A Itália decidiu punir o feminicídio com prisão perpétua. Desde o dia 25 de novembro, após votação unânime no parlamento, a pena está valendo para assassinatos de mulheres cometidos por “motivos de discriminação, ódio ou violência”. Nesse país, a perpétua já é prevista para terrorismo, homicídio qualificado e crimes contra a segurança do Estado.
Problema mundial. Os italianos ficaram alarmados com o número de feminicídios neste ano: 116. Acharam demais. Enquanto isso, no Brasil, essa é a quantidade média de casos registrados em um mês. E o crescimento desse tipo de crime é muito mais do que uma “sensação” provocada pelo noticiário cotidiano, como alguns preferem acreditar.
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Só na cidade de São Paulo, as ocorrências mais que dobraram em menos de uma década. De 13 feminicídios de 2016, passaram para 53 até outubro deste ano, conforme a Secretaria de Segurança Pública. No Rio Grande do Sul (dados do governo do Estado), 57 mulheres foram assassinadas de janeiro a setembro de 2025, contra 47 no mesmo período de 2024.
Essas estatísticas referem-se apenas aos casos consumados, e não à inifinidade de situações em que as vítimas, apesar de tudo, sobreviveram. E carregarão duras sequelas pelo resto da vida. Como o episódio macabro que aconteceu no último sábado, em São Paulo.
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Uma mulher foi atropelada e teve as pernas esmagadas ao ser arrastada pelo carro ao longo de um quilômetro. Mãe de dois filhos, Tainara Souza Santos passou por cirurgias e suas pernas precisaram ser amputadas, diante da gravidade das lesões. O agressor, alguém com quem ela tivera relação passageira, foi preso. Mas por quanto tempo?
Na noite anterior, o influenciador e “coach de masculinidade” Thiago Schutz, conhecido como “Calvo do Campari”, foi preso em flagrante por agredir a namorada. Ele é uma das referências do chamado movimento Redpill, estranho delírio coletivo que ganhou força e verniz de sofisticação no guarda-chuvas da internet (que aceita literalmente qualquer coisa).
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No ambiente social dos Redpills, os quais se consideram “homens de verdade” (nos meus tempos pré-internet isso tinha outro nome, mas vamos deixar para lá), as mulheres são basicamente inimigas e fonte de todas as desgraças. Elas também não têm nenhum mérito individual. São apenas “mulheres”, o que traz consigo um pacote completo de atributos inferiores.
Em um mundo no qual a identidade social cada vez mais é construída no confronto com um adversário (real ou imaginário), os Redpills encontraram o seu. Certamente, eles não inventaram a violência contra a mulher. Mas também não ajudam em nada a enfrentá-la.
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