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O TABACO NA MESA

“Apelamos por bom senso e equilíbrio na COP-11”, afirma presidente do Sinditabaco Valmor Thesing

Concorrência desleal: Thesing cita que a cada três cigarros consumidos no País, um é ilegal, com perda em arrecadação e incentivo ao crime organizado

Concorrência desleal: Thesing cita que a cada três cigarros consumidos no País, um é ilegal, com perda em arrecadação e incentivo ao crime organizado | Foto: Felipe Krause/Divulgação/GS

A cadeia produtiva do tabaco comemora a colheita, na temporada 2024/25, de uma das maiores safras da história recente do desenvolvimento dessa atividade no Sul do Brasil, que chegou a cerca de 720 mil toneladas. Se por um lado a produção vai muito bem, respaldada e estimulada por uma demanda igualmente estável em âmbito mundial, por outro o setor ainda se ressente de contratempos. Um deles está no pouco respaldo que recebe do governo federal, ainda que constitua um grande gerador de tributos. E outro está na recorrente ameaça advinda de campanhas antitabagistas.

Nesse cenário, a representação das empresas que atuam no segmento precisa estar o tempo inteira alerta, a fim de que não seja surpreendida com novas medidas ou ações que causem mais transtornos ao desenvolvimento normal dos trabalhos. E isso que se trata de uma atividade legal, formal, com inquestionável contribuição social em várias regiões do Brasil, em especial no Sul e no Nordeste.

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Na terceira reportagem da série “O tabaco na mesa”, o presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), Valmor Thesing, é taxativo ao cobrar bom senso e equilíbrio de quem gere os negócios públicos e toma decisões que, por vezes, podem comprometer a sustentação de milhões de pessoas. Natural de Santa Cruz do Sul, Thesing assumiu a presidência da entidade em 8 de novembro de 2024, em substituição a Iro Schünke, que liderara a associação nos 20 anos anteriores.

O SindiTabaco, fundado em 24 de junho de 1947, está próximo de completar oito décadas de existência e congrega as empresas que compram e processam tabaco. A entidade defende os interesses do setor e luta por melhorias constantes que mantenham ou elevem as características que permitiram ao produto brasileiro assumir a liderança absoluta do ranking das exportações mundiais, posição que detém desde 1993.

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Com mais de quatro décadas de atuação no segmento, Thesing conhece em profundidade os méritos e os diferenciais do tabaco brasileiro, mas, em igual medida, também seus desafios. Além de salientar a importância econômica da matéria-prima, ele menciona os inúmeros programas e as ações, no campo e na cidade, que tornam o setor do tabaco um modelo para outras cadeias produtivas nacionais e internacionais. Ele é, em simultâneo, o diretor-presidente do Instituto Crescer Legal, que se destaca no incentivo à continuidade dos estudos por parte de filhos de agricultores, fomentando a sucessão rural e a permanência dos jovens no campo.

Na entrevista, Thesing cita o empenho do setor em cobrar do governo federal que cumpra ao que se comprometeu na Declaração de Interpretação de Dispositivos da Convenção-Quadro, assinada neste ano. Nesta, o Brasil formaliza que dará respaldo institucional à produção de tabaco.

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Esse documento, assinado por seis ministros de Estado, foi decisivo para que o país ratificasse a Convenção-Quadro. Pela declaração, o Brasil faz a opção pela defesa dos produtores de tabaco e do livre comércio do produto.

Em edições mais recentes da Conferência das Partes (COP), que reúne os representantes dos países que ratificaram a Convenção-Quadro, de forma crescente têm sido sugeridas medidas que afrontam o disposto nesse documento. E a preocupação de Thesing, bem como de todas as lideranças, é para que não surjam novas ameaças na COP-11, a ocorrer entre 17 e 22 de novembro, em Genebra, na Suíça. Esse evento, que a E acompanhará de perto, os produtores de tabaco no Brasil e no mundo miram com a máxima atenção.

Entrevista

Valmor Thesing – presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco)

