Novembro é o mês em que Santa Cruz do Sul recebe o maior festival amador da América, o Encontro de Artes e Tradição Gaúcha (Enart). Um evento que reúne os melhores grupos de danças tradicionais gaúchas, os melhores acordeonistas, cantores (as), declamadores (as) entre tantas modalidades. Ele chegou por aqui em 1997, no primeiro mandato do prefeito Sérgio Moraes, que se empenhou para que o evento viesse, ainda sob o nome de Festival Gaúcho de Arte e Tradição (Fegart) – um grande acerto. Para participar, é preciso estar filiado a uma entidade tradicionalista e ter idade mínima de 15 anos completos até a data de início da etapa final.
O evento viveu seu auge nos anos 2000. A grande finalíssima de domingo reunia os 15 melhores grupos, que faziam um verdadeiro espetáculo com as coreografias de entrada e saída. O turista e simpatizante da arte e da cultura se interessava mais por essa parte. No entanto, o campeão é determinado a partir da avalização das três danças tradicionais sorteadas 15 minutos antes da apresentação.
Passaram-se os anos. Os 15 melhores se tornaram 20 em 2008. No ano seguinte surgiu a Força B na modalidade Danças Tradicionais, para ser uma espécie de categoria “formadora”, oportunidade aos grupos menores e de poder aquisitivo reduzido participar. O Enart cresceu, mas parece que encolheu.
Publicidade
Nos anos 90 e 2000, existiam cinco etapas inter-regionais, que definiam todos os classificados para a final. Hoje são apenas três, e muitas regionais não são mais realizadas – quando muito um rodeio regional. O público que antes lotava e fazia fila na frente do Ginásio Poliesportivo para assistir às danças, parece ter perdido o interesse. O local só lota para assistir a apresentações de dois ou três grupos. Para os outros 17 ou 18, fica boa parte vazia. Antes, uma família preparava um acampamento no “Arnão” porque, se saísse, perderia o lugar. Hoje, sobram lotes.
Eu frequento o Enart desde 1998. Nesses 27 anos eu já participei de diversas formas. E não me furto de dizer que é preciso refletir sobre o festival, seus objetivos e, principalmente, formato.
O Enart é um evento tradicionalista que tem responsabilidade social com a continuidade e a nova geração. Mas não se pode negar que é uma competição. E um campeonato chato não atrai adeptos e público. Ao entrevistar o instrutor do CTG Ronda Charrua de Farroupilha, Rodrigo Gil, campeão do ano passado, registrei uma espécie de desabafo, ao falar da conquista: “Mostrar que dá tempo de ainda fazer um espetáculo no Enart. A gente ainda consegue. Está cada vez mais difícil, mas a gente ainda consegue”. Eis que surgem perguntas: está difícil por questões financeiras? Não tem material humano? O espetáculo não interessa mais aos avaliadores? Criaram-se obstáculos regulamentares?
Publicidade
O Enart continua lindo, mas carece de uma reflexão profunda e dolorosa.
LEIA MAIS TEXTOS FORA DE PAUTA
QUER RECEBER NOTÍCIAS DE SANTA CRUZ DO SUL E REGIÃO NO SEU CELULAR? ENTRE NO NOSSO NOVO CANAL DO WHATSAPP CLICANDO AQUI 📲. AINDA NÃO É ASSINANTE GAZETA? CLIQUE AQUI E FAÇA AGORA!
Publicidade