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Literatura

A praça é de novo dos livros (e nossa): confira entrevista com Fabrício Carpinejar, patrono da Feira do Livro de Porto Alegre

O patrono da Feira do Livro de Porto Alegre em 2021 é o cronista, poeta e jornalista Fabrício Carpinejar

O avanço na vacinação contra a Covid-19 e a perspectiva de uma retomada dos eventos se cristaliza, para os gaúchos, na volta presencial de um dos mais importantes eventos culturais do Brasil e das Américas: a Feira do Livro de Porto Alegre. Com o histórico de mais de seis décadas atraindo multidões para a Praça da Alfândega, no Centro Histórico da capital, a festa da leitura chega a 2021 ensaiando um novo tempo. Na próxima sexta-feira, dia 29, a feira começa novamente em formato presencial, com o obedecimento aos protocolos de prevenção ao coronavírus, mas cumprindo seu papel tradicional de fomento à leitura e ao saber.

A 67ª Feira do Livro se estenderá até o dia 15 de novembro, mais compacta, é verdade, em relação a edições anteriores, mas com a manutenção de suas atividades. Lançamentos de livros, sessões de autógrafos, palestras, tudo será mais uma vez oferecido. E o slogan da edição, “Para Ler um Mundo Novo”, traduz a proposta. Por duas semanas, 56 associados estarão de volta às barracas (o que equivale a cerca de 60% da participação de 2019), com o clássico mix de lançamentos, novidades e, claro, descontos e caixas de saldos.

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Sob condução da Câmara Rio-Grandense do Livro, a programação oficial da área geral prevê, entre outros, 36 encontros em lives a serem transmitidas, às 18 horas e às 19h30, de um estúdio criado no Memorial do Rio Grande do Sul. O pavilhão dos autógrafos individuais segue ao ar livre, em sessões reduzidas e espaçadas, prevendo 360 ao longo da feira. E há, ainda, agenda específica para a área infantil e juvenil.

Todas as informações sobre a programação diária poderão ser conferidas pelos interessados no site feiradolivropoa.com.br ou em youtube.com/user/feiradolivro.

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Aniversário foi nesse sábado

O patrono da Feira do Livro de Porto Alegre em 2021 é o cronista, poeta e jornalista Fabrício Carpinejar, natural de Caxias do Sul e radicado em Porto Alegre, um dos principais autores contemporâneos no País. Filho do casal de poetas Maria Carpi e Carlos Nejar, Fabrício esteve justamente de aniversário nesse sábado: nascido em 23 de outubro de 1972, ele completou 49 anos. Durante a feira, lançará novo livro, o volume de crônicas Depois é nunca, de 128 páginas, pela editora Bertrand Brasil.

Na verdade, é sua terceira obra no ano, em sequência a Coragem de viver, de memórias, pela Planeta; e ao infantil Médico das roupas, lançada em maio pela Bertrand Brasil. O período marcado pela pandemia evidencia uma forte produção de Fabrício, que em 2020 lançara Colo, por favor! e Carpinejar, sua volta à poesia. Ao todo, já assina cerca de 50 livros, com ênfase em poesia, crônica, infantojuvenil e reportagem. Na quinta-feira, já com a proximidade da feira, Fabrício Carpinejar concedeu entrevista ao radialista Rosemar Santos no programa Radar, na Rádio Gazeta FM 107,9, salientado a importância da retomada presencial do evento e sua expectativa para a edição da qual é o patrono. Confira abaixo a transcrição da conversa de Rosemar com Carpinejar, realizada por telefone.

