Repercutiram bem “as saudações das ruas”, abordadas na vez passada nesta coluna, inclusive alguns lembrando de outras mais pessoais, que, de tantas, até havia omitido. A leitora e apreciadora dos escritos neste espaço, Nadir Helfer, recordou de uma frase que seu marido Guido Helfer, já falecido, sempre proclamava em nossos encontros nas caminhadas: “Benno Bernardo, cada chute um petardo!”, aventando que, pelo visto, conseguira fazer “fama por este petardo”.
De fato, em tempos já bem idos e por isso já um tanto esquecidos, ou por não serem mais uma realidade, o chute forte no tão presente futebol era uma característica pessoal nos gramados (e pistas de salão) regionais. Tanto que na vizinha Venâncio Aires, mais perto da divisa com Santa Cruz, onde tenho minhas origens e belas recordações, todo reencontro com alguém desse período e desses campos não deixa de lembrar “aquele golaço inesquecível contra o Guarani”, time profissional da cidade que veio colocar faixas de campeão no Esporte Clube Fluminense da Linha Sapé. Do meio de campo, um petardo certeiro, em rebote de escanteio, acabou acertando em cheio a “gaveta” do gol, deixando sem reação o “guarda-meta” e boquiabertos a todos que viam a cena, inclusive o autor da façanha, que, de tão inusitada, merece mesmo ser lembrada.
E, assim, é prazeroso ouvir tantas outras, agradáveis e muito variadas saudações no dia a dia das caminhadas e encontros nas ruas e no trabalho, que não cheguei a referir. Não raro, elas vêm na língua materna dos imigrantes, o alemão, como o tradicional “Guten Morgen!” (Bom dia!), com o “Alles Gut?” (Tudo bom?), onde, não poucas vezes, nas obras, alguém, lembrando de tempos em que ainda se pescava nos arroios do interior, lasque um “Alles Cascudo?” (em referência ao “Alles Gut?”), ao que respondo que se fisca também algum “Lambari” (ou seja, não se pesca só o que se quer).
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Não falta o “Alles Blau?” (Tudo Azul?), embora às vezes não esteja tão azul, nem nas arenas futebolísticas, mas o otimismo impera nas respostas, com o também teuto “Immer!” (Sempre). Ou “Immer schaffen” (Sempre trabalhando), voltando à realidade, que amenizo, fiel à situação atual: “Aber langsam” (Porém, mais devagar…). Já no trabalho, ouve-se o diário “Bom dia, alegria!”, de nosso gerente de rádios, Leandro, e ainda repercute resposta dada pelo ex-colega Régis à pergunta se estava “Tudo certo?”: – “Tudo certo, mas nada resolvido!”, dizia. Em complemento, cai bem a observação sempre feita pelo colega diagramador Derli, também veterano, quando alguém enfrenta alguma dificuldade: “Se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim, pois no fim dá tudo certo!”.
Ainda nas ruas, quando a saudação vem de estranhos e inclui qualificações fora da realidade, como “Oi, moço!”, é claro que querem especial atenção, geralmente a pedir informações, que respondo com muito gosto, afinal é o mínimo a fazer em nossas relações humanas e, também, para acolher bem a todos. Recente abordagem foi de alguém em busca do local de exames para emprego que conseguiu, mostrando a atração que continua a exercer a cidade também neste aspecto (a moça vinha de Uruguaiana, lá da fronteira). E, por falar nos Pampas, e em plena Semana Farroupilha, vai bem também um “Tudo bueno?”.
Enfim, o caminhar nas ruas é reanimado nestes tempos de primavera, e, como lembra outro colega (Dejair), não só pelo clima mais favorável, mas o acolhimento que propicia a partir dessas saudações, corriqueiras sim, mas cheias de significado e valor para quem as recebe e retribui. A própria natureza nas vias e parques nos acolhe e saúda, pelas cores das flores e pelos encantadores sons dos pássaros, que nossos ouvidos não entendem, mas certamente a nossa alma. Assim como ocorre com a voz não ouvida de quem encontro rouco pelos resfriados da época, mas o rosto traduz a expressão humana mais divina e bela que pode existir: um sorriso aberto e franco, com a luz e energia para viver o melhor dia.
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