  • Gazeta do Sul – Que tipo de contatos o SindiTabaco estabeleceu até o momento em relação à preparação do governo brasileiro para a COP-11 e que perspectivas se apresentam acerca da participação do País no evento?
    Valmor Thesing –
    Temos mantido diálogo permanente com representantes do governo federal e parlamentares ligados às regiões produtoras de tabaco, buscando garantir que o Brasil adote uma posição equilibrada na COP-11. Nosso objetivo é assegurar que as decisões da delegação oficial brasileira respeitem a Declaração Interpretativa assinada em 2005, quando o país ratificou a Convenção-Quadro, reconhecendo a importância econômica e social da produção de tabaco para os brasileiros. A expectativa é de que o Brasil atue com responsabilidade e equilíbrio, levando em conta o impacto social e econômico da cadeia produtiva do tabaco — que envolve mais de 138 mil famílias rurais, 44 mil empregos diretos na indústria e mais de 500 municípios no Sul do País.
  • O senhor e a cadeia produtiva temem alguma decisão relacionada a artigo específico na conferência de Genebra?
    Sim. A maior preocupação neste momento é com o Artigo 18, que trata da proteção do meio ambiente e da saúde das pessoas em relação ao cultivo e à fabricação de produtos de tabaco. O relatório do Secretariado propõe medidas como proibir cigarros com filtro, cobrar taxas para limpeza de bitucas, classificar as bitucas como resíduos perigosos e criar novas obrigações de reporte ambiental. A eventual proibição de filtros teria efeito devastador sobre o setor: o cigarro com filtro é o formato predominante no mercado global. Não negamos a importância da agenda ambiental, mas defendemos que ela avance com base em evidências, análise de impacto e uma transição realista – não eliminando o principal formato do produto e desarticulando uma cadeia que é estratégica para o País. Há ainda o risco de ampliar o contrabando, já que os fabricantes ilegais continuariam a produzir cigarros com filtro, intensificando a concorrência desleal – num mercado em que 38% dos cigarros consumidos no Brasil são ilegais.
  • A entidade irá à Suíça a fim de acompanhar o evento de perto? Que tipo de ações ou de contatos pretende fazer a fim de saber ao menos o que o Brasil propõe ou defende por lá?
    Sim. O SindiTabaco estará presente, juntamente com uma comitiva formada por parlamentares, representantes dos governos de estados produtores de tabaco e outras entidades da cadeia produtiva. Não temos a perspectiva de participar efetivamente do evento, já que entidades, parlamentares e até mesmo a imprensa regional são sistematicamente impedidos de acessar os locais dos debates – algo um tanto absurdo para um organismo pago com dinheiro público –, mas estaremos presentes para acompanhar, dialogar na medida do possível e defender os interesses da cadeia produtiva. Nosso papel será o de dar visibilidade e cobrar coerência da delegação brasileira, para que o País cumpra o compromisso assumido na Declaração Interpretativa: proteger os produtores e respeitar o livre comércio do produto.
  • Como o senhor avalia o fato de o Brasil ter, por algumas de suas lideranças, tamanho protagonismo nas decisões contra o comércio de cigarros e a cadeia produtiva do tabaco?
    Causa estranheza e preocupação. O Brasil é o segundo maior produtor e o maior exportador mundial de tabaco há mais de 30 anos. É natural que o País tenha uma posição de destaque nas discussões internacionais, mas esse protagonismo deveria ser usado para defender uma abordagem equilibrada, que considere a importância econômica e social do setor. Infelizmente, temos visto o Brasil adotar uma postura de ativismo restritivo, muitas vezes mais dura do que a de países que nem sequer assinaram ou ratificaram a Convenção. Isso cria desvantagens competitivas para os produtores brasileiros, enquanto concorrentes como Índia, Zimbábue e Malawi ampliam sua produção.
  • Por sua importância na economia, na geração de empregos e de renda e na cultura geral do Sul do Brasil, o senhor entende que em algum momento, e de alguma forma, a sociedade pode ser mais bem informada sobre o valor do tabaco?
    Sem dúvida. O tabaco é uma das atividades agrícolas mais organizadas e sustentáveis do Brasil, com forte presença familiar e alto valor agregado. Muitas vezes, o debate público ignora o papel social para milhares de municípios do Sul e Nordeste. É importante que a sociedade compreenda que falamos de uma cadeia produtiva que gera mais de R$ 18 bilhões em impostos e mais de US$ 2 bilhões em exportações anuais, com mais de 90% da produção exportada. Não se trata de promover o consumo, e sim de reconhecer o valor produtivo e social dessa atividade para a agricultura familiar e o setor industrial.
  • O que o senhor destacaria em especial do setor do tabaco que poderia funcionar como modelo ou exemplo para outros setores?