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Fabrício Carpinejar – Patrono da 67ª Feira do Livro de Porto Alegre

  • Magazine – Esse período da pandemia revela-se um momento de intensa produção para ti, inclusive com três livros em 2021. Como enfrentaste e como assimilaste essa situação? Nunca a palavra foi tão fundamental, nunca a palavra foi tão essencial, nunca precisamos tanto alfabetizar as nossas emoções. Por tudo o que estamos passando, pelas perdas, pelo inesperado, pela instabilidade, por não ter mais um futuro controlado, medido a régua. Produzi muito, pela necessidade visceral de entender esse tempo absolutamente atípico. É um tempo em que não dá para fazer nenhum planejamento a médio e longo prazos. Nunca estivemos tão conectados e tão presentes; ou seja, a gente não tem nada além do agora, é preciso restabelecer novas aproximações afetuosas e o escritor, ele gosta de uma boa briga.
  • O “Depois é nunca”, teu novo livro, que acaba de ser lançado, é uma forma de sistematizar todo esse cenário social que vivemos, em que tantas famílias perderam entes queridos e nem se puderam despedir direito deles? São milhares de vítimas, mais de 600 mil vítimas, mas milhões de enlutados. Milhões de pessoas estão vivendo o luto em função dessas perdas. Tenho um lema nesse período: não sofrer à toa. Não sofrer à toa para respeitar quem realmente está sofrendo. Não temos noção, não conseguimos imaginar, o que os parentes de um ente querido vítima da Covid podem estar sentindo. É essa crueldade de não poder enterrar os seus mortos. Vivemos um tempo de Antígona: não podemos enterrar os nossos mortos, não podemos velar, não podemos prestar nossa homenagem, não podemos nos reunir para as palavras finais.
  • Teu olhar de cronista e de poeta se revela sempre muito atento às questões humanas. Como avalias a sociedade, diante da pandemia? Ainda não temos noção dos danos, porque não terminamos, não saímos da pandemia. Não tem como pedir a conta de algo que não terminou. Nossa economia está sofrendo com a recessão, com a inflação; nunca tivemos um número tão grande de desempregados, é um desamparo para todos os lados. Não tem como falar de nova normalidade porque não sabemos qual é a gravidade da situação. Estamos ainda tateando, apalpando o escuro. O que eu vejo é a necessidade de uma escuta, de uma escuta realmente atenta, caprichosa, das condições dos outros. Precisamos usar nosso tempo para o voluntariado e para a solidariedade. Reserve uma hora do seu dia para ajudar a quem está precisando. É uma hora do seu dia. Isso fará com que a empatia não seja mais uma escolha; seja uma obrigação. Não tem como ser indiferente a esse período absolutamente único, atípico, triste.
  • O que representa para ti ser o patrono de uma das maiores feiras do livro das Américas justamente quando ela volta a ser presencial? Como pretendes curtir o contato com os leitores? Eu vou abraçar com os olhos, vou contar histórias, vou despertar a responsabilidade afetiva, a partir de palestras, de conversas. Quero estreitar os livreiros com os leitores, quero demonstrar o quanto a feira é um patrimônio intelectual e histórico do Estado. Estou realizando um sonho infantil ao me tornar patrono, e por um momento eu serei a ponta-de-lança do mercado editorial. E o que eu quero é inspirar crianças e adolescentes a transformarem a feira numa agenda obrigatória sempre, no final de outubro e no início de novembro. Que se crie e nunca se perca esse hábito de levar a família para a feira. Fazer lista de livros para dar de amigo-secreto, de presente de Natal e no final do ano. A feira é a maior realização livreira a céu aberto da América Latina; não é pouca coisa. Temos de demonstrar orgulho de toda essa história escrita nas barracas, nos jacarandás e no coração da Praça da Alfândega.
  • Que recado deixas para os leitores, como um convite para que prestigiem a feira e desfrutem de novo desse valioso momento de circular pela praça, escolher livros e conversar com autores e público? Como os gaúchos devem acolher a Feira do Livro 2021? É uma feira heroica. É a maior feira porque é a feira da resiliência. São 56 barracas que sobreviveram a dois anos de portas fechadas. Temos de buscar essa informação, essa cultura, agregada com bom humor, porque esses livreiros são os nossos Quixotes, esses livreiros são os nossos combatentes. Uma coisa é ler um livro ao acaso, outra é ler um livro aconselhado por um livreiro, que leu esse livro, que traz a experiência de vida desse livro, que é capaz de antever o que você procura. Não há maior atendimento customizado, personalizado, do que o do livreiro. O livreiro não apenas oferece um livro. Ele oferece a sua história de vida.

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