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SAÚDE

Santa Cruz vira referência no combate ao câncer de colo de útero

Foto: Banco de Imagens

Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou guerra ao câncer de colo de útero como um problema de saúde pública. Somente no Brasil, a estimativa é de que 17.010 novos casos foram registrados em 2022, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Um ano antes, houve 6.606 mortes.

Entre os estados brasileiros, o Rio Grande do Sul é considerado o quarto com maior número de ocorrências. Para 2023, as projeções do Inca eram de 620 novos casos no Estado. Contudo, a quantidade de confirmações superou as expectativas, chegando a 1.420.

Por se tratar de um câncer associado ao papilomavírus humano (HPV), as evidências científicas deixam claro que é possível erradicar a doença por meio da imunização. No Brasil, a vacina contra o HPV, distribuída gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), proporciona um aumento de 70% na proteção contra o câncer de colo de útero.

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Foi nesse contexto que uma ginecologista de Santa Cruz do Sul decidiu transformar o município no marco zero da batalha contra o câncer no Rio Grande do Sul. Sua iniciativa resultou em um programa inédito no País, que está disponível a todos os municípios  do Estado.

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Nos 18 anos em que atuou no Centro Materno Infantil (Cemai), a médica ginecologista Denise Müller, presidente da Associação de Prevenção do Câncer de Colo Uterino (Apcolu), testemunhou muitas jovens perderem a luta contra a doença. Um dia, o marido de uma paciente a abordou para pedir ajuda. “O que eu vou fazer? Eu não posso ficar sem ela”, desabafou o homem. 

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Tempos depois, a mulher de 32 anos, mãe de duas filhas, veio a falecer de câncer. Seria a última paciente de Denise no Cemai. “Eu vi a mesma cena inúmeras vezes. E ela reflete bem a realidade do câncer no mundo. Das 650 mil pessoas diagnosticadas por ano, 350 mil vão morrer, deixando em torno de 180 mil órfãos.”

Eis que durante um congresso de Medicina no Rio de Janeiro, em julho de 2019, foi muito falado o papel da vacina contra o Vírus Papiloma Humano (HPV), disponível no SUS, para a redução do câncer de colo de útero. “Voltei de lá com essa informação. Ninguém sabia disso e eu precisava contar às pessoas. Não podemos deixar mais ninguém morrer por essa doença”, afirma Denise. Segundo ela, são investidos anualmente US$ 18 bilhões em todo o mundo em uma doença que pode ser erradicada por meio da vacinação. A inquietação diante de tais fatos motivou a médica a realizar palestras sobre o tema nas escolas, mas em determinado momento, achou que era “energia e tempo perdidos”.

Denise encontrou a saída na legislação já existente sobre a revisão da carteira de vacinação. Para ela, apesar das falhas de execução da lei, a solução estava ali. “Foi aí que cheguei à conclusão de que precisava chegar ao governo do Estado para pedir a regulamentação da lei.”

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Na época, os municípios do Vale do Rio Pardo apresentavam baixos índices de vacinação contra o HPV. Assim, o Ministério Público, em trabalho conjunto com a Apcolu para incentivar a imunização, convidou as secretarias de Saúde e de Educação de Santa Cruz, Gramado Xavier, Passo do Sobrado, Herveiras e Sinimbu para um projeto de conscientização e atualização sobre o assunto.

A mobilização, conforme Denise, resultou em um aumento de 250% a 400% no índice da cobertura vacinal em 60 dias. Os resultados chamaram a atenção do deputado estadual Edivilson Brum, que se colocou à disposição. Ele agendou uma audiência entre a médica e o governador Eduardo Leite, na qual teve a oportunidade de apresentar uma proposta. A ideia era criar uma ferramenta digital para auxiliar as escolas na revisão da carteira de vacinação e ajudar as famílias na lembrança da atualização das vacinas em atraso.

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Nascia o Imuniza Escola, que mais tarde viria a ser implementado em todo o Estado por meio de uma parceria entre as secretarias estaduais da Educação e da Saúde. “As escolas recebem as informações e repassam às famílias, para cumprir seu papel no cuidado com a criança e o adolescente”, destaca Denise.

