A Câmara dos Deputados aprovou na madrugada desta quinta-feira, 17, o projeto de lei que estabelece um novo marco para o licenciamento ambiental no Brasil. A proposta, que tramitava desde 2004, teve 267 votos favoráveis e 116 contrários no texto-base, enquanto a redação final passou com 231 a 87. Agora, o texto segue para sanção presidencial.
O projeto flexibiliza exigências para licenciamento de empreendimentos e cria novas categorias de licença, como a Licença Ambiental Especial (LAE), a Licença por Adesão e Compromisso (LAC) e a Licença Ambiental Única (LAU). Também permite que atividades agropecuárias e obras de saneamento sejam dispensadas da exigência, desde que atendam a critérios específicos.
LEIA TAMBÉM: Câmara dos Deputados aprova projeto que proíbe testes cosméticos em animais
Publicidade
Governo e oposição criticam proposta
A proposta enfrentou resistência dentro do próprio governo. O Ministério do Meio Ambiente se posicionou contra o texto, que foi apelidado por parlamentares aliados ao Planalto de “PL da Devastação”. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), orientou a bancada a votar contra a proposta e lamentou a falta de um acordo. “Lutei muito para que nós fizéssemos o diálogo e o debate e a votação fosse remetida para a primeira quinzena de agosto. Não foi possível. Também não entendo isso como sendo o fim do mundo. O Parlamento é democrático, mas eu devo informar que a posição do governo é contrária”, afirmou.
Já o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), declarou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve vetar a proposta. “Hoje foi um dia de vitórias. IOF, várias decisões importantes. Amanhã será um outro dia de vitória porque o Brasil não é isso”, declarou. “E aos senhores que disseram que nós iríamos entrar no STF, não. Vai ter o presidente Lula, e o presidente Lula com certeza vai vetar esse PL da devastação”.
LEIA TAMBÉM: Aprovado projeto para a securitização das dívidas de produtores rurais
Publicidade
Ibama aponta riscos na nova legislação
Presente na sessão, o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, alertou para cerca de 40 pontos problemáticos na proposta. Entre os mais críticos, destacou a possibilidade de licenciamento autodeclaratório, que, segundo ele, pode ser aplicado a 90% das atividades industriais no país. Agostinho ainda ressaltou que muitas barragens classificadas como de médio porte e impacto entrarão nessa nova categoria.
Presidente da Câmara defende diálogo
Após a votação, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que o relator do projeto, deputado Zé Vitor (PL-MG), buscou consenso com o governo e incorporou 70% das sugestões encaminhadas por ministérios como Agricultura, Minas e Energia, Transportes e Casa Civil. “Até o último momento, antes de trazermos a matéria ao plenário, nós buscamos negociar com o governo”, defendeu.
LEIA TAMBÉM: Presidente Lula veta aumento no número de deputados
Publicidade
Veja os principais pontos do projeto:
Mineração fora de disposições do Conama
O projeto aprovado na Câmara retira a prevalência das disposições do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) para os licenciamentos de atividades ou de empreendimentos minerários de grande porte e/ou de alto risco. Dessa forma, o setor passa a seguir o que está previsto na nova lei de licenciamento.
Cria a Licença Ambiental Especial (LAE)
Publicidade
Elaborada no Senado, a LAE constitui um procedimento monofásico para a obtenção de uma licença, ou seja, um rito único com todas as etapas e previsão de prioridade para a emissão de anuências necessárias ao licenciamento. A licença especial se dará para projetos previamente listados pelo Executivo. O processo deve respeitar o prazo de um ano. Na prática, a nova categoria servirá, por exemplo, para destravar a prospecção de petróleo pela Petrobras na Foz do Amazonas, bandeira do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e de boa parte da bancada da região Norte no Congresso.
LEIA TAMBÉM: Governo do Estado busca soluções para renegociação das dívidas de produtores rurais
Nacionaliza a Licença Ambiental por Compromisso (LAC)
Publicidade
Existente em alguns Estados, a Licença Ambiental por Adesão e Compromisso (LAC) permite que o solicitante encaminhe pela internet a documentação exigida em lei para a avaliação da atividade sob o parâmetro ambiental. A nova lei de licenciamento prevê que o LAC pode ocorrer se forem atendidas quando a atividade ou o empreendimento for de pequeno ou de médio porte e, simultaneamente, de baixo ou médio potencial poluidor.
