Ingressamos no mês de novembro, e com a celebração das datas de Todos os Santos e Finados, neste sábado, 1º, e neste domingo, 2. São dois momentos nos quais a sociedade se reconecta com a memória, ao relembrar entes queridos que já partiram, fazendo a eles a sua homenagem, de forma mais efetiva nas visitas a cemitérios e jazigos.
Em um mundo tão pouco atento, ou particularmente desatento, a tudo o que significa recordação (de “re-cordar”, reavivar no coração), é uma dessas raras ocasiões no ano em que, talvez para muitos, a lembrança de pessoas que foram tão importantes na caminhada de cada um merece maior consideração.
O caráter instantâneo da interação, a sobreposição de demandas e de interesses e uma agenda social que pulveriza as atenções têm feito a humanidade assumir um individualismo tamanho que, se calhar, nem demora e o próprio conceito de família como uma vez foi concebida terá de ser revisto.
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Em um tempo em que pais mal conversam com filhos ao longo de uma semana de compromissos, e em que netos quase não têm sobre o que conversar com avós (isso quando ainda conversam, ou se não for por WhatsApp), dedicar ao menos alguns dias (ou horas) ao papel da memória afetiva e familiar deve quase constituir um acontecimento.
Nesse contexto, um veículo de comunicação, e em especial um jornal impresso, alça-se à condição de repositário de memória, de guardião do registro de fatos, personagens, acontecimentos e instantes de uma comunidade sobre os quais, em curto período de tempo, ninguém mais tem informação clara ou precisa. Quando em lugar algum a lembrança segue intacta, no arquivo do jornal, dia, hora e realizações seguem preservadas.
E, assim como hoje se consulta o acervo da Gazeta do Sul acerca das últimas oito décadas, é certo que dentro de um século, ou mais, os filhos e os netos dos de hoje talvez visitarão o mesmo centro de documentação e conferirão cada edição diária da Gazeta do Sul para saber mais e melhor sobre nosso tempo atual. E, nesse caso, não importa o que mais a humanidade venha a inventar, essa virtude do jornal segue imbatível.
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Assim, que este fíndi, dedicado à memória dos que já partiram, seja também momento especial para refletir sobre os segmentos, em comunidade, que preservam lembranças. Que é, entre outras manifestações, a missão de contar histórias, como a jornalista Heloísa Poll detalha em reportagem sobre a escritora Léla Mayer, da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul.
Ela foi convidada a participar de um encontro internacional de contadores de histórias, algo que, num primeiro momento, a muitos talvez passaria despercebido. A narração oral, a preservação da memória oral, é uma das maiores identificações culturais do mundo árabe, como via para transmitir, de geração em geração, dos avós e dos bisavós aos netos e aos bisnetos, um fluxo de acontecimentos que faz lembrar de As mil e uma noites. Com Léla, que viajou à Galícia de seus antepassados, temos mais uma evidência de que lembrar (e contar) segue muito valioso. Bom fim de semana!
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