Em Santa Cruz, vacinação foi disponibilizada nas escolas | Foto: Rodrigo Assmann

Para ela, o Imuniza Escola é um filho compartilhado. “Apesar de ter pensado na proposta da ferramenta digital, sua concretização só foi possível pelo entendimento do governo do Estado sobre a relevância do assunto, bem como a viabilidade da ação, dando seguimento ao trabalho que foi desenvolvido pelas secretarias da Saúde e da Educação e equipes de TI do Estado”.

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Na sua avaliação, o projeto tem a possibilidade de fazer a diferença na luta contra o câncer de colo de útero. “Eu tenho muito orgulho de ter começado todo esse movimento no Rio Grande do Sul. Porque é um problema de nível mundial. O mundo está gritando sobre o tema. Entre os países da América Latina, é considerado calamidade pública. Temos que abraçar essa causa.”

Educação assume protagonismo

Ciente da relevância da educação na guerra contra o câncer de colo de útero, a médica Denise Müller transformou a rede escolar na sua aliada. Assim, na liderança da Apcolu, passou a visitar as instituições de ensino estaduais de Santa Cruz do Sul, com a missão de municiar a comunidade escolar com informações sobre a doença e a importância da imunização. “Nosso grande desafio é a educação. Ela é um pilar fundamental e entendeu o seu papel”, afirma Denise.

Nessa jornada, a associação recebeu o apoio da Câmara de Vereadores e da Secretaria Municipal de Saúde para uma ação inédita, no intuito de aumentar a cobertura da vacinação. Pais de alunos de 9 a 14 anos das escolas públicas e privadas de Santa Cruz receberam cartas lembrando que os filhos estavam na idade de fazer a imunização. 

Na avaliação da promotora da Infância e Juventude, Danieli de Cassia Coelho, o resultado da iniciativa foi fantástico. Segundo ela, o Ministério Público acompanha a atuação da médica e considera que ela conseguiu sensibilizar o Poder Legislativo e os gestores. “Agora percebe-se que virou um compromisso municipal, com o suporte das secretarias de Educação e de Desenvolvimento Social, por meio da mobilização das direções das escolas e da veiculação de campanhas informativas, como, agora, a polonese da vacina. Além da sensibilização de mentes e corações, houve o incremento real no número de adolescentes vacinados.”

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Outro projeto-piloto da Apcolu, em parceria com o Município, levou profissionais da saúde para dentro das escolas, garantindo acesso à vacinação. Também houve um momento de diálogo com os pais dos alunos e diretores para evidenciar a importância da vacina. “Entendemos que a escola precisa de ajuda na conscientização dos alunos, porque a maioria dos adolescentes – e, às vezes, a própria direção da escola – não sabe que a vacina contra o HPV previne câncer”, salienta Denise.

O papel das famílias na erradicação

Apesar das evidências científicas comprovarem a eficácia da vacina contra o HPV na prevenção de seis tipos de câncer, há um preconceito em relação à prevenção. De acordo com a presidente da Apcolu, é comum os comentários que relacionam o imunizante e a sexualidade. 

Contudo, a ginecologista reitera que os pais precisam entender que a vacinação é o momento de cuidar da saúde dos filhos. “Essa é nossa responsabilidade como pais. Nós ensinamos valores morais e de educação. Precisamos entender que, independente da nossa vontade, haverá um momento em que eles escolherão seus relacionamentos, constituirão suas famílias e o importante é que tenhamos protegido a saúde deles, caso tenham contato com o vírus no futuro. “

Denise Müller justificou ainda que a vacinação contra o HPV não está definindo a idade com que os jovens vão se relacionar. “Estamos falando de prevenção de câncer. E quanto mais cedo aplicar o imunizante, mais proteção eles vão ter. Quando eu estou escolhendo não proteger meu filho, estou escolhendo correr o risco de ver ele adoecer por um dos cânceres que a vacina previne no futuro”, alertou.

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O papel das famílias na erradicação

Apesar das evidências científicas comprovarem a eficácia da vacina contra o HPV na prevenção de seis tipos de câncer, há um preconceito em relação à prevenção. De acordo com a presidente da Apcolu, é comum os comentários que relacionam o imunizante e a sexualidade. 

