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LITERATURA

Escritor lança livro com edição bilíngue em português e italiano em Santa Cruz

Foto: Rodrigo Assmann

Leonardo Andriolo: “A cooperação entre eles foi a responsável pelo progresso”

O ano de 2025 revela-se uma ocasião muito especial para rememorar e reavivar uma das mais importantes contribuições culturais que um povo vindo de longe trouxe à realidade social e econômica do Brasil. O que vale para o país como um todo se reveste de significado ainda mais relevante para o Rio Grande do Sul. Afinal, foi no extremo sul da nação que, a partir de 1875, milhões de italianos se fixaram, agregando para sempre seu modo de ser e de viver a essa terra.

É no contexto dos 150 anos de imigração italiana para o Estado que o escritor Leonardo José Andriolo decidiu efetivar uma segunda edição de seu livro Com passos lentos, mas firmes, lançado originalmente em 2011, então pela EST Edições. Agora a obra chega sob o selo da Coralina, e com um diferencial que deverá ampliar muito o alcance de leitura: o texto é apresentado de forma bilíngue, em português e italiano, com a tradução de Tânia Espinosa.

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A obra, em 244 páginas, terá lançamento em Santa Cruz do Sul no próximo sábado, dia 15, com sessão de autógrafos a partir das 10h30 na Livraria e Cafeteria Iluminura. Essa atividade será realizada em parceria com o escritor santa-cruzense Aidir Parizzi Júnior, que em simultâneo apresentará seu novo livro, Pátria estrangeira, sob o selo da editora BesouroBox. Ainda nesta semana, no dia 6, Andriolo fez um primeiro lançamento da segunda edição, ao ter autografado o livro na 71ª Feira do Livro de Porto Alegre, na Praça da Alfândega, a partir das 19 horas.

Aidir Parizzi, por sinal, assina uma palavra de apresentação do livro de Andriolo. Ali, registra: “Seguindo os passos lentos e firmes de seus antepassados, Leonardo retrata uma comunidade de imigrantes e seus descendentes. O relato nos remete ao espírito da época e à consciência de pessoas especiais que ousaram iniciar uma nova história em um mundo desconhecido.”

Como Andriolo enfatiza, a partir do resgate da trajetória de sua família em solo gaúcho, ele homenageia todos os demais imigrantes que, em diferentes momentos e circunstâncias, atravessaram o Oceano Atlântico com a expectativa de iniciar uma nova vida longe da Europa.

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Leonardo refere que em 1983 seu pai, Giocondo, instalado com a família na 8ª Légua da Colônia de Caxias, na Serra Gaúcha, sofreu um acidente e teve de ficar por alguns meses sem trabalhar. Ocupou esse tempo a registrar em um caderno escolar as lembranças de sua infância, e do que ouvira de relatos dos primórdios da colonização. Vinte e sete anos depois esse caderno foi colocado nas mãos do filho, com um pedido: “Escreve a história da nossa família”.

Com passos lentos, mas firmes, ou A passi lenti, ma decisi, traz esse olhar afetuoso para um passado que, em grande medida, jamais passará, porque é sempre presente e deverá ter sempre futuro. Lendo Andriolo, descendentes de italianos (mas não só eles) haverão de se emocionar com a grandeza do que seus antepassados empreenderam. Até como forma de honrar e de celebrar essa jornada.

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Foto: Rodrigo Assmann

Serviço

  • O quê: lançamento da segunda edição, bilíngue, em português e italiano, do livro Com passos lentos, mas firmes/A passi lenti, ma decisi, de Leonardo José Andriolo, pela editora Coralina
  • Quando: no próximo sábado, dia 15, a partir das 10h30
  • Onde: na Livraria e Cafeteria Iluminura, em Santa Cruz do Sul; exemplares estarão à venda no local
  • por R$ 65,00

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Uma história de fé e de solidariedade

Nascido em Ana Rech, no interior de Caxias do Sul, Leonardo José Andriolo fixou-se em Santa Cruz do Sul em 1997. Aos 61 anos, inseriu-se de maneira ativa na cena cultural da região, a ponto de ser, hoje, membro da Academia de Letras de Santa Cruz do Sul. Em termos profissionais, é auditor de controle externo do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e leciona no curso de Administração da Unisc.

Com passos lentos, mas firmes, agora lançado em segunda edição, bilíngue, constituiu a sua estreia como escritor. Na mesma época em que publicou o primeiro livro, também participou das três edições da antologia Nem te conto, da Editora Gazeta, entre 2011 e 2013. Em 2019, reuniu 12 contos no volume Dois meninos, e em 2023 apresentou o primeiro romance, Brilho e sombra.

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Leonardo e a família costumam ser presença constante em eventos culturais e artísticos. Ao lado da esposa, Marlene, e dos filhos Henrique e Guilherme, este jornalista (da equipe do Portal Gaz), prestigia e fomenta em especial a literatura. Como salienta na entrevista que concedeu à Gazeta do Sul, Andriolo busca divulgar o legado italiano em atividades da Academia de Letras e em outras iniciativas. Recentemente, em palestra, resgatou a figura de Nanetto Pipetta para o universo colonial italiano do Rio Grande do Sul.

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No grande cenário da imigração para o Rio Grande do Sul, a memória avivada por Andriolo recua até a segunda metade do século 19, quando o casal Giovanna e Silvestre deixou o Vêneto, nas imediações do Monte Grappa, e, levando a pequena Giulianna, embarcou rumo à Mérica. Junto com poucos pertences, trouxeram os sonhos de uma vida melhor. É, em síntese, a história de muitos, de milhares, que pode ser espelhada nessas páginas.

