A Gazeta Grupo de Comunicações, por meio da Gazeta do Sul, Rádio Gazeta FM 107,9 e Portal Gaz, acompanhou ao longo da semana as atividades COP-11, em Genebra. Assim como as autoridades e representantes do setor produtivo, a imprensa teve acesso barrado no centro de eventos em que os debates acontecem. Essa medida, de acordo com o presidente da Câmara Setorial do Tabaco, Romeu Schneider, é uma iniciativa que parte da representação brasileira no evento.
Ele lamenta que o País esteja limitado ao posicionamento defendido pela Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (Conicq), que menospreza inclusive a argumentação de ministérios. Até mesmo o embaixador, Tovar Nunes, que recebeu os representantes do setor produtivo, teria suas atividades monitoradas pelo órgão. Enquanto o país defende ações mais agressivas contra a cadeia produtiva, Schneider destaca que outras nações encaminham equipes que dialogam. Como os representantes da África, que percebem nesse movimento brasileiro uma oportunidade de se colocar de forma ainda mais acentuada no mercado.
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Atualmente o Brasil é o segundo maior produtor e, há mais de 30 anos, o maior exportador de tabaco do mundo. O Zimbábue, nesse período, ampliou a produção e a qualidade do que colhe e beneficia. Faltou liberdade e sobrou truculência, a ponto de expulsarem pessoas vinculadas à cadeia produtiva do tabaco até mesmo do hall do centro de eventos onde ocorrem os debates da COP-11, disseram os representantes da região. Enquanto isso, sobra acesso a produtos com origem no tabaco na Suíça, sede da Organização Mundial da Saúde (OMS), como forma de garantir o livre-arbítrio para os moradores locais. Nesse cenário, Romeu Schneider antecipa que os assuntos debatidos durante a COP ainda ganharão repercussão em reunião da Câmara Setorial – a última do ano – no dia 2 de dezembro.
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Entrevista
Gazeta do Sul – Como o senhor avalia os primeiros movimentos da COP e a conversa com o embaixador, Tovar Nunes?
Romeu Schneider – É a sétima ou oitava COP que estamos por perto. Esse afastamento, a proibição de participar das discussões ou sequer assistir é uma posição defendida pelo governo brasileiro. Infelizmente, a gente precisa se sujeitar a isso para não ser expulso – aliás, já fui expulso diversas vezes. Na terça-feira, inclusive, fui expulso do hall do centro de convenções. Havia entrado porque estava muito frio na rua.
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É a forma como lideranças brasileiras são tratadas fora do Brasil?
Nem mesmo as autoridades têm permissão para entrar no local. Até os ministérios não têm voz ativa. Quem comanda é a Conicq, uma instituição que recebeu todo o poder e autonomia para decidir o que fazer, mesmo que todo o resto esteja contra. Sobre o encontro com o embaixador, tivemos contato em maio, trouxemos todas as informações sobre o setor, mas ele também é monitorado. Disse para nós que poderia tirar uma fotografia. No dia seguinte, já não pôde porque iria se incomodar muito com a Conicq. Só pode fazer ou tomar alguma decisão baseado no que recebe de orientação do governo brasileiro.
Essa atitude do Brasil é similar à de outras nações?
A posição do Brasil é totalmente diferente; é de mando, decisão, enquanto os outros países se posicionam de forma diferente. Tivemos reunião com países da Europa e eles têm uma posição bem clara de que os que estão dentro (dos debates) são pessoas com ponto de vista diferente do caso do Brasil. Estes estão para discutir os assuntos, dialogar com o mundo e ponderar pontos positivos e negativos. É uma reunião da saúde, mas é uma conferência das partes, então precisa ter a participação das partes. É uma posição unilateral, uma ditadura. No Brasil é assim, e muita gente não se deu conta disso. Os assuntos debatidos aqui [em Genebra] levam a consequências na produção. A questão é a seguinte: o consumo de cigarros existe há séculos. Quando Cristóvão Colombo chegou às Américas, já encontrou gente fumando folhas de tabaco. Sendo colocadas restrições do comércio legal, teremos o ilegal. Precisamos encontrar o meio do caminho sem radicalismo. Somos tratados aqui como persona não grata.
