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VALESCA DE ASSIS

Gazeta: o infinito é um 8 deitado. E o 80, o que é?

Como escrevi em minha primeira crônica neste espaço, nasci em Santa Cruz do Sul, a 14 de outubro de 1945. Portanto, estou a poucos dias dos meus oitenta. E o que significa tal idade, a não ser um ano a mais na vida, alguém sempre pergunta. De minha parte, sempre pensei que fosse um ano de balanço, uma espécie de curva existencial importante, à qual não muitos são convidados.

Procurei pesquisar o sentido do 8, que, deitado, significa o infinito. Portanto, não é qualquer número: E eu terei, então, dez vezes oito. Oito é o número do equilíbrio cósmico, das direções assinaladas pela Rosa-dos-Ventos, do conjunto de raios de uma roda, da quantidade de pétalas do lótus. São oito os braços de Vishna – o guardião da ordem universal.

Chego aos 80 com um marido, uma filha, um genro, dois netos adultos. Tenho uma dupla de irmãos, sou a mais velha e a única mulher. Não temos mais pai nem mãe. Tenho 45 primos, mas nem uma tia ou um velho tio, aqui na Terra. Tenho a sabedoria possível, pois sempre prestei atenção à vida.

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Estudei formalmente por 17 anos e aprendo todos os dias. Sou graduada em Filosofia e especialista em Ciências da Educação, ambos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Lecionei durante quase 30 anos em escolas públicas. Fui uma boa professora. Ainda dou algumas aulas online. Tenho um grupo de amigas cujo lema é: “Queremos ser boas, belas e felizes!”. O “belas” já vai longe, no passado, mas sendo boas, somos felizes.

Aos 38 anos me inscrevi numa Oficina Literária, que durou dois semestres; ainda vou escrever, aqui, sobre essa revolução existencial. Aos 45, lancei meu primeiro livro, “A valsa da Medusa”. E, depois, diversos outros. Meu marido, de uns tempos para cá, dedica parte de seu tempo à jardinagem e nossas flores melhoraram muito com os cuidados dele. A flor preferida de minha mãe era a glicínia, também conhecida como “lágrimas de viúva”: temos glicínias no pátio e no terraço. Eu gosto de camélias, e temos duas cameleiras lindas. Sempre quis ter uma Primavera, também chamada de manacá de cheiro, e minha muda está florida, nestes dias.

Sou gremista desde pequena e em quase todos os meus livros há referências a isso. Já tive um Grêmio inteiro de gatos (Juarez, Milton, Gessi & todos os outros). Ando torcendo com menos barulho, agora, pois meus netos são colorados e não gosto de vê-los sofrer. Temos uma linda gatinha, a Bemol, que adotamos antes da pandemia e que foi nossa companheira durante o período de reclusão, quando só víamos a família através de janelas. Quando escrevo, Bemol dorme na poltrona do escritório. E me inspira.
Enquanto preparava esta crônica, recebi um poema:

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Há um deus único e secreto
em cada gato inconcreto
governando um mundo efêmero
onde estamos de passagem.

(Manuel António Pina, Prêmio Camões de 2022)

Obrigada por me escutarem!

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