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Entrevista

Leonardo José Andriolo
Escritor

  • O senhor lança segunda edição, agora traduzida para o italiano, de seu relato apoiado em memórias de família. Qual o propósito ou a expectativa em torno da tradução para a língua de seus antepassados?
    Costumo dizer que este livro é fruto de acasos. Primeiro foi meu pai, que sofreu um acidente nos anos 80 e, não podendo trabalhar, para passar o tempo, anotou num caderno suas memórias de infância e as histórias que seu pai contava sobre a imigração italiana. Desses relatos nasceu a primeira edição, em 2011. Cinco anos depois, minha amiga Tânia Espinosa perguntou se poderia traduzir o livro para o italiano. Respondi que sim, sem acreditar que ela cumprisse essa missão.
    No início deste ano, a Tânia me deu a notícia de que havia terminado a tradução. Então eu não poderia deixar de publicar a segunda edição, justamente nos 150 anos de imigração italiana no Rio Grande do Sul.
  • O senhor parla italiano? Como estão presentes a língua e a cultura italiana em sua família?
    Na minha família se falava o Talian, uma língua que foi reconhecida como patrimônio cultural brasileiro pelo Ministério da Cultura em 2014 e se formou a partir principalmente do dialeto vêneto, mas com influência de dialetos de outras regiões italianas e do próprio português. Infelizmente o Talian foi diminuindo sua presença nas famílias italianas, embora na Serra Gaúcha haja entidades engajadas no estudo e preservação dessa língua.
    Já adulto, estudei a língua italiana oficial, compreendo bem e falo o suficiente para não passar fome na Itália. Embora mesmo quem não fale uma palavra de italiano também não passará fome na Itália. Aliás, na minha família, sem dúvida a cultura italiana está muito presente na gastronomia.
  • No processo de aproximação com o legado, com a memória da imigração, o que mudou para o senhor e a família a partir da publicação deste livro?
    O livro significou preservação das memórias, porque quando as pessoas mais idosas morrem, elas carregam consigo suas narrativas. E de repente nos damos conta de que as histórias se perderam para sempre e não é mais possível recuperá-las. A publicação do livro não apenas resgatou as memórias, como garantiu sua perpetuação. É um legado que permanece inclusive para as novas gerações.
  • Quando o senhor mira a odisseia da imigração, que pilares ou bases se salientam? O que o senhor entende que fica como luz para o presente e o futuro?
    Eu destaco principalmente dois pilares: a fé e a solidariedade. Esses dois valores foram fundamentais para a sobrevivência e a prosperidade dos primeiros imigrantes que aqui chegaram. Largados em terras inóspitas, sem qualquer presença de serviços do Estado, a Igreja foi essencial para a organização dos colonos, sendo a base principal da vida social e comunitária.
    Ao mesmo tempo, a fé dava a coragem para enfrentar os desafios da difícil jornada. A outra força era a solidariedade entre as famílias: nos casos de intempéries ou de doenças, todos se ajudavam. Eu costumo dizer que a solidariedade era mais uma estratégia de sobrevivência do que propriamente uma virtude. O colono que ajudava seu vizinho na dificuldade sabia que também contaria com amparo quando precisasse.
    Esse senso de cooperação, responsável pelo progresso das regiões de imigração italiana, continua sendo um valor para o presente e o futuro. Cito como exemplo o Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, que se originou por iniciativa de vinícolas que, embora concorrentes entre si, juntaram-se para fundar uma associação com objetivo de buscar a excelência de seus produtos. Essa cooperação possibilitou que aquela região se tornasse um roteiro turístico que atrai milhares de pessoas e fosse a primeira região do Brasil em obter a Denominação de Origem, garantindo a qualidade e origem dos vinhos.
  • O senhor se radicou em Santa Cruz, que foi colônia alemã. O que aproxima as colônias, alemãs e italianas?
    O Brasil é um país de imigrantes. Com exceção dos indígenas, todas as demais etnias são oriundas de outros países. Valorizar a diversidade e respeitar as diferentes culturas é um dever cidadão. Há muita sabedoria em todas as culturas e isso só nos enriquece como nação.
    Especificamente em relação às colônias alemã e italiana, há muitas semelhanças. Embora essas migrações tenham ocorrido com 50 anos de diferença, as causas, projetos, as dificuldades e o descaso dos governos para com os imigrantes foram muito parecidos. Mas há certas peculiaridades. Por exemplo, quando algumas famílias alemãs se assentavam num determinado território, a primeira coisa que faziam era erguer uma escola. Já a primeira coisa que as famílias italianas faziam era erguer um capitel (pequena capela).
  • O tema da colonização, da imigração, ainda ocupa o senhor? Pretende voltar a esse assunto?
    Não tenho nenhum projeto em andamento nesse sentido, mas o tema da imigração italiana continua a despertar meu interesse e minha curiosidade.
  • O senhor também integra a Academia de Letras de Santa Cruz do Sul. Qual a sensação de “representar” esse legado italiano na entidade?
    Apesar de ser um grupo pequeno, uma peculiaridade da nossa Academia de Letras é a diversidade, reunindo escritores de vários perfis literários, o que é ótimo, porque propicia compartilhamento de diferentes saberes. Eu me sinto muito honrado e também muito à vontade em representar o legado italiano na Academia e tem sido uma oportunidade excepcional de aprendizados literários e culturais.

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