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Projeto Luci d’Artista propõe levar a arte para os espaços públicos de Turim

“Il volo dei numeri”em instalação sobre a Mole Antonelliana, símbolo de Turim, sede do Museo Nazionale del Cinema | Foto: Paola Zuliani/Fiaf

O escritório de Turismo de Turim e Província me convidou para um passeio especial: admirar as luzes da cidade em um tour guiado com o City Sightseeing Bus. Aquele ônibus famoso de dois andares que para nos principais pontos turísticos da cidade. Eu sentei bem em frente, com uma visão privilegiada no segundo andar. O automóvel é aberto, então você tem uma visão ampla, em 360 graus, durante o passeio. Para mim, que amo o Natal, era uma proposta irresistível. É a época mais mágica e iluminada do ano, mas Turim levou esse conceito para outro patamar.

Primeiramente, a cidade já é bela por si só: Turim é elegante, romântica, repleta de segredos a serem descobertos. E agora, no inverno, confesso que quando a noite chega, ela ganha uma atmosfera ainda mais charmosa. Com suas luzes, se torna colorida, divertida, envolvente.

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O projeto se chama Luci d’Artista, idealizado em 1998 por Fiorenzo Alfieri e inspirado no movimento Arte Povera. Na Itália dos anos 60 e 70, artistas passaram a utilizar materiais inusitados em suas criações: alimentos, madeira, folhas secas, roupas, sapatos… tudo que se possa imaginar, numa crítica ao consumismo e numa tentativa de aproximar a arte da vida. Dentro dessa proposta, começaram a inserir também lâmpadas, luzes e projeções.

Um dos nomes mais emblemáticos desse período é Mario Merz, baseado em Turim, assim como tantos outros artistas da época. Ele foi pioneiro na utilização do neon nas artes plásticas. Il volo dei numeri, obra de Mario Merz, representa a sequência de Fibonacci – descoberta pelo matemático toscano que identificou uma progressão numérica presente na natureza, em que cada número é a soma dos dois anteriores. Merz incorporou essa série matemática em uma instalação sobre a Mole Antonelliana, monumento símbolo de Turim, atualmente sede do Museo Nazionale del Cinema.

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Essa intervenção artística foi a chama piloto para que Alfieri idealizasse o projeto Luci d’Artista. E, hoje, a obra de Merz é uma das peças em exposição permanente na cidade. Estamos nos referindo a um movimento único no mundo: um museu de arte contemporânea de luzes, a céu aberto. As obras são assinadas por artistas renomados, italianos e internacionais. Não são luzes de Natal, são verdadeiras obras de arte, espalhadas principalmente pelo centro histórico de Turim, permitindo que cidadãos e turistas admirem grande parte delas enquanto passeiam pela cidade.

Tive o prazer de entrevistar Antonio Grulli – escritor, jornalista, crítico de arte e atual curador do Luci d’Artista – que compartilhou sua visão sobre o projeto: “É um movimento democrático em todos os sentidos. Primeiramente, para o público: muitas pessoas não frequentam museus ou não têm acesso à arte, então levamos o museu diretamente até elas. E, segundamente, com os artistas, pois geralmente lhes damos carta branca para a criação, e são eles que escolhem o lugar onde sua obra será exposta na cidade.”

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Segundo ele, o processo é dinâmico e colaborativo: “Estamos sempre reestruturando obras, em constante diálogo com os artistas, e buscando formas viáveis de concretizar suas ideias junto aos engenheiros. Sem dúvida, é um verdadeiro laboratório de experimentação entre indústria, engenheiros, artesãos e artistas.”

Grulli destacou que cada obra do projeto vive seu próprio processo criativo: “Em alguns casos, tudo começa pela escolha do local ou monumento onde a obra será instalada. Mas a verdadeira chave do sucesso está na luz em si – ela toca diretamente a alma e o coração das pessoas. Sem dúvida, este projeto é uma experiência espiritual. Só com o Luci d’Artista é possível alcançar esse senso di meraviglia.”

É curioso pensar que, se as pessoas fossem a um museu ver a exposição de um artista, talvez não se encantassem tanto quanto se encantam com suas obras quando transformadas em luz. A luz nos toca de forma direta – talvez porque nela nos reconhecemos, porque ela acende algo dentro de nós. Existe aí uma magia discreta, a de enxergar a si mesmo, de reacender a esperança e a beleza mesmo em um mundo marcado pela correria, pelo medo, pela imprevisibilidade. É um convite ao presente, um chamado para voltar a ser criança.

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E eu me senti, de fato, criança outra vez. Lembro do teto do meu quarto de infância, onde meus pais haviam colado estrelas e planetas que brilhavam no escuro. Quando as luzes se apagavam, minha imaginação acendia, criando histórias até me encontrar nos sonhos.

Enquanto explorava Turim, meu olhar curioso buscava por tesouros artísticos. A cada esquina, pátio, pórtico ou praça em que encontrávamos uma obra, era como descobrir uma joia preciosa. A Via Po, uma das principais ruas da cidade, refletiu meus sonhos de infância, também decorada com planetas e cometas.

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E ali, sob as luzes de uma cidade inteira, revi as mesmas estrelas de quando eu tinha 5 anos. Só que agora bem maiores, e muitos dos sonhos mais profundos da minha alma, já realizados. Luci d’Artista é uma vivência que vale profundamente a pena. É um encontro com a beleza e a magia do mundo externo, que nos faz lembrar da luz que brilha dentro de nós mesmos.

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Assim, encerro esta coluna em homenagem aos 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul, data que coincidiu também com o meu primeiro ano na Itália. Nos reencontraremos no ano que vem, em um novo formato.

Agora como estudante de Ciências da Comunicação na Universidade de Torino, os textos serão mais voltados à descoberta da literatura italiana e dos lugares por onde passaram escritores e intelectuais. Sabemos que a literatura italiana é uma das mais belas do mundo, e será um prazer imenso compartilhar esse universo com vocês. Desejo a todos um ótimo Natal e um próspero Ano Novo.

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