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As tradições de Páscoa que vieram com os imigrantes alemães

Foto: Rafaelly Machado

Marisia Helena Wathier prepara a Osterbaum, a árvore decorada com ovos

A Páscoa é uma das datas mais importantes do calendário cristão. Ela representa a ressurreição de Cristo, e é nesta época que muitas famílias aproveitam para decorar seus lares com a simbologia que o momento requer. Com itens dos mais simples até os mais sofisticados, a Osterbaum – a árvore decorativa – não pode faltar.

A tradição trazida por imigrantes alemães é um reflexo do seu espírito da Páscoa, como explica a doutora em Ciências Sociais Lissi Bender, que estudou a presença da língua alemã em Santa Cruz.

“Na Alemanha costuma-se enfeitar arbustos no jardim com ovos coloridos. Na Páscoa, as árvores por lá ainda estão praticamente desprovidas de folhas, por ser início da primavera. Têm apenas pequenos tufos de folhas e botões de flores a brotar. Então, elas recebem o colorido dos ovos”, conta a professora. “Com as Osterbaum celebramos a alegria da promessa pascal de vida eterna. Os ovos coloridos de Páscoa representam o tempo da morte e da ressurreição. Já as árvores, que perdem suas folhas e se recolhem no outono e ressurgem majestosamente, são como o Cristo.”

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Na Alemanha, a Páscoa é considerada um grande evento. Muitas famílias decoram suas casas para a Sexta-Feira da Paixão e para o domingo de Páscoa. Em cidades do Sul do Brasil, colonizadas por esses povos, não é diferente. Em Pomerode, Santa Catarina, todos os anos é montada uma das maiores arvores de Páscoa do mundo.

Pensando em difundir essa tradição e evidenciar a fé, o pastor André Luiz Martin, da Igreja Evangélica de Rio Pardinho, no interior de Santa Cruz do Sul, lançou nos últimos dias, aos grupos da Oase, do Canto Infantil e Juvenil, uma proposta semelhante: montar uma árvore com galhos secos em frente ao templo, para que cada pessoa da comunidade pudesse levar suas cascas de ovos decoradas para enfeitar.

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Pastor André e Marisia ornamentam a árvore montada na frente da Igreja Evangélica de Rio Pardinho: fiéis também podem ajudar | Foto: Rafaelly Machado

“Como não teremos nenhum culto nesta época devido às restrições da pandemia, tivemos essa ideia para que o pessoal pudesse vir, contemplar e refletir também sobre o significado da árvore, além de fazer sua oração. São símbolos de esperança e de nova vida, e aguardamos que essa experiência se torne um atrativo turístico e de tradição para a comunidade”, enfatiza Martin. Já na frente da Igreja, três cruzes de metal simbolizam o Cristo crucificado.

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Uma das pessoas envolvidas nessa iniciativa é a empresária Marisia Helena Wathier, de 64 anos, proprietária da Basteleihaus – Casa de Trabalhos Manuais, que confecciona produtos artesanais e típicos germânicos. Na casa dela, que fica nas proximidades, também há uma Osterbaum. “Ha pelo menos 30 anos eu monto a árvore, desde que meus filhos eram pequenos. Acho muito importante seguir a tradição e a cada ano vou incorporado novos acessórios. Costumo pegar um galho de pessegueiro e vou enfeitando com flores artesanais e cascas de ovos que eu pinto, outras que revisto com tecido”, explica.

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As cascas de ovos, em sua maioria, são naturais. Outras são de plástico, guardadas de um ano para o outro. A montagem da ornamentação inicia-se no período de Quaresma e a retirada ocorre no Dia de Pentecostes, celebrado 50 dias depois do domingo de Páscoa.

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A gastronomia como forma de reverenciar Jesus Cristo
Muito antes de os povos germânicos vivenciarem o cristianismo, eles já celebravam, na época que viria a ser a Páscoa, uma festa de saudação à primavera. Segundo Lissi Bender, era uma forma de festejar o despertar da natureza que, após um longo inverno, volta a se vestir de verde e se manifesta em mil cores.

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Mais tarde, a festa da primavera passou a ser a festa da ressurreição de Cristo, a celebração da promessa de vida eterna. “Nesta celebração, muitos costumes antigos dos povos germânicos permaneceram preservados ao longo do tempo. Acompanharam também os imigrantes ao seu novo lugar de viver. Assim, por exemplo, muitas famílias gostam de colorir ovos, escondê-los no jardim ou mesmo dentro de casa, para as crianças procurarem. O ovo simboliza a renovação da vida, a vida que renasce com a vinda da primavera e simboliza a promessa da ressurreição de Cristo”, explica a pesquisadora. “Na Alemanha, já visitei exposições de ovos pascais. Lá também encontro ovos coloridos enfeitando espaços públicos e também mesas em cafeterias e restaurantes.”

A tradição de colorir ovos de aves para a Páscoa é uma das que mais continuam presentes nas regiões de colonização alemã. “Em minha infância, meus pais preparavam enormes cestos cheios de ovos coloridos. Também recebíamos ovos licorosos, que há tempo não encontro mais. No tempo dos meus pais, meus avós escondiam os ovos em meio a galhos ou buracos de árvores, ou em meio ao gramado. Eu continuei a tradição com meus filhos e escondia um ovo em cada dia da Semana Santa e um ninho no domingo de Páscoa”, conta.

Outra tradição transmitida por seus antepassados é a Trança Pascal, o Osterzopf. A receita do Osterzopf, também conhecido como Pão Pascal, está registrado no livro bilíngue Kochen und Backen für feierliche Tage/ Forno e Fogão para dias festivos, de Lissi Bender. “O Osterzopf tem seu fundamento na fé cristã. É uma tradição secular”, ressalta. “

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O seu formato trançado representa o entrelaçamento entre Deus e os seