A 35ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul inicia-se na próxima sexta-feira, dia 1º de agosto, mas na região e bem além dela muita gente já se movimenta a fim de marcar presença nesse evento. A expectativa e a ansiedade são particularmente grandes entre os livreiros, afinal de contas personagens protagonistas em um encontro voltado à celebração da leitura e à comercialização de obras.
Entre eles, poucos têm identificação tão intensa com os dias de feira na Praça Getúlio Vargas, na área central da cidade, como Abel Perez, proprietário da livraria Estação Cultura, que tem sua sede na Rua General Câmara, a popular “Rua da Ladeira”, no centro histórico de Porto Alegre. Aos 54 anos, esse gaúcho natural de Tapejara e desde a juventude radicado na capital participa do evento literário em Santa Cruz há cerca de duas décadas.
Foi por volta de 2005 que Perez, até então vinculado a atividade profissional em um shopping, foi convidado por um amigo, vendedor de assinaturas de revista, a visitar um evento literário em Passo Fundo. A partir desse primeiro contato com o universo livreiro, entusiasmou-se e decidiu implantar a Estação Cultura, no último domicílio da General Câmara, no alto, à direita. É um local estratégico, pois se situa próximo à Praça Marechal Deodoro, a Praça da Matriz, nas cercanias do Palácio Piratini e do prédio da Assembleia Legislativa, e vizinho de muitos pontos turísticos, como o Theatro São Pedro e a Biblioteca Pública, situada a metros, na calçada oposta da mesma via.
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Perez dispõe de seis a sete mil exemplares no acervo, com alta rotatividade. Cerca de 2 mil trará à feira de Santa Cruz, na qual é figura conhecida. “Gosto de ir a Santa Cruz, pois nessa cidade as pessoas valorizam o livro e a leitura”, diz. No ano passado, esteve entre o grupo de livreiros que ficou literalmente ilhado em virtude das fortes chuvas e da enchente, no começo de maio. Quando o evento foi cancelado pelos organizadores, diante da persistência do mau tempo, ele teve de permanecer na cidade por dias a mais, até mesmo para cuidar dos livros, que ficaram trancados dentro da banca, fechada, na praça. Agora, comemora o fato de essa edição ocorrer em dois finais de semana. “Isso é muito bom, porque é no sábado e no domingo que mais se vende”, frisa.
Feira em meio à enchente fica para a história
Por conta da enchente de abril e maio do ano passado, que deixou um saldo de prejuízos, de estragos (muitos deles ainda não reparados) e de vidas perdidas, a 35ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul vivenciou uma situação que também entra para a história, e que assume ares de uma ficção distópica. Essa 35a edição teria sido efetivada na íntegra em 2024. Só que não. Acabou por ser uma espécie de “não feira”, cancelada em plena realização.
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O resultado é que a programação foi suspensa, e com isso os livreiros ficaram à deriva, com seus acervos trancados dentro de bancas fechadas na Praça Getúlio Vargas, sem a possibilidade de oferecê-los aos visitantes, que nem puderam ir até o local. Entre os livreiros que permaneceram por vários dias no centro de Santa Cruz, à espera de que as chuvas amainassem e fossem restabelecidas as condições de acesso e tráfego para que retornassem a suas cidades de origem, esteve o proprietário da Estação Cultura, Abel Perez. Tão logo as águas começaram a provocar os primeiros estragos mais assustadores na região, a exemplo da elevação do curso do Rio Pardinho, em Sinimbu, estabeleceu-se a convicção de que a feira não teria como continuar.
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No dia 1º de maio de 2024, uma quarta-feira, o jornalista Julian Kober, da Gazeta do Sul, visitou a praça e constatou que várias das bancas seguiam abertas, à espera de algum raro cliente que se aventurava em meio à água, a essa altura já se acumulando na praça. Por volta do meio-dia, naquele 1º de maio, feriado de Dia do Trabalho, 12 das 18 bancas ainda estavam abertas.
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Mas já no dia seguinte, 2 de maio, quinta-feira, ficou evidente para os organizadores que se impunha o cancelamento, até mesmo como forma de preservar a integridade dos próprios livreiros, muitos deles sozinhos na cidade, distantes e isolados de suas regiões e famílias. Mas isso não significa que eles puderam retornar para seus lares. No sábado, dia 5, o jornalista Marcio Souza, da Gazeta do Sul, esteve na praça pela manhã, por volta das 10 horas. Ali, encontrou um grupo de cinco pessoas aguardando, com paciência e resiliência, a hora de poder efetivamente seguir viagem.
Os irmãos Sérgio Renato e Paulo Roberto Medeiros, o primeiro de Santa Maria; bem como Ademar Martins dos Santos, de Porto Alegre; Luiz Antônio Cechinato, de Canela; e Lúcio Ricardo Brum Dávila, que viera com Sérgio para conhecer o município e a estrutura, miravam a chuva que não parava de cair. “Nunca vivi algo assim”, disse Sérgio, que participa da feira na cidade há uma década.
Convite irrecusável à leitura
Há vários anos, o livreiro Juan Beyer Schenkel, 35 anos, e sua esposa Leona, proprietários do Sebo Café Riachuelo, em Porto Alegre, têm um compromisso fixado na agenda: estar na Feira do Livro de Santa Cruz do Sul. E neste ano não é diferente: ele já está com a estrutura pronta a fim de na próxima sexta-feira, dia 1o, ficar a postos para recepcionar o público em banca na Praça Getúlio Vargas. Na bagagem, trará cerca de 3 mil volumes, nos mais variados gêneros, com ênfase em História, uma das especialidades de seu estabelecimento, bem como obras de literatura em geral.
