Não tenho informação precisa ou definitiva, mas acredito que a primeira feira do livro de Santa Cruz do Sul tenha sido a Fiel – Feira Intercolegial Estudantil do Livro. Por sugestão do leitor Ruy Alberto Kaercher, escrevo um pouco sobre esse movimento, como surgiu e como se desenvolveu em nossa cidade. Juntamente com o padre Silvério Schneiders e a Irmã Anelise Weber, eu, então recém-chegado a Santa Cruz, era um dos líderes da organização. Aqui ocorreram quatro edições: 1969, 1970, 1971 e 1972. Penso que a coluna se impõe, até para que não se perca essa página da história.
A Fiel surgiu em Curitiba e seu grande idealizador foi o padre santa-cruzense Afonso de Santa Cruz, nome adotado pelo jesuíta Afonso Gessinger (falecido em 2020). Percebendo um vazio de leitura e a desarticulação dos jovens estudantes no final da década de 60, propôs como saída o lançamento do projeto, envolvendo as escolas da cidade. O objetivo maior era a venda de livros na praça e o incentivo à leitura, no entanto várias outras atividades sociais e culturais eram desenvolvidas, ensejando o engajamento de milhares de jovens estudantes, principalmente no sul do país.
Em parceria com grandes livrarias de Porto Alegre, os livros eram trazidos em consignação. No Colégio Sagrado Coração de Jesus, estava a central das operações. Os livros eram desempacotados, precificados, para depois serem levados à praça. Todo o trabalho contava com a intensa participação dos estudantes das nossas escolas. Pedimos o apoio da prefeitura, que construiu e nos cedeu as barracas necessárias e eventual outro auxílio. Se não me falha a memória, eram em torno de quatro ou cinco modestas tendas. Edmundo Hoppe era o prefeito. A venda era inteiramente feita por alunos, que recebiam treinamento prévio sobre atendimento, escala de trabalho, como lidar com dinheiro, como cuidar dos livros. Aqui, um grande apoio vinha de Ernani Kipper. Era uma escola de vida.
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Um concurso de redações em nível nacional levava muitos jovens a escrever. Os melhores textos, oriundos de várias cidades brasileiras, eram selecionados e publicados em livro, resultando em quatro edições: Jovens escritores, Os jovens escrevem assim, Deixe o sonho entrar e O meu líder. Em todos eles, há redações de alunos de escolas de Santa Cruz do Sul, uma das cidades gaúchas promotoras do evento, também presente, pelo que recordo, em São Leopoldo, Cachoeira do Sul e Carazinho.
Durante a feira, delegações de escolas de diversas cidades se dirigiam para cá. Provinham da região e também das cidades onde existia o evento. Constituía um dos objetivos do movimento integrar jovens e incentivá-los a promover eventos similares. Para receber bem os visitantes, alunos locais eram capacitados para servirem de guias turísticos da cidade.
Outro momento relevante da Fiel era a noite cultural. No então Cine Vitória, estudantes das nossas escolas exibiam seus dotes artísticos para um auditório sempre lotado. Ali passaram os Canarinhos do São Luís, sob a batuta do saudoso Carmo José Gregory, o conjunto musical do Colégio Mauá, regido pelo também saudoso maestro Bendinha, espetáculos de dança, declamações, pequenas encenações, num festival de integração e alegria.
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Haveria muito mais a dizer, contudo o espaço é insuficiente. Li, com surpresa e alegria, que a Fiel ainda vive. Há uma edição de 2025 acontecendo numa cidade do interior de Minas Gerais. E em nossa cidade se avizinha a próxima feira do livro, um convite a que nosso povo venha à praça e se encontre com a vida que os livros oferecem.
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