Quando visitamos um lugar lindo, em geral carimbamos a frase: quero voltar aqui. O mesmo vale para a leitura de um livro marcante, prometemos voltar a ele porque se impõe mais um encontro. Como há quase infinita quantidade de obras para ler, normalmente optamos por avançar, lendo o que ainda não tínhamos lido. No entanto, algumas tentações se apresentam, nos provocam, nos desafiam e acabamos não resistindo, eventualmente por razões profissionais, mas principalmente pelos apelos do coração. Esta é então uma visita de lembranças, cortesia e gratidão que faço a mim mesmo.
Há poucos meses, li Deus na escuridão, romance do escritor contemporâneo português Valter Hugo Mãe, e o surpreendente me aconteceu: assim que concluí a leitura, pulei para a primeira página e li tudo de novo, como se aquela história tivesse me enfeitiçado, me aprisionado na Ilha da Madeira, onde a obra se aquerencia. Está escrito na orelha do livro que o romance explora a ideia de que o amor é sempre um sentimento que se exerce na escuridão. A dúvida está em saber se irmãos podem amar como as mães que, por sua vez, amam como Deus.
Com muitos romances, ou obras de gêneros diferentes, a cena se repete. Chegados ao fim, que tantas vezes não desejamos, já surge o desejo do reencontro, da releitura. Em escassas oportunidades fazemos isso, embora persista em nossos projetos a vontade de voltar a esses universos mágicos que a literatura propicia. Há produções tão magníficas, que permanecem imortais, portanto sempre propiciando o encanto de voltar a viver naquele espaço e usufruir a companhia de suas personagens.
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Divido com os leitores o nome de obras que já reli, alguma delas várias vezes. Comecemos pelas mais próximas. Das tantas produções de Érico Veríssimo, O tempo e o vento enlaça o leitor, com personagens inesquecíveis, como Rodrigo Cambará, as poderosas Ana Terra e Bibiana, enfim, centenas de outras que pintam o pano de fundo da história e da alma rio-grandenses. Há inúmeras mais, mas fiquemos com Os varões assinalados, de Tabajara Ruas, e A casa das sete mulheres, de Letícia Wierzchowski. Os contos de Simões Lopes Neto e Sérgio Faraco não resistem a uma releitura.
Saindo do espaço gaúcho, aponto Machado de Assis, com seus consagrados Dom Casmurro e Memórias póstumas de Brás Cubas, e seus contos de conteúdo perene e irretocável. Entre meus favoritos está Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, obra de densas reflexões. Os contos de Guimarães são igualmente valiosos. Ainda da literatura brasileira destaco Graciliano Ramos, com seu São Bernardo, Milton Hatoum, com Cinzas do Norte e Dois irmãos, a poesia de Drummond, Cecília Meireles, Manuel Bandeira, as crônicas de Rubem Braga e Fernando Sabino, Jorge Amado, com seus Capitães da areia, obra de 1937, consagrada por milhões de leitores de todo o mundo, agora posta no índex por uma vereadora de Santa Catarina, porque seria “uma tentativa política da esquerda de marginalizar as crianças”. Registro com alegria um louvor a quem lê tanto e tão profundamente como essa jovem parlamentar.
Entre os estrangeiros, Gabriel García Márquez, com Cem anos de solidão; John Steinbeck, com As vinhas da ira; Mia Couto, com Terra sonâmbula; Dostoiévski, com Crime e castigo; Tolstoi, com Ana Karênina (“A luta pela vida e o ódio são as únicas coisas que unem os homens”), além de milhares de clássicos e contemporâneos por este mundo afora.
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