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DIRETO DA REDAÇÃO

Romar Beling: O Brasil, uma folha rio acima

O setor produtivo acaba de vivenciar a experiência de mais uma Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco, realizada em Genebra, na Suíça. Pela quinta vez na condição de jornalista da Gazeta, realizei a cobertura do evento, entre o dia 16 e a quarta-feira desta semana, quando iniciei a viagem de retorno. E foi com as vivências de quem já havia testemunhado debate semelhante em Moscou, em 2014; em Nova Délhi, em 2016; na mesma Genebra em 2018; e na Cidade do Panamá, em 2024, que pude conferir essa COP-11 na Suíça. A exemplo da anterior, a do Panamá, uma vez mais jornalistas oriundos da região produtora de tabaco e líderes e autoridades não foram admitidos no credenciamento.

A certa altura, em meu WhatsApp surgiu uma mensagem: “Se não têm acesso, o que foram fazer em Genebra?”. A minha resposta foi curta e direta: “Há muito o que fazer aqui também do lado de fora”. Explico o porquê da minha interpretação. Eu fora credenciado em três edições (as da Rússia, da Índia e a anterior da Suíça); mas o fato de poder entrar não significa, em absoluto, acesso a informação. Ocorre que a Comissão para Implementação da Convenção-Quadro (Conicq), no Brasil, estabelece um verdadeiro terrorismo na delegação para que ninguém tenha ou faça contato com imprensa ou liderança da área de produção de tabaco. Os que a representam vivem apavorados, e expressam isso com todas as letras.

Como não desconfiar das reais intenções de uma delegação de um país que age dessa maneira?
Um jornalista tem muito o que fazer do lado de fora, conferindo, por exemplo, contatos com a Embaixada (isso, repare, não ocorre dentro da COP). Nesse caso, uma das maiores evidências de que a Convenção-Quadro degringolou (e, no que tange ao Brasil, se desencaminha vergonhosamente) está em manifestação do embaixador brasileiro em Genebra, Tovar da Silva Nunes, tendo por testemunhas representantes do setor e imprensa: “Vocês estão de parabéns por essa persistência setorial em lutar por seus legítimos direitos e em buscar fazer a voz de vocês ser ouvida”. O que a delegação oficial brasileira na COP e a Conicq nunca foram capazes de colocar em prática (por incompetência ou jogo baixo de interesses), o embaixador enunciou.

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Por isso, no debate global em torno do tabaco, uma imagem pode traduzir o que acontece. Na ampla maioria das nações, o setor produtivo, legítimo e legal, é tratado com seriedade, e o comércio e a liberdade de consumo são preservados. Nesses países, é como se uma folha caísse na água de um rio e, obviamente, seguisse naturalmente junto com a correnteza. O Brasil é o único lugar no mundo em que a mesma folha cairia na água e no entanto iria corrente acima.

É de crer que o Brasil acha que é o único que está certo na forma como lida com o tabaco e seus produtos. Na Suíça, há fumantes em todos os lugares, e cigarros convencionais e eletrônicos (aqui proibidos por lei, mas onipresentes via contrabando, o que já é piada de péssimo gosto) podem ser adquiridos em mercadinhos de esquina. Será que isso a delegação brasileira viu? A Suíça, que não produz tabaco, não vê qualquer problema em consumir. O Brasil, segundo maior produtor e maior exportador, fala mal até do cultivo. É mesmo ter capacidade única para se colocar na contramão da história.

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