo jeito que se trabalhava anos atrás.” Durante a palestra, o especialista abordou estruturas hierárquicas, inteligência artificial e a necessidade de se trabalhar a conexão com as novas gerações e repensar novos talentos.
Ainda segundo ele, é urgente que haja um trabalho para desenvolver e entender os novos talentos. “A gente tem que ensinar, mas também aprender. Setenta por cento da mão de obra disponível são dos grupos Y (1981/1996) e Z (1997/2012). Mas o modelo que serviu para uma geração não vai servir para a outra.” Além disso, citou a necessidade de se lançar um novo olhar sobre os baby boomers (nascidos entre 1946 e 1964). “Nós podemos trazê-los de volta ao mercado de trabalho. Tem muita gente que deseja e que pode voltar.”
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Dados apresentados durante o evento:
- O Fórum Econômico Mundial antecipa que 59% dos trabalhadores precisarão se requalificar ou aprimorar suas habilidades até 2030. Destes, 19% terão que passar por aprimoramento para mudar de função.
- No Rio Grande do Sul, 322 mil pessoas com 60 anos ou mais trabalham de maneira informal.
- A renda de trabalhadores com Ensino Superior é 126% maior do que os menos escolarizados, diz pesquisa da FGV.
- O número de matriculados nas instituições de ensino privadas no Rio Grande do Sul caiu 49,9% na modalidade presencial, enquanto cresceu 274% nas de ensino a distância (EaD), conforme o Censo de 2023.
- 1,4 milhão de trabalhadores brasileiros atua na gig economy (trabalho flexível ou alternativo), principalmente em transportes. O número chega a 25 milhões de freelancers.
- 25% dos funcionários no Brasil temem que seu gerente os discrimine caso levantem preocupações sobre saúde mental.
- No Estado, 811 mil trabalhadores não têm ensino básico completo.
- 67% dos trabalhadores se mostram mais engajados quando motivos não relacionados ao trabalho são comumente reconhecidos na empresa.