Cria a Licença Ambiental Única (LAU)
O projeto cria a modalidade de licença que, em uma única etapa, atesta a viabilidade da instalação, da ampliação e da operação de atividade ou de empreendimento, aprova as ações de controle e monitoramento ambiental e estabelece condicionantes ambientais para a sua instalação e operação e, quando necessário, para a sua desativação.
Permite renovação automática de licença online
O texto permite a renovação automática da licença ambiental para a atividade ou de empreendimento caracterizado como de baixo ou médio potencial poluidor e pequeno ou médio porte. A licença poderá ser renovada por igual período, a partir de declaração eletrônica do empreendedor que atende o atendimento de algumas exigências: não tenham sido alterados o porte da atividade ou do empreendimento, nem as suas as características; não tenha sido alterada a legislação ambiental aplicável à atividade ou ao empreendimento; tenham sido cumpridas as condicionantes ambientais aplicáveis ou, se ainda em curso, estejam sendo cumpridas conforme o cronograma aprovado pela autoridade licenciadora.
LEIA TAMBÉM: Projeto de lei propõe a criação de fundo de apoio à juventude rural; entenda
Retira necessidade de licenciamento para atividades agropecuárias
O projeto estabelece que não estão sujeitos a licenciamento ambiental as atividades de: cultivo de espécies de interesse agrícola, temporárias, semiperenes e perenes; pecuária extensiva e semi-intensiva; pecuária intensiva de pequeno porte; pesquisa de natureza agropecuária, que não implique risco biológico e com autorização prévia de órgãos competentes. Para se livrarem do licenciamento, basta que o imóvel esteja regular com registro no Cadastro Ambiental Rural (CAR) ou tenha firmado termo de compromisso próprio para a regularização de déficit de vegetação em reserva legal ou em área de preservação permanente.
Dispensa licenciamento para obras de saneamento
O projeto dispensa do licenciamento ambiental as obras para os sistemas e as estações de tratamento de água e de esgoto sanitário, até o atingimento das metas de universalização da Lei do Saneamento Básico. Também prevê que a autoridade ambiental competente deve assegurar procedimentos simplificados e prioridade na análise para o licenciamento ambiental de projetos relacionados ao saneamento e à segurança energética nacional, desde que previstos e contratados no planejamento e nas políticas energéticas nacionais.
Institui prazos para órgãos ambientais efetuarem licenciamentos
O projeto prevê o prazo de 10 meses para a licença prévia mediante apresentação de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (Rima); seis meses para a licença prévia em projetos que têm previsão legal para apresentar estudo simplificado; três meses para Licença de Instalação (LI), Licença de Operação (LO), Licença por Adesão e Compromisso (LAC) e Licença de Operação Corretiva (LOC); e quatro meses para licenças pelo procedimento bifásico em que não se exija EIA. Além disso, prevê o prazo de 30 dias e prorrogação por 15 dias para que as autoridades envolvidas se manifestem sobre o Termo de Referência (TR), a partir do recebimento de solicitação da autoridade licenciadora.
LEIA TAMBÉM: Proposta que reduz benefícios fiscais é aprovada com urgência na Câmara dos Deputados
Aumenta pena para operação sem licença
O projeto estipula pena de seis meses a dois anos, ou multa, para quem construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais. Nas regras vigentes anteriormente, a pena prevista é de detenção de um a seis meses.
Derruba artigo sobre ações imediatas a desastres
O relator acatou uma emenda que derruba um artigo que previa que, em caso de situação de emergência ou de estado de calamidade pública, ações de resposta imediata ao desastre poderiam ser executadas independentemente de licenciamento ambiental.
QUER RECEBER NOTÍCIAS DE SANTA CRUZ DO SUL E REGIÃO NO SEU CELULAR? ENTRE NO NOSSO NOVO CANAL DO WHATSAPP CLICANDO AQUI 📲. AINDA NÃO É ASSINANTE GAZETA? CLIQUE AQUI E FAÇA AGORA!