Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

ELENOR SCHNEIDER

Para compreender e amar o Rio Grande

Setembro, no Rio Grande do Sul, tem cheiro farroupilha. Mesmo antes do 7 de Setembro, a fumaça já sobe dos acampamentos e atiça ainda mais o declarado amor à pátria gaúcha. As gaitas enchem o ar com sonoros acordes, os violões, os bumbos, as vozes, principalmente as vozes, exaltam a glória passada, perscrutam a realidade presente, renovam a esperança, ou quase certeza, de um futuro que haverá de ser melhor. Sobressai, neste tempo, a celebração, resumida sob o nome de festejos farroupilhas.

Há poucos dias proferi uma palestra a um seleto público falando sobre as origens da literatura gaúcha. Durante a exposição, citei vários autores e obras da literatura aqui produzida, o que despertou interesse e me foi sugerida uma coluna apontando textos importantes para o entendimento de nossa alma, de nossa cultura. Acatei como legítima a sugestão, até para despertar interesses que transcendam a saborosa culinária e as justas alegrias dos fandangos.

LEIA TAMBÉM: Ninguém sabe quem sou

Publicidade

Sem ordem cronológica ou classificação estética, indico alguns autores e sinalizo algumas de suas produções. Começo por um grande, Simões Lopes Neto (1865-1916) e seus excelentes Contos gauchescos (1912). Cria um narrador – Blau Nunes – que, situando suas histórias na Campanha, registra usos, costumes, indumentária, as lides do campo, mas, acima de tudo revelando os valores do homem. Contos como “Trezentas onças”, “O boi velho”, “O contrabandista”, “No manantial”, “Negro Bonifácio” afloram sentimentos e valores irretocáveis. Dele também se podem ler as Lendas do Sul e os cômicos Casos do Romualdo.

Indico igualmente o encruzilhadense Darcy Azambuja (1901-1970). Ainda jovem, publicou No galpão (1925), conjunto de contos que o consagram como um clássico da literatura regional. Darcy Azambuja era um homem culto, professor de Direito Constitucional e de Teoria Geral do Estado. Outro autor relevante é Alcides Maya (1877-1944), que nos deixou Ruínas vivas (1910), Tapera (1911) e Alma bárbara (1922). Revela um Rio Grande em transformação com o progressivo ingresso da tecnologia nas estâncias da Campanha, provocando profundas alterações nos costumes dos gaúchos. O peão, antes peleador de revoluções, se vê perdido quando necessita lidar com seu novo espaço em fazendas já decadentes.

LEIA TAMBÉM: Para abrir caminhos

Publicidade

Nessa linha da decadência, é imprescindível ler os tocantes romances de Cyro Martins (1908-1995), Sem rumo (1937), Porteira fechada (1944) e Estrada nova (1954). Recomendo muito ler ao menos o segundo da trilogia. Junte-se a ele Ivan Pedro de Martins (1914-2003), autor de várias obras, merecendo destaque Caminhos do Sul (1946) e Casas acolheradas (1986).

Um expressivo volume de obras e autores mereceriam estar aqui. Indico, ainda, O mestiço de São Borja, de Alcy Cheuiche; Os varões assinalados, de Tabajara Ruas; A casa das sete mulheres, de Letícia Wierzchovski; e, claro, o indispensável O tempo e o vento, de Erico Verissimo, principalmente a primeira parte – “O continente” I e II – em que figuram, ao lado de outras dezenas, duas emblemáticas figuras de nossa literatura: Rodrigo Cambará e Ana Terra. Costumo dizer que gaúcho que não leu essa ainda não é plenamente gaúcho.

Escrevi sobre contos e romances, porém não dá para esquecer a plêiade de excelentes poetas que o estado abriga e que se voltam sobremaneira à temática regional. Cito, apenas para ilustrar: Jayme Caetano Braun, Apparício Silva Rillo, Barbosa Lessa, Luiz Menezes, Dimas Costa, entre muitos mais. E, quando ecoam na voz da jovem declamadora Isabelli Melo, ganham vida para sempre.

Publicidade

LEIA MAIS TEXTOS DE ELENOR SCHNEIDER

QUER RECEBER NOTÍCIAS DE SANTA CRUZ DO SUL E REGIÃO NO SEU CELULAR? ENTRE NO NOSSO NOVO CANAL DO WHATSAPP CLICANDO AQUI 📲. AINDA NÃO É ASSINANTE GAZETA? CLIQUE AQUI E FAÇA AGORA!

Publicidade

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.