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Conforme Schenkel, a amplitude e a diversidade da programação da Feira do Livro de Santa Cruz foram uma grata e agradável surpresa para o casal. Em algumas das edições vinham ambos a fim de atender a clientela, mas neste ano Leona ficará encarregada de cuidar do ambiente doméstico, enquanto ele se valerá de ajudantes nos finais de semana, quando o fluxo de pessoas aumenta na praça. Em 2024, ele viera na companhia de um funcionário, que era natural da Bahia e chegava a Santa Cruz pela primeira vez: ficaram ambos ilhados na cidade em razão da enchente, uma experiência inesquecível.
Juan é natural de São Borja, enquanto Leona nasceu em Roque Gonzales. Por um tempo, administraram um bar na Rua Riachuelo, centro histórico da capital gaúcha. Foi a partir de conversas com um vizinho, Peter Dullius, proprietário do Beco dos Livros, com três lojas, uma delas situada bem ao lado na mesma Riachuelo, que a ideia de investir nesse nicho se apresentou.
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O próprio Peter contribuiu com estoques de suas lojas, repassando a Schenkel e a Leona em torno de 6 mil exemplares para que pudessem iniciar as operações. Assim, em 2013, puderam efetivar o Sebo Café Riachuelo. Já com a marca firmada e consolidada na capital, onde de pronto passaram a participar da Feira do Livro, na Praça da Alfândega, também miraram eventos no interior. Foram à praia do Cassino, no Sul do Estado, e marcam presença em Caxias do Sul. E então chegaram a Santa Cruz, que logo lhes impressionou positivamente. “É uma feira muito agradável, porque o pessoal aí realmente investe em bons livros”, salienta.
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Em Porto Alegre, no cotidiano, o incentivo e a parceria com Dullius deram tão certo, numa harmônica convivência de vizinhos que se informam e se auxiliam, que em 2023, quando se completava uma década de atuação no mundo livreiro, Juan e Leona abriram uma segunda loja. Ela foi instalada na Rua dos Andradas, a metros da Casa de Cultura Mario Quintana, do mesmo lado da via, e exatamente na frente de uma das filiais do Beco dos Livros, no qual Peter atende diariamente, inclusive aos sábados e aos domingos. Inspirado nele, o Sebo Café Riachuelo também atende aos fins de semana, quando acolhe ampla clientela.
Estrutura na praça já está praticamente montada
A 35ª Feira do Livro e a 1a Festa Literária Internacional de Santa Cruz já tomam forma na Praça Getúlio Vargas. A abertura ocorrerá na sexta-feira, dia 1o, mas quem circula pela área central da cidade já testemunha a expectativa que toma conta do público. Como informa a agente de Programas Sociais do Sesc de Santa Cruz do Sul, Lisiane Camargo, responsável pela coordenação do evento literário, a estrutura está montada para receber 19 livreiros. Até a edição de 2024 eram 18, mas nesta agrega-se mais um, local.
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Desse modo, os pontos de venda na praça serão os seguintes: Estação Cultura, de Porto Alegre; Colorê, de Vera Cruz; Martins, de Porto Alegre; A Magia da Leitura, de Porto Alegre; Pró-Cultura, de Canela; Terceiro Mundo, de Porto Alegre; Panorama, de Capão da Canoa; Nômades, de Capão da Canoa; Noble Book, de São Leopoldo; Santa Rita, de Santa Maria; Nascente, de Cachoeira do Sul; Nova Roma, de Porto Alegre; JLB Livros, de Santa Cruz do Sul; Sebo Café Riachuelo, de Porto Alegre; APP
Apolo, de Bento Gonçalves; Paulo de Tarso, de Santa Cruz; Santa Catarina, de Balneário Rincão (SC); Multilog, de Santa Cruz; e Recanto das Letras, de Porto Alegre.
Gazeta faz cobertura intensa de todas as edições
Pela identificação natural com a temática da leitura e do estímulo à formação de novos leitores, condição incontornável para o exercício da plena cidadania e para que a educação possa alcançar índices cada vez melhores, a Gazeta do Sul sempre empenhou seu máximo apoio em favor da Feira do Livro. Tanto a de Santa Cruz do Sul quanto a de outras cidades da região, além dos eventos organizados por escolas, entidades e instituições.
Ao longo das 34 edições da feira realizadas até agora, a Gazeta do Sul divulgou em suas páginas a programação completa e realizou a cobertura diária das atividades. Também deu espaço para que escritores, em especial patronos e homenageados, pudessem expressar suas opiniões e divulgar suas obras.
Esse esforço tornou-se mais saliente quando autores de expressão estadual, nacional e internacional chegaram à cidade, a exemplo de expoentes como o baiano João Ubaldo Ribeiro, o amazonense Thiago de Mello, o mineiro Affonso Romano de Sant’Anna e o chileno Antonio Skármeta, entre tantos outros. Dezenas, talvez centenas de autores tiveram suas produções salientadas nas páginas da Gazeta. E assim novamente acontecerá na edição de 2025, na qual todas as plataformas (jornal, Portal Gaz, rádios e redes sociais) se envolverão na cobertura.
Realização
A 35ª Feira do Livro e a 1ª Festa Literária Internacional de Santa Cruz do Sul são uma realização de Serviço Social do Comércio (Sesc) e Prefeitura de Santa Cruz do Sul, com patrocínio de Corsan e apoio cultural de Foconet, Unisc, Sindilojas VRP e Associação Pró-Cultura de Santa Cruz do Sul.
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