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JOSÉ ALBERTO WENZEL

A cruz e a gameleira

Diamantina amanhece com jeito de saudade. Há 45 anos, um jovem estudante encontrara no “Centro de Geologia Eschwege” guarida para conhecer a Serra do Espinhaço. Pela manhã, cada aprendiz recebia um sanduíche e cantil. Quem quisesse poderia levar uma pequena barra de chocolate. Todos aceitavam. Assim se passava o dia: andando, mapeando rochas e ocorrências mineralógicas. Com parcimônia se mordiscava o pão, e com ainda maior cautela, em goles curtos, se consumia a água. Sempre que surgia uma vertente, havia que se reabastecer. À tardinha, caso ninguém tivesse se perdido – o que era muito comum acontecer –, todos se apressavam para chegar ao ponto previamente marcado para retornar à sede da escola de geologia.

Conhecer, ou ao menos se aproximar de alguma compreensão do que significa a potência mineralógica das “Minas Gerais”, movia os apaixonados pela natureza majestosa e, ao mesmo tempo, tão frágil. Mapear formações rochosas vai bem além de lançar informações em plantas, traçar perfis, identificar anomalias, cubar jazidas e definir a geo-história. Rochas se modificam, cristais crescem, águas percolam, misteriosas relações ecossistêmicas se estabelecem. Como entender tudo isso, sem se tornar um mero executor de tarefas minerárias? Uma possível resposta pode estar na gameleira em frente à Igreja do Rosário, que não fica longe da Pousada do Garimpeiro, considerado o “marco zero” da “Estrada Real”. Caminho que se inicia em Diamantina, segue até Ouro Preto, quando se bifurca em direção a Parati e ao Rio de Janeiro. Estrada sofrida, de muitas trajetórias, feita de sangue escravo, também derramado na edificação de templos.

A tendência é de priorizar atenção à Igreja, construída entre 1728 e 1731, a mais antiga de Diamantina. Bela, barroca, imponente e triste; pois como ignorar a dor ali incrustada pelo sofrimento forçado? Todavia, uma gameleira guarda instigante revelação. Entre seus galhos, a árvore sustenta uma cruz. As traves deformadas se encontram estranhamente amarradas por arame e seu tronco, mutilado. Sinais de queima da madeira emprestam ainda maior dramaticidade ao cenário. “Foi um raio”, comenta uma senhora, que também observa a gameleira que carrega uma cruz.

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Talvez sejam as árvores que melhor entendam as rochas; nestas se mineralizam em sintonia com as solares fotossínteses e aquíferas manancialidades. Sim, quase junto à gameleira ergue-se um chafariz de bocas que jorravam águas comunitárias. Bocas respirantes de ares leves. Até cruzes se tornam menos pesadas quando suportadas pelos braços plantares das generosas árvores.

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