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A revolução do gelato de Turim: o famoso “Pinguino”

Bea Dummer em uma visita à Gelateria Pepino, na Piazza Carignano, em Turim | Foto: Niccolò Fusaro

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Se há algo que o italiano realmente aprecia, é saborear um gelato durante uma passeggiata – aquele passeio sem pressa pelas ruas da cidade. Basta olhar ao redor, em qualquer esquina de Torino ou em praças movimentadas, para ver alguém com uma taça ou casquinha nas mãos. Mais do que um simples doce, o gelato é quase um ritual social, marcado por convites espontâneos como: “Andiamo a prendere un gelato?” Seja numa tarde quente de verão, como pausa refrescante, ou apenas pelo prazer do sabor, o gelato ocupa um lugar especial na rotina – e nas almas italianas. É uma experiência sensorial repleta de história, arquitetura e tradição.

Essa tradição, aliás, está intimamente ligada aos Cafés Históricos da cidade, que desempenharam um papel fundamental na construção social e cultural de Turim. Foi no Caffè Fiorio, nos anos 1930, que se introduziu o gelato em cone, como o conhecemos hoje em Torino. A partir de então, as pessoas podiam passear enquanto o consumiam. Até então, o gelato só podia ser degustado sentado, com colher, dentro de uma gelateria.

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Na época, porém, essa novidade foi, ao mesmo tempo, um escândalo e um grande sucesso. Vale lembrar que Turim era a cidade da corte dos Savoia – uma sociedade elegante, cheia de rituais, códigos e regras. Ver as senhoras caminhando pelas ruas com um cone de gelato nas mãos era algo ousado, totalmente fora do que se esperava de uma dama refinada. Um verdadeiro escândalo! Nessas horas, eu penso: ainda bem que as mulheres conquistaram seus direitos – o voto, o trabalho, a liberdade de expressão e, sim, até a liberdade de comer um gelato em cone. Algo tão simples, mas que, no passado, não lhes era permitido socialmente. E, para piorar, além de ser considerado um gesto deselegante, havia o risco prático: o gelato derretia rápido no calor do verão e podia manchar os vestidos refinados das senhoras. Um desastre social – e fashion. Capaz até de arruinar a reputação de uma dama!

Para melhorar a experiência do consumidor – e tornar o sorvete mais “comportado” – a Gelateria Pepino, fundada em 1884 por Domenico Pepino, um napolitano que veio a Turim em busca de sorte, trouxe mais uma inovação à produção de gelatos artesanais. Ao longo dos anos, Pepino se tornou fornecedora da Casa Real dos Savoia e referência em elegância e tradição. A Gelateria Pepino, localizada na Piazza Carignano em Turim, é inclusive a gelateria mais antiga da Europa. 

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Foi ali que, em 1938, nasceu o Pinguino – o primeiro gelato no palito coberto de chocolate do mundo. A criação foi patenteada sob o número 58033 e logo se espalhou pela cidade – e depois, pelo mundo.

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A união do gelato com o chocolate só foi possível graças à família Cavagnino, que adquiriu a gelateria quando Domenico Pepino decidiu se aposentar e retornar a Nápoles, para descansar sob as asas do Vesúvio. Pepino, no entanto, ainda treinou os novos proprietários por dois anos, garantindo que sua qualidade e receitas fossem mantidas. E assim foi. Um imigrante que veio do sul da Itália para o norte, acreditou em seu sonho, realizou, e depois retornou para suas amadas terras de origem. Podemos dizer que é uma história de sucesso.

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Os Cavagnino já estavam imersos no universo da indústria alimentícia – eram proprietários de uma fábrica de chocolate. Com profundo conhecimento nos processos de produção, conseguiram integrar essa expertise à tradição do gelato artesanal.

Mais do que uma solução prática, o Pinguino representava uma nova forma de viver o gelato. Um gesto simples, quase transgressor, que transformava o ritual de comer sorvete em algo mais leve, livre – e deliciosamente moderno.

No início, o gelato di passaggio – aquele para levar e saborear enquanto se caminha – custava caro: o valor de uma lira. O mesmo que um ingresso de cinema. Era necessário escolher: ir ao cinema ou sair para prendere un gelato. Ainda assim, era mais acessível do que sentar-se para consumir um sorvete na cremeria, como mandava a etiqueta da época. Com o tempo, o gesto foi se popularizando, e o gelato no palito acabou se tornando um verdadeiro clássico.

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E sobre o nome tão simpático, Pinguino… Acredita-se que tenha surgido por causa das cores do sorvete: o branco da crema, como a barriga de um pinguim, envolto no marrom do chocolate. Eu consigo ver a semelhança – e você?

Brincadeiras à parte, todos sabemos da importância do gelato na cultura italiana. Mais do que uma sobremesa, ele representa um verdadeiro modo de viver.

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É na simplicidade de um gelato que a Itália revela sua arte de celebrar o presente. Agradecimentos especiais a Edoardo Cavagnino, hoje proprietário da Gelateria Pepino e presidente da Associação dos Cafés Históricos de Turim e do Piemonte que me forneceu o seu tempo e informações para que eu realizasse esta matéria. Se vocês caros leitores, vierem a Turim, sugiro fortemente uma visita à Gelateria Pepino para experimentar o famoso Pinguinho.

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