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LITERATURA

A década que marcou o mundo para sempre

Quando criança, aos 10 anos, o gaúcho Airton Ortiz, nascido em Bexiga, no interior de Rio Pardo, se fixou em Cachoeira do Sul, para dar continuidade aos estudos. Sua localidade de origem fica a meio caminho entre essas duas cidades. A primeira incursão, ao lado da família, havia sido para Capão do Valo, no interior de Candelária, e de lá, posteriormente, foi a Cachoeira. Começava ali um périplo que nunca mais seria interrompido, e que o levou a dar voltas ao mundo. A ponto de ele ser hoje um dos escritores de viagem seguramente com a maior milhagem já atingida por um autor nacional, e igualmente um dos mais viajados dentre todos os autores no planeta.

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Pois, com essa bagagem de vivências e esse currículo, no qual constam mais de duas dezenas de títulos só no catálogo específico de viagens, ele agora empreende uma viagem que não é geográfica, espacial, territorial. Ele decidiu viajar no tempo. E de volta ao passado. O próximo livro de Airton, com plano de lançamento para o segundo semestre deste ano, convidará o leitor a retornar com ele para a década de 1960. De tal modo que será uma espécie de uma biografia dessa década, sob o olhar impressivo e tendo como fio condutor as suas próprias lembranças.

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Airton Ortiz nasceu em Rio Pardo

Mais de um elemento desencadeou esse projeto, como detalha em entrevista exclusiva para o Magazine, por WhatsApp, na qual comenta motivações e inspirações para o livro atualmente em elaboração. Ortiz nasceu no dia 27 de novembro de 1954 e, portanto, está em vias de completar 70 anos. A chegada aos anos 60, portanto, coincidiu com a sua caminhada escolar, no primário e nos demais estágios de formação.

Os acontecimentos revolucionários daquela década, em todas as áreas humanas, o marcariam e determinariam muitos dos seus interesses. Agora, reunirá em 60 textos curtos as suas impressões, no livro cujo título será… Sessenta.

Um jornalista engajado em muitos projetos culturais

Airton Ortiz é jornalista, tendo concluído o curso em 1975, na PUCRS. Mas em termos de ocupações ou de áreas que mereceram sua atenção, seu envolvimento cultural parece não ter limites. Foi discípulo e colega de um expoente das comunicações no Estado, Flávio Alcaraz Gomes. Certamente no convívio com o mestre refinou-se ainda mais o ímpeto viajante.

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Apostou na edição de um jornal, Tchê!, que deu lugar a uma editora, igualmente Tchê!, responsável por projetos editoriais até hoje inigualados no Estado, como a série Esses Gaúchos. Então, em lugar de “apenas” editar outros, começou ele próprio a idealizar projetos literários, marcados pela curiosidade investigativa, pelo gosto algo inato pela aventura e pela integração cultural. Sua obra rendeu-lhe prêmios e homenagens, como a condição de patrono da Feira do Livro de Porto Alegre. Foi presidente do Conselho Estadual de Cultura e hoje preside a Associação Rio-grandense de Letras (ARL).

O mundo nas mãos

Os títulos dos livros de Airton Ortiz, no gênero de narrativas de viagens, já sinalizam para os périplos que ele realizou em diferentes regiões do planeta.

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Na série identificada pela aventura, pode-se ler: Aventura no topo da África, Na estrada do Everest, Pelos caminhos do Tibete, Cruzando a última fronteira, Expresso para a Índia, Travessia da Amazônia, Egito dos faraós, Na trilha da humanidade, Em busca do mundo maia e Vietnã pós-guerra. E então veio uma série dedicada a cidades, com Havana, Paris, Londres, Jerusalém, Nova York e Atenas, entre outras.

“Foi um pavio de liberdade”

Liberdade. É a palavra (ou o conceito) que se salienta no momento em que o jornalista e escritor Airton Ortiz busca definir o que foi, em seu entendimento, a década de 1960. E isso não apenas em realidade de Brasil, mas também de mundo. Ainda reverberavam, naqueles anos, a euforia e o alívio que, de certo modo, se seguiram ao final da Segunda Guerra Mundial e à derrocada do nazismo. Esse desmantelamento do ímpeto totalitário na Europa e em outros contextos globais dava a entender que, talvez finalmente, a sociedade havia superado a ameaça e os inquestionáveis riscos do poder mantido a qualquer custo (no que, como se viu ao longo das décadas seguintes, a humanidade estava redondamente enganada).

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Os anos 60 foram de entusiasmo muito especialmente no campo da cultura e das artes, com uma nova música embalando sonhos, e essa música da noite para o dia familiarizava os jovens com cabeludos como os Beatles e os Rolling Stones. E veio a corrida espacial, com norte-americanos e soviéticos medindo, palmo a palmo, distâncias no espaço sideral até finalmente, em 1969, Neil Armstrong pôr o pé na Lua.

Mas nem só além da atmosfera terrestre norte-americanos e soviéticos mediam forças. Aliás, a atmosfera andava bem carregada na superfície do nosso planetinha, em meio à Guerra Fria nas regiões de influência desses dois grandes blocos, que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. E, no Brasil, bem, no Brasil, vivia-se o auge do regime militar, cuja marca de rigor se cristalizou no AI-5, em 1968.

