O escritor argentino Alberto Manguel criou uma imagem expressiva para falar a respeito de obras literárias. Em um dos ensaios de Os livros e os dias, publicado em 2004, ele escreve: “…cada livro existe numa condição análoga ao sonho até que as mãos que o abrem e os olhos que o percorrem agitam as palavras e as despertam.”
Um livro fechado numa prateleira não é nada, mas basta abri-lo para, eventualmente, entrar em outro universo. O exemplar pode estar ali parado durante anos, acumulando poeira e traças, até que alguém decida conhecê-lo. E depois, então, irá pensar: “Por que eu demorei tanto para ler?”. Acontece muito.
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Sim, isso pode até parecer tolo para quem nunca se interessou por literatura, quem se orgulha de ser uma pessoa “prática” e sem tempo a perder com disparates do gênero. No entanto, muito do que hoje se diz “real” teve uma origem literária. Impressão 3D, robôs, reconhecimento facial, biometria e outros avanços tecnológicos haviam sido imaginados por autores de ficção científica (“coisa de criança”, segundo alguns) ainda no século passado. Assim como: piloto automático. Telefones sem fio. Drones.
Como diz a autora canadense Nancy Huston, em seu livro A espécie fabuladora: “Portanto, não existe fronteira estanque entre ‘vida verdadeira’ e ficção; uma alimenta a outra e dela se alimenta.”
As civilizações se reúnem em torno de religiões, das quais boa parte se estruturou a partir de um livro. Cristianismo, judaísmo, islamismo: na raiz de todas elas, narrativas, parábolas e lições que foram coligidas em extensos volumes sagrados.
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O fato é que, se livros fossem dispensáveis, eles simplesmente não existiriam. Assim, nada está mais longe do mundo concreto do que tratá-los como supérfluos. Os bombeiros da ficção científica Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, representantes de uma distopia totalitária, não queimam obras literárias porque são inofensivas. Queimam porque as consideram perigosas, capazes de despertar ideias e comportamentos que fogem do controle do poder.
E, sim, também há livros que estão na origem do poder.
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Tudo isso para dizer que hoje tem início, em Santa Cruz do Sul, mais uma Feira do Livro na Praça Getúlio Vargas. Oportunidade para talvez encontrar uma obra que surpreenda, por um preço também surpreendente (no bom sentido).
Abra livros. Abra o mundo.
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