Contudo, a ginecologista reitera que os pais precisam entender que a vacinação é o momento de cuidar da saúde dos filhos. “Essa é nossa responsabilidade como pais. Nós ensinamos valores morais e de educação. Precisamos entender que, independente da nossa vontade, haverá um momento em que eles escolherão seus relacionamentos, constituirão suas famílias e o importante é que tenhamos protegido a saúde deles, caso tenham contato com o vírus no futuro. “

Denise Müller justificou ainda que a vacinação contra o HPV não está definindo a idade com que os jovens vão se relacionar. “Estamos falando de prevenção de câncer. E quanto mais cedo aplicar o imunizante, mais proteção eles vão ter. Quando eu estou escolhendo não proteger meu filho, estou escolhendo correr o risco de ver ele adoecer por um dos cânceres que a vacina previne no futuro”, alertou.

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Ministério Público vira aliado

Em setembro de 2022, a Associação de Prevenção do Câncer de Colo do Útero passou a contar com um importante aliado na guerra contra a doença. O Ministério Público, por meio do promotor Érico Barin, firmou parceria com a Apcolu para desenvolver um projeto para cobrar os órgãos públicos acerca da obrigatoriedade de apresentação da carteira de vacinação no ato da matrícula ou rematrícula nas escolas das redes pública e privada.

Com isso, as secretarias de Saúde dos municípios da área de abrangência da Comarca de Santa Cruz do Sul foram orientadas a adotar medidas para cumprir a legislação, tanto na fiscalização quanto na obrigatoriedade de apresentar a caderneta para a matrícula. Segundo Barin, nos casos de ausência ou esquecimento do documento, a escola deveria orientar os pais a comparecerem no posto de saúde para aplicação da vacina ou ajuste na caderneta antes de concluir a matrícula.

A promotoria ainda atuou em atividades voltadas à conscientização sobre a vacina contra o HPV. Secretários de Saúde e Educação de Santa Cruz, Gramado Xavier, Passo do Sobrado, Herveiras e Sinimbu receberam instruções sobre o projeto no intuito de ampliar a imunização do público entre 9 e 14 anos para a prevenção de seis tipos de câncer.

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Barin ainda solicitou aos municípios que mapeiem os índices de vacinação de crianças e adolescentes, além de encaminhar às escolas estaduais e particulares de Santa Cruz uma cópia das legislações sobre o tema, informando-as sobre o projeto. E pediu que elas manifestassem plena adesão ou ponderação a respeito. “Com as respostas, percebeu-se que houve a completa adesão das escolas”, avalia Barin. Ressalta que o trabalho foi de várias mãos, desde a médica Denise Müller até as promotorias de Justiça de Santa Cruz.

A promotora da Infância e Juventude, Danieli de Cássia Coelho, que também atuou em parceria com a Apcolu, afirma que o Ministério Público defende, de maneira aguerrida, o direito à saúde das crianças e adolescentes e o pleno desenvolvimento sadio desse público. “Sabemos da eficácia dessa vacina na prevenção de diversos tipos de câncer. Além de ser gratuita, ela contribui enormemente para evitar a sobrecarga do SUS no futuro, tanto no que se refere ao custo das medicações quanto na ocupação de leitos”, observa Danieli.

Na sua avaliação, projetos como o Imuniza Escola e a atuação do Ministério Público servem para fomentar o esclarecimento da população não só em relação aos benefícios da vacina, mas também quanto à necessidade da observância pelos pais e sociedade de garantir o direito à saúde de seus filhos, sem que haja qualquer interferência de visões políticas.

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Cobertura vacinal 

Conforme os dados da Secretaria Estadual da Saúde, dos 170.137 alunos matriculados em escolas das redes estadual e municipal, 103.637 (60,91%) estão vacinados. Faltam 66.500 (39,09%).

Dos 6.618 alunos matriculados em escolas da área da 13a Coordenadoria Regional de Saúde (13a CRS), 4.647 (70,22%) estão imunizados. Ao todo, 1.971 (29,78%) não foram vacinados.

Em Santa Cruz do Sul, dos 3.877 alunos das redes estadual e municipal, 2.839 foram imunizados. A cobertura vacinal, de 73,23%, é superior à do Estado. Há 1.038 alunos não vacinados, uma taxa de 26,77%.

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