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São lampejos dos anos 60 que Airton Ortiz vai iluminar com ênfase em seu novo livro, como detalha na entrevista exclusiva concedida ao Magazine. Ao que aconteceu naquele período, e no mundo todo, “nem o interior do Rio Grande ficou imune”, como ressalta. Confira as suas reflexões sobre essa época.

ENTREVISTA

Airton Ortiz
Jornalista e escritor, presidente da Academia Rio-grandense de Letras

Ortiz em banco da Praça da Alfândega, em Porto Alegre, cidade na qual está radicado

MagazineQual o grande motivador para o senhor dedicar um livro específico à década de 1960?

Pela década em si e para eu compreendê-la melhor. Os anos sessenta foram um divisor de águas na história do século 20. Na época, eu era muito jovem e, embora tudo isso me atingisse, eu não compreendia exatamente o que estava acontecendo. Então, este livro é o resultado de uma pesquisa que eu comecei para mim mesmo. E, agora, decidi compartilhar com os meus leitores.

Qual o enfoque que o senhor pretende dar ou está dando ao conteúdo ou como deve ser construído?

O conteúdo parte daquilo que me afetou durante a década, que me inquietava, e que ainda me afeta. Então, é uma visão pessoal, uma leitura particular dos anos sessenta. Não é uma pesquisa científica. Mas para quem foi muito jovem naquela época, creio que o esclarecimento de certos acontecimentos vai ser útil, pois muitos deles ainda repercutem em nossas vidas, são transformações que vieram para ficar. A linguagem vai ser a da reportagem, quero trazer os acontecimentos em si. Como foi uma década muito controversa, por ser revolucionária, quero que cada um acesse os fatos e tire suas próprias conclusões.

O que mais se salienta para o senhor nesses anos 60, e que o senhor citaria como pontos altos da década, seja em fatos, seja em personagens?

Na política (Guerra Fria, Guerra do Vietnã, Golpe Militar no Brasil), na ciência (pílula anticoncepcional), na tecnologia (descida do homem na Lua), na cultura (a Contracultura) e em especial nos costumes, o que nos atinge mais diretamente (o movimento hippie, o movimento feminista, os Beatles, a Bossa Nova).

Onde o senhor cumpriu essa década, em que ambientes, cidades ou em quais etapas de sua caminhada?

Eu morei no interior do município de Candelária até o final de 1965, quando me mudei para Cachoeira do Sul, para estudar. Tinha 10 anos nesta época. Então, para mim, as transformações dos anos sessenta tiveram um duplo impacto: além das rupturas pelas quais o mundo passava, com reflexo maior nas cidades, elas me pegaram desprevenido, pois na zona rural onde eu morava ainda estávamos vivendo, por assim dizer, a década de 1950. Eu usava cabelo estilo cadete, meus novos colegas de aula eram cabeludos; eu pedia para os meus pais para ir ao cinema, meus novos amigos fugiam de casa e iam viver como hippies vendendo artesanato. Lá fora eu ouvia Teixeirinha, na cidade encontrei os Beatles. Foi um choque tão grande que até hoje estou digerindo. E o objetivo desse livro é compreender o que tudo isso significa em minha vida atual. E de quem teve experiência parecida com a minha.

O que, dos anos 60, em sua avaliação, segue mais presente nos dias atuais, e o que determina essa permanência?

Os movimentos de Contracultura, iniciados nos anos sessenta, mudaram a percepção que as pessoas tinham de si mesmas e, em consequência, do mundo. Tudo que era sagrado veio abaixo, em especial as regras de uma sociedade opressora. O “Faça amor, não faça guerra” e o “É proibido proibir” desestabilizaram o mundo mais do que a bomba de Hiroshima. O surgimento das liberdades individuais, o direito ao próprio corpo, o reconhecimento das minorias, a negação da hiperindustrialização, a valorização da natureza. Quase tudo de bom que existe hoje surgiu nos anos sessenta. E as pessoas precisam saber disso.

Os anos 60 e suas marcas foram fenômeno global, nacional? E como, num outro ritmo das comunicações, repercutiram mesmo longe dos grandes centros?

Foi um fenômeno global, consequência de um pós-guerra onde as pessoas se deram conta de que era preciso dar um novo sentido às suas vidas. A derrota do nazismo acendeu um pavio de liberdade que logo se arrastou por todas as cidades, a começar pela sofrida Europa. Foi amplificado nos Estados Unidos e de lá para o mundo. Nem o interior do Rio Grande do Sul ficou imune.

Por falar em comunicações, para o senhor, na condição de jornalista, também nessa área os anos 60 revolucionaram?

Sim, embora no Brasil essa evolução tenha ficado prejudicada. Vivíamos em plena Ditadura Militar, a imprensa sob severa censura, jornalistas sendo torturados e assassinados nos porões dos quartéis, tudo era mais difícil. O governo militar, de certa forma, retardou a entrada do Brasil nos anos sessenta. Na imprensa o rompimento dessa mordaça se deu em 1969, com o surgimento do jornal O Pasquim, no Rio de Janeiro. Millôr Fernandes e sua turma faziam um jornalismo inteligente demais para ser entendido pelos censores e, a partir daí, mudou toda a imprensa brasileira.

Para quando o senhor pretende ter o livro pronto e quando deve ser lançado?

Quero lançá-lo na Feira do Livro de Porto Alegre, em novembro.

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