O relato de uma mãe nas redes sociais sobre um caso de negligência médica no atendimento ao seu filho, de apenas dois meses, no Centro Materno Infantil (Cemai) de Santa Cruz do Sul, gerou grande repercussão na cidade nesta semana. Conforme Patricia Konzen, o bebê precisou de atendimento após apresentar problemas de saúde na última sexta-feira, 6.
Segundo ela relatou ao Portal Gaz, o primeiro pedido de atendimento foi feito no Cemai onde, durante consulta médica, houve a suspeita de bronquiolite. No entanto, a profissional não confirmou o diagnóstico e não emitiu nenhum laudo por escrito. “Apenas foi prescrito realizar lavagem nasal com soro”, contou Patricia.
No sábado, 7, o quadro do bebê piorou. Novamente, a mãe buscou atendimento, mas foi orientada por outra médica, mais uma vez, a apenas fazer lavagem nasal. “Nos mandou de volta para casa, sem diagnóstico”, lamentou. A situação se agravou na madrugada de segunda-feira, 9, quando Patricia procurou a Unidade Básica de Saúde (UBS) Bom Jesus. “No local, a enfermeira disse que ele não tinha nada e orientou a continuar com a lavagem nasal”, relata.
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Ainda na segunda-feira, ao retornar ao posto de saúde durante a tarde, uma nova médica avaliou a criança e emitiu um encaminhamento com três hipóteses diagnósticas e a recomendação de internação. “Ela detalhou o estado clínico dele com os termos técnicos corretos. Mas, ao chegar no Cemai com esse documento, o pedido foi ignorado”, contou Patricia.
No local, segundo a mãe, a mesma médica que havia feito o primeiro atendimento voltou a negar a gravidade do caso. “Parecia que precisávamos convencer os médicos de que a criança estava doente. Ela disse, novamente, que ele não tinha nada. Me recusei a voltar para casa só com lavagem nasal, porque ele já apresentava dificuldade para respirar, rouquidão e estava muito debilitado.”
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A profissional solicitou um exame de raio-x. Após o exame, disse que estava tudo normal e voltou a recomendar apenas a lavagem nasal com soro fisiológico. “Voltei para casa indignada”, desabafou Patricia. Mesmo com novos pedidos de internação, não houve acolhimento. Em seguida, ela buscou atendimento no Hospitalzinho. “Lá, uma médica diagnosticou laringite, aplicou injeção, administrou medicamento na veia e fez inalação com adrenalina. As enfermeiras estavam muito preocupadas com o quadro dele. No dia seguinte, retornei para conferir a saturação.”
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Na sequência, Patricia procurou atendimento no Hospital Ana Nery (HAN), onde o médico recomendou internação imediata. “Fomos para o Cemai novamente, pois infelizmente eu não tenho condições financeiras para custear uma internação particular. Expliquei que tinha pagado uma consulta e que meu filho precisava ser internado, mas ignoraram completamente o encaminhamento.”
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Mesmo com insistência e novos pedidos feitos à equipe do Cemai, não houve retorno. Na noite de terça-feira, 10, ao perceber que o filho não se alimentava, Patricia o levou ao Hospital Santa Cruz (HSC), por volta da meia-noite. Segundo ela, o leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) só foi garantido por intervenção de vereadores.
Ela destaca que o bebê foi diagnosticado com asma, o que agravou rapidamente seu quadro clínico. “Se não fosse minha insistência, os protestos da minha família, a mobilização nas redes sociais e a ajuda dos vereadores, talvez ele nem estivesse vivo hoje. É muito triste uma mãe ser tratada como exagerada. Que os profissionais da saúde, principalmente no atendimento a bebês, pequem pelo excesso de cuidado, não por negligência”, desabafou.
Atualmente, a mãe informa que o bebê está internado em um leito de UTI no Hospital Santa Cruz, recebendo o tratamento e os cuidados necessários.
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O que diz a Secretaria de Saúde
Procurada pela reportagem do portal GAZ, a Secretaria de Saúde de Santa Cruz do Sul informou, por meio de nota, que recebeu a manifestação da mãe por meio da Ouvidoria da pasta, além de diversos contatos de familiares e amigos. A secretaria afirma que está tratando o caso com “a devida seriedade e atenção”, em contato direto com os pais da criança.
Sobre o caso, a pasta lamenta as dificuldades enfrentadas pela família e se solidariza com a angústia causada pelo agravamento do quadro clínico do bebê. Informa, ainda, que os atendimentos realizados no Cemai, nas Estratégias de Saúde da Família (ESFs) e unidades hospitalares estão sendo apurados tecnicamente, com base nos prontuários, encaminhamentos e condutas dos profissionais envolvidos.
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A secretaria reforça seu compromisso com um atendimento adequado, humanizado e em tempo oportuno, principalmente em casos pediátricos. “Em crianças pequenas, síndromes respiratórias como a bronquiolite podem evoluir rapidamente e de forma imprevisível, exigindo reavaliações frequentes”, diz a nota.
Profissional é afastada
Sobre a médica que atendeu o bebê, a Secretaria de Saúde informou que está analisando os atendimentos com base nos documentos e prontuários. Caso sejam confirmadas falhas, serão adotadas medidas conforme a legislação, podendo incluir desde capacitações até sanções disciplinares. Inicialmente, uma das profissionais foi afastada preventivamente, tanto para preservar a própria médica quanto para garantir a apuração dos fatos.
Saiba mais
A Secretaria Municipal de Saúde mantém contrato com empresa especializada na prestação de serviços médicos por hora, em regime de plantão presencial. O atendimento no Cemai é 24 horas por dia, com dois médicos atuando simultaneamente – sendo um pediatra e outro com experiência mínima de seis meses em pediatria. Entre 17 horas e 22 horas, período de maior demanda, um terceiro médico reforça a equipe.
Manifestação
Na tarde desta sexta-feira, 13, às 17h30, uma manifestação em frente ao Cemai deve ser realizada com o objetivo de cobrar melhorias no atendimento prestado no local.