A COP chega a 20 anos com o discurso de que vai acabar o tabaco, porque não tem quem fume. Mas tivemos uma das maiores safras no Brasil e um avanço na África. Que tipo de pensamento gera no movimento antitabagista?
Os que foram nomeados pelos governos dos países da África são defensores do tabaco. Enquanto no Brasil existe o artigo 5.3, o qual não permite a participação de qualquer um que tenha alguma coisa a ver com o tabaco. Daí tenho que lembrar que essas pessoas recebem salários, pagos por parte dos impostos arrecadados com o tabaco.
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Então, o Brasil manda comitiva para combater o tabaco, enquanto outros concorrentes mandam comitiva para defender o tabaco?
O Brasil jamais poderia ter ratificado a Convenção-Quadro. Na terça-feira, nessa reunião que tivemos, foi dito que o Brasil está entregando a produção de tabaco para outros países, como os africanos. O Zimbábue teve na última safra um aumento de 280 mil toneladas para 355 mil toneladas e deve ampliar para mais de 400 mil toneladas. Eles são os principais concorrentes brasileiros, pois conseguem qualidade. Estamos entregando isso para outros países. Resolvemos um problema para um lado (antitabagista) e ampliamos para outro (socioeconômico).
A COP é da área da saúde, mas no Brasil se fala em inibir a produção do tabaco. Aqui na COP, na sede da Organização Mundial da Saúde (OMS), encontramos gente fumando e todos os produtos de tabaco à disposição. Como entender esse paradoxo?
Isso confirma a ideia de que jamais acabará o número de fumantes. Desde que começou a Convenção-Quadro, houve um aumento do número de fumantes no mundo. Em percentual sobre a população, há uma redução, mas se olharmos pelo número de fumantes efetivo, há muito mais. Todos os anos temos aumento da média de consumo em torno de 1,5%. E nesse número não está calculada a quantidade de cigarro ilegal, que no Brasil gira em torno de 40%. Há um crescimento e necessidade de quantidade maior de tabaco.
Mais uma razão que deveria ser utilizada como parâmetro de como agir. É primeiro mundo, não produz tabaco, mas consome.
É uma das questões que a gente tem defendido. Sempre que se discute algo, é preciso ter diálogo, levar em consideração os dois lados. Não impor de forma ditatorial como na COP.
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Que tratativas o senhor planeja a partir da COP-11?
Teremos a última reunião do ano no dia 2 de dezembro. Esses pontos serão colocados e levados ao governo pelo Ministério da Agricultura, mas também sei que o representante do Mapa na Conicq é monitorado, sem voz ativa. Quem coloca a importância do mercado de tabaco para o Brasil é cortado, impedido de falar e tomar qualquer decisão. Isso nos deixa mal, porque a Câmara Setorial representa os quatro pilares: produtores, trabalhadores da indústria, indústria e o próprio governo, que tem tentado impedir ou tirar a liberdade das pessoas de ter o livre-arbítrio.
Pontos positivos e negativos da COP?
Temos lido críticas de que não há necessidade de representantes da defesa do tabaco estarem aqui, pois é perda de tempo. É exatamente o contrário. A gente percebe, porque tira a tranquilidade e liberdade dos que participam das discussões, que estão se sentindo pressionados pelo grupo que está aqui. Isso mostra para eles que não estão com essa liberdade e certeza para prejudicar o setor. Decisões implementadas ainda não aconteceram, mas precisamos ter cuidado grande para que não sejam colocadas em prática e prejudicam os produtores. Temos no Sul 138 mil famílias que dependem desta atividade. São todos pequenos. Quando falam na diversificação, que no passado foi incluída no debate como reconversão, a gente sabe que todas as tentativas em eliminar o tabaco e substituir não tiveram resultados positivos.
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A imprensa também não tem acesso. Como o senhor vê a importância da presença da imprensa aqui?
O trabalho da imprensa é muitíssimo importante. Isso nos dá uma decepção muito grande, porque não há transparência do governo no que diz e no que faz e impede o acompanhamento e participação para escutar o que está sendo discutido. No momento em que aqueles que são unilaterais, totalmente a favor da eliminação do tabaco, podem entrar, os outros que querem transmitir a realidade não podem.
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