    O modelo de integração entre produtores e indústria é um grande diferencial. Ele garante assistência técnica, garantia de renda para o produtor, previsibilidade aos fornecedores e boas práticas. É uma relação contratual transparente, que oferece estabilidade em um ambiente rural cada vez mais desafiador. Esse sistema é referência para outras cadeias agrícolas, justamente por unir eficiência produtiva, qualidade, rastreabilidade e responsabilidade social, ambiental e regulatória. Poucos setores agrícolas têm uma organização tão estruturada, que concilie produtividade e estabilidade de renda no campo.
  • Como o senhor vê a atual inserção do Brasil no mercado mundial do tabaco, do qual é o maior exportador desde 1993? O País permanece consolidado como grande e confiável fornecedor?
    Sem dúvida. O Brasil é hoje referência mundial em qualidade, regularidade de entrega e sustentabilidade da produção. Exportamos para mais de cem países, com US$ 2,89 bilhões em divisas geradas em 2024. Mesmo diante de pressões regulatórias e desafios logísticos, seguimos sendo o principal fornecedor global, porque o mercado reconhece a seriedade do nosso sistema produtivo e a qualidade do produto.
  • E em termos de clientelas, ao longo dos anos, houve mudanças significativas, ou é um mercado com estabilidade?
    Há relativa estabilidade, mas com alguma diversificação. Tradicionalmente, China, países europeus e Estados Unidos estão entre os principais destinos. O setor trabalha para manter a confiança dos clientes tradicionais e abrir novos mercados, garantindo presença global mesmo diante de desafios regulatórios.
  • O impacto do contrabando no mercado nacional de cigarros é sempre um tema sensível. O que o setor tem cobrado do governo nesse sentido?
    A cada três cigarros consumidos no Brasil, um é ilegal, o que causa perdas bilionárias em arrecadação e incentivo ao crime organizado. Temos percebido uma atuação na fiscalização, com grandes apreensões feitas, mas a questão passa também pela necessidade de políticas tributárias mais equilibradas, haja visto que o grande problema do mercado ilegal é justamente a diferença tributária entre o cigarro produzido no Brasil e o que é produzido no Paraguai. A imposição da alta carga tributária, vale lembrar, é resultado direto de medidas da CCQT, e o Brasil foi protagonista na implementação. O resultado: os brasileiros não pararam de fumar, apenas deixaram de ter os benefícios de um mercado legal interno operante: perdemos renda, tributos, empregos e, pior, estamos entregando tudo isso para o crime organizado.
  • Como o senhor vê a nova safra de tabaco? Que fatores devem marcar a temporada, na avaliação do senhor?
    Viemos de uma das maiores safras dos últimos anos, com 720 mil toneladas que renderam mais de R$ 14,6 bilhões para os produtores. Para a safra 2025/26, temos uma boa perspectiva, mesmo com o La Niña recentemente confirmado. Até agora, as condições climáticas são favoráveis, e a expectativa é de boa qualidade e produtividade.
  • O setor do tabaco tem investimentos em curso? Em quais regiões ou áreas, e como o senhor avalia essa indústria em termos de modernização?
    Sim. As indústrias têm investido em tecnologia, mecanização, sustentabilidade e eficiência energética, especialmente nos estados do Sul. Há também avanços na digitalização de processos e rastreabilidade da produção, de maneira a garantir mais transparência e competitividade.
    Há programas em andamento para redução do uso de defensivos, EPIs mais seguros e confortáveis, logística reversa, irrigação e modernização de estufas e maquinário. Para citar um exemplo, neste ano formalizamos com a Embrapa o Projeto Solo Protegido. É uma parceria de 60 meses que vai realizar o monitoramento e diagnóstico de propriedades produtoras de tabaco, visando aprimorar ainda mais as práticas agrícolas e trazer novos indicadores da nossa cadeia produtiva.
  • Como o senhor classifica o tratamento que os governos federal, estaduais ou mesmo de municípios dedicam ao tabaco? Houve evolução, ou pouca?
    Temos visto avanços pontuais em nível estadual e municipal, onde há compreensão da relevância econômica da atividade. No entanto, em nível federal, ainda há certo distanciamento, apesar do diálogo. É preciso evoluir para uma postura mais equilibrada, que reconheça verdadeiramente o valor do setor. Não pedimos privilégios, pedimos coerência — que o País respeite compromissos assumidos e atue para proteger uma atividade que gera emprego, renda e divisas.
  • Que recado o senhor deixaria para o governo federal, ou para alguma liderança ou autoridade específica, há duas semanas de início da COP-11?
    Nosso apelo é por bom senso e equilíbrio. O Brasil precisa ser ouvido e respeitado como líder mundial na produção e exportação de tabaco. Defendemos políticas de saúde pública, sim, mas que não eliminem o sustento de milhares de famílias e não desestruturem uma cadeia produtiva que é sólida e sustentável. Enquanto houver demanda mundial por tabaco – e as projeções mostram que ela seguirá por décadas —, é essencial que o Brasil preserve sua manutenção entre os players mundiais nesse negócio. Assim, o recado é de diálogo, equilíbrio e, principalmente, responsabilidade para com milhares de brasileiros que tem nesse setor fonte de renda e qualidade de vida.,

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