EU JÁ SABIA ESCREVER, ou ao menos copiar, quando a professora pediu que trouxéssemos, no caderno, os nomes de nossos avós. Na aula seguinte, fui chamada para ler os nomes dos avós paternos, Clarinda Fischer dos Santos e Dom Nazeazeno de los Santos. A professora, depois de ouvir, perguntou:
– Dom Nazeazeno? Teu avô é um rei? Um bispo?
– Não sei, ele morreu antes de eu nascer. Vou perguntar ao meu pai.
Em casa, riram da pergunta e, em seguida, papai me disse que era Dom porque o vô era uruguaio e, naquele país, os nomes eram ditos assim mesmo: Don, para los hombres, y Dueña, para las mujeres. Em sinal de respeito. Hoje, pesquisando, sei que Nazeazeno tem origem hebraica e significa “o que nasceu em Nazaré”. Se a mestra soubesse disso, perguntaria, também, se meu avô era Deus. Todos riram de mim, naquela manhã. Penso ser nesse dia que me tornei tímida e medrosa. Ainda hoje fico vermelha por qualquer situação fora da segurança de uma boa rotina.
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Meu pai sabia explicar qualquer palavra ou acontecimento fora do comum. Quando não sabia, tinha um livro chamado Dicionário, que não era a Bíblia, mas até parecia.
Minha mãe quase não ia à minha escola. Era muito doente. Mas quando eu tinha que me apresentar e era preciso uma roupa especial, ela era chamada e ia. Uma vez fui destacada para representar uma fada, num teatrinho. Fizeram um vestido azul, de papel crepom, com estrelas de prata aplicadas. Também um chapéu com estrela na ponta e uma varinha de condão.
Ensaiei sozinha, ensaiei com meus colegas, estava tudo na ponta da língua. Quando faltava um dia para a apresentação, adoeci. Febre alta, vômitos e pernas frouxas. Outra menina fez o papel de fada. Assim que melhorei, minha mãe, que tinha mandado trazer o vestido e os acessórios, me fotografou toda vestida de fada e com minhas bonecas, umas dez, ao meu redor. Tenho essa foto. Mostrei aos meus netos, quando pequenos, e pensei que fossem acreditar no meu passado de fada.
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– Vó, isso é uma fantasia de fada!
– Foi no Carnaval?
* * *
QUERIDOS CONTERRÂNEOS, vou pedir ajuda para saber notícias de antepassados e encontrar parentes. Um leitor me perguntou sobre a família Eick. Pouco sei dessa parte da família e gostarei de saber mais, muito mais. O pai de minha avó Irene chamava-se Huberto (ou Hubertus) Eick. Dizem que fazia bolos muito bonitos, mas não sei se era confeiteiro de profissão. Não o conheci. Sobre a mãe da vó, visitei-a uma vez no Hospital, que era onde vivia, por ser muito velhinha. Eu devia ter uns sete anos e esqueci, ou nunca ouvi, o nome dela. Era apenas a Omama. As mulheres eram conhecidas por sua função na vida. De resto, invisibilizadas.
Vó Irene tinha uma irmã, Lucy, que vivia na Capital, outra que faleceu muito cedo, Valesca, e dois irmãos, Gerty (?), que se casou, tarde, com uma de Porto Alegre, e outro, não sei o nome, que era casado com Lúcia, que enviuvou muito cedo e foi a segunda esposa do vô Fritz. Era uma querida. Então, caro Geraldo, devemos ser muito parentes.
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Escrevam-me.
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