No centro da principal praça de Qingdao, um moderno monumento celebra o movimento político que serviu de inspiração para a Revolução cultural e assegurou a soberania chinesa. Os chamados Ventos de Maio foram protestos da população contra as ocupações estrangeiras na península de Shandong. O movimento inspirou o jovem Mao Tsé-Tung e deu início à paciente marcha que levou a China à posição política e econômica atual, desafiando a hegemonia ocidental.
A região metropolitana de Qingdao (pronuncia-se Tsingtao) tem cerca de 11 milhões de habitantes, espalhados na metrópole costeira da província de Shandong. No final do século 19, a dinastia Qing iniciou a fortificação da região contra ataques navais. A preparação dos chineses chamou a atenção das frotas alemãs, que por ali navegavam com a intenção de invadir um território importante para as aspirações colonialistas de Wilhelm II. O kaiser almejava criar um braço do Império Alemão no oriente.
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Em novembro de 1897, dois missionários alemães foram atacados e mortos na cidade. Era o estopim que as tropas teutônicas e austro-húngaras aguardavam para invadir a região e conquistar o porto local, estratégico para o comércio mundial.
No ano seguinte, o já decadente império Qing se viu forçado a ceder território aos alemães, episódio que ficou conhecido como a Concessão da Baía de Kiautschou. A ocupação se estenderia até 1914. Se por um lado o colonialismo trouxe opressão e cruel exploração aos chineses, por outro o antigo povoado de pescadores passou por um período de modernização e desenvolvimento, evidente na herança arquitetônica e cultural que identifiquei já em minha primeira visita.
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Outro legado germânico, este etílico, leva o nome da cidade bem além do país de Confúcio. A Cervejaria Germania, hoje mundialmente conhecida como Cervejaria Tsingtao, foi fundada pelos alemães em 1903. É a segunda maior da China em produção e a primeira em exportação, com suas cervejas consumidas em mais de cem países.
A Primeira Guerra Mundial encerrou a ocupação alemã para dar lugar à invasão japonesa, de 1914 a 1922, corroborada pelo malfadado Tratado de Versalhes. A passagem de bastão de uma força estrangeira para outra exacerbou a revolta dos nativos, gerando o Movimento de 4 de Maio, epicentro da futura Revolução Cultural Chinesa. Finalmente, em 1922, a península retornou ao governo da recém-fundada República da China.
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A Segunda Guerra trouxe uma nova invasão nipônica, de 1937 até a rendição japonesa, em setembro de 1945. Durante a subsequente guerra civil chinesa, o Exército Vermelho de Mao Tsé-Tung tomou a cidade em 2 de junho de 1949.
Desde a abertura econômica da China (1984), Qingdao se tornou um importante e ultramoderno centro financeiro e comercial, com excelentes universidades, centros de tecnologia e sedes de grandes indústrias como Hisense e Haier.
O pragmatismo e a visão de longo prazo de Pequim ficam evidenciados mais uma vez na pujança de Qingdao. Apesar da brutalidade colonial alemã e japonesa, a serenidade milenar chinesa não impediu que os nativos mantivessem suas tradições, além de ter feito com que frutos positivos trazidos pelos estrangeiros fossem incorporados na cultura local. Lembro de ter chegado a essa conclusão nos arredores da Praça dos Ventos de Maio, enquanto bebia uma cerveja Tsingtao e pensava na bela e romanesca catedral católica de São Miguel, que eu havia apenas visitado.
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