A 35ª Feira do Livro e 1ª Festa Literária Internacional de Santa Cruz do Sul receberam nessa quarta-feira, 6, a patrona Martha Medeiros. A escritora e jornalista visitou brevemente a Praça da Bandeira e passeou pelas bancas, elogiando a estrutura em torno do chafariz. Deixou também uma mensagem no mural presente no Espaço Sesc – Erico Verissimo 120 anos.
À noite, ela subiu ao palco do auditório central da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e participou de um bate-papo com a comunicadora Paula Blass, responsável pelo projeto Meus 20 Minutinhos, que conta com dez clubes de leitores em Pelotas. De acordo com a organização, 600 pessoas haviam se inscrito para o evento.
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Martha compartilhou com o público histórias de sua trajetória na literatura, que em 2025 completa 40 anos. Iniciou falando da catástrofe climática que afetou o Estado no ano passado e levou à suspensão da Feira do Livro de Santa Cruz, na qual ela estava confirmada como patrona.
Conforme a escritora, ver o auditório lotado demonstra que o Estado está se recuperando. Ressaltou o quanto essa situação despertou nos gaúchos a solidariedade. “Quando estamos passando por um momento difícil, parece que nunca vai acabar. E tudo acaba se ajeitando. Claro, as mudanças climáticas estão aqui e as coisas podem voltar a acontecer. O que importa é que estamos reconstruindo.”

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Também refletiu sobre o início da carreira, em 1985, quando aos 23 anos publicou um livro de poemas. Moradora de Porto Alegre, enviou seu trabalho datilografado, em uma pasta, a uma editora de São Paulo, que acabou lançando a obra. “Nem nos meus delírios mais alucinados eu imaginava que a minha carreira ia tomar o rumo que tomou. Achava que era um golpe de sorte, mas nos impulsiona a repetir e tentar melhorar”, admitiu.
Martha salientou que quem trabalha com arte não pode ter medo de se expor. “Não adianta criar e não mostrar. Seja o que for, uma música ou um quadro. Te exponha. Se gostarem de ti é bom e se não gostarem, faz parte do jogo.”
Reiterou ainda a importância da leitura e da literatura na sociedade, algo que considera fundamental para qualquer profissão. “É uma questão de formação como cidadão e ser humano”, afirmou.
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Preocupação com o impacto da inteligência artificial na sociedade
Antes de visitar a Feira do Livro e posteriormente participar do bate-papo na Unisc, Martha conversou com a imprensa no Aquarius Flat Hotel. Em seu “momento Lady Gaga”, como classificou, refletiu sobre sua carreira e, entre outros assuntos, as consequências da inteligência artificial.

Sobre ser inspiração
“O retorno que eu tenho diz que sou representativa para a sociedade. Mas eu procuro não pensar nisso, sabe? Isso não é uma coisa que me mobilize, que as pessoas me levam a sério. Até porque eu não gosto de ter nenhuma pressão na hora de escrever.
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Pressão de prazo é uma coisa. Mas a pressão de corresponder, procuro me liberar disso porque daí eu perderia a naturalidade e a espontaneidade. Daqui a pouco você está querendo passar mensagem e não é essa a questão. Você tem que traduzir o que você pensa. Eu sou mulher, a minha vivência é feminina, então, naturalmente, dialogo com as mulheres, mas não propositadamente. Isso é natural por termos uma experiência de vida familiar. O que não significa que eu não tenha um grande público masculino também, porque eu procuro falar sobre emoções e sobre as relações humanas. E isso não tem gênero.
Quando eu falo de solidão, de infinitude, da nossa relação com a tecnologia, sobre os nossos desesperos, os mistérios da vida. Tudo isso é comum a todos. E eu sei que eu chego muito nos homens também, além de jovens e das pessoas mais velhas. Isso é talvez o meu grande patrimônio, não ser tão segmentada nesse ponto.”
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A formação de escritores e as novas tecnologias
“É fundamental isso agora, porque alguém que queira escrever num mundo de ChatGPT é um milagre. Temos o dever de ainda promover uma luta praticamente perdida, mas que as pessoas produzam do zero, de dentro de si, alguma coisa original.
Porque os recursos agora são inúmeros, é um caminho sem volta e eu estou muito preocupada com isso.
Então, claro, a gente tem que incentivar leitores – mais leitores até do que autores –, mas escritores também para continuarem dando a versão que eles têm do mundo. Mas nós sabemos que a inteligência artificial veio com tudo. Acho que corremos um grande risco de sermos colonizados pelos algoritmos. Daqui a pouco ninguém mais sabe o que quer mesmo assistir, o que pensa mesmo. Daqui a pouco você está induzido a tudo, o que você sente, o que pensa, o que você quer ouvir e quer ver. Porque tudo passa a ser entregue conforme um desejo que não é mais teu, mas uma manipulação de algo muito maior.
Não quero ser alarmista aqui, mas acho que estamos vivendo um momento muito difícil. E eu vou defender sempre que a gente tenha regulação das redes digitais, porque, senão, vamos ficar à deriva, totalmente na mão das big techs.”
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