Tudo começou a partir das trevas, conforme a própria bíblia anuncia. Acordamos ou antes de o sol clarear as manhãs, ou na escuridão que trancamos em nossos quartos.

A escuridão não pode ser artificial; a luz sim. Se a sabedoria é um lampião, algo escondido só se torna perceptível quando a luz incide sobre o objeto de análise.

Vivemos ou em trevas ou sob a cegueira do que queremos ver. Nossa própria escuridão não reflete quando olhamos o espelho.

Por isso cada um vê sua realidade e transmuta sua vida para a luz que vê. Se o pasto está claro, pastamos nosso dia a dia. Se vemos a luz além das coxilhas, nosso pensamento escapa para algum horizonte, queremos viajar para outros pastos.

Se vemos a luz acima, queremos ver as estrelas. Se não vemos luz, apenas seguimos o óbvio, que é não ver nada.

É perigosamente fácil não enxergarmos o cansaço borrando nossas faces pelo acúmulo de tarefas. Querendo jogar a luz do otimismo em tudo, as trevas da exaustão esperam uma oportunidade para te nocautear.

Semana passada, senti uma tontura forte no final da manhã. Foi como se as cortinas do dia se fechassem diante de mim. Assim me dirigi até meu quarto e, pelo resto do dia, a força do cansaço me derrubou com um sono comprido.

Depois daquele evento, quando os raios de luz do dia seguinte me entraram pelos vãos da persiana, comecei a refletir a respeito daquele sinal que a vida havia me dado. Repensei minha rotina na posição de doente.

A mudança de perspectiva é ver a vida das estrelas. De cima pra baixo. Ou ao menos de um ângulo de visão de uma sacada, mesmo que a vista seja muito melhor em sacadas superiores.

As estrelas brilham nas noites claras, quando o chão está escuro. Certas coisas só conseguimos enxergar na calma de quando desaceleramos.

Algumas luzes da vida não são vistas ao percorrer caminhos, ainda que seja fundamental montar bases para o crescimento a partir das vivências. É preciso subir em direção às estrelas, para ver a realidade de cima.

Descanso é necessário. Aprender a descansar dentro da própria escuridão é um processo.
Precisamos ser produtivos, devemos responder mensagens o quanto antes e entregar o melhor resultado no menor tempo.

Esse embalo da vida nos dá a impressão de termos que dirigir sempre com a luz alta. Acelerar, chegar ao destino, não se assustar com a boca da noite ou com o raiar do dia.

Todas as escolhas cobram seu preço. A saúde não perdoa nenhuma dívida, exigindo alguma luz para si.
Escolhas. Busque a luz, respeite a escuridão e, quando desacelerar, contemple a luz das estrelas.

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