Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

FORA DE PAUTA

As casquinhas de “cri-cri”

Poucas datas são tão reflexivas quanto a Páscoa. E isso me faz voltar ao tempo, às boas lembranças e pequenos ensejos que me permitem viajar na carona das memórias. Nas tradições que persistem, com as devidas adaptações. Era Páscoa, lá em Cachoeira do Sul. Dona Beatriz, minha mãe, recolhia as famosas casquinhas de ovos para a data festiva. De preferência, brancas. Não obstante, havia uma equipe que dava aquela “forcinha” na arrecadação da matéria-prima. Vizinhos e familiares se uniam à causa e ajudavam na busca. A missão dela era a de pintar as casquinhas e preenchê-las de cri-cri (ou carrapinha, como alguns conhecem). Posso sentir o cheiro. Do cri-cri e da mistura de papel crepom e vinagre que fazia com que suas mãos ficassem manchadas e coloridas.

Com seus dotes artísticos, dona Beatriz transformava as casquinhas em verdadeiras obras de arte. Ainda criança, automaticamente, já constatava: a Páscoa está chegando. E acredite, mesmo gostando muito de chocolate, o que mais me atraía era o encanto daqueles momentos mágicos e inesquecíveis, que ora se repetiram durante toda a minha infância. Eram tempos diferentes, não havia tanta tecnologia, nem ao menos múltiplas opções para os pequeninos. Entretanto, o simples era encantador. Somada a isso, a expectativa se tornava gigantesca; afinal, o resultado final só poderia ser visto no domingo pascal.

As casquinhas foram tradição por muito tempo na família e fizeram parte dos sabores e das descobertas da infância. Dona Lory, minha avó materna, se encarregava de ajudar na captação das cascas e no preparo delas. Missão delicada. Deixar as casquinhas intrínsecas, apenas com um pequeno furo na superfície para o preenchimento. Volta e meia, ocorria um pequeno acidente. Uma ou outra matéria-prima se perdia por tamanha fragilidade. Trabalho minucioso e delicado, uma arte.

Publicidade

Minha vó e minha mãe, juntas, assumiam a panela de ferro para dar forma ao saboroso conteúdo da casquinha de Páscoa. Um dos segredos para o sucesso da receita, passada de geração em geração: a “panela da Vovó”. E, assim, esse ritual perdurou por muitos anos. O famoso ninho da Páscoa era colorido e cheio de significado. As pegadas do coelho indicavam o caminho da alegria. Junto com os chocolates e as casquinhas se somavam o amor e os sorrisos estampados no meu rosto e no do meu irmão.

Neste ano, a Páscoa não terá a dona Lory. Hoje, ao relembrar desses momentos, retorno à minha infância. Em nossa bagagem pela desafiadora e emocionante trajetória da vida, trazemos sensações, lembranças e ensinamentos. Dona Lory me ensinou muito. De sorriso largo e com inúmeras histórias a contar, foi uma guerreira. E, no alto dos seus 93 anos, muito bem vividos, deixou o maior ensinamento: somos instantes! A Páscoa é tempo de refletir sobre o que somos e o que podemos ser. Feliz Páscoa a todos! E que possamos nos renovar todos os dias!

LEIA MAIS COLUNISTAS DA GAZETA DO SUL

Quer receber as principais notícias de Santa Cruz do Sul e região direto no seu celular? Entre na nossa comunidade no WhatsApp! O serviço é gratuito e fácil de usar. Basta CLICAR AQUI. Você também pode participar dos grupos de polícia, política, Santa Cruz e Vale do Rio Pardo 📲 Também temos um canal no Telegram! Para acessar, clique em: t.me/portal_gaz. Ainda não é assinante Gazeta? Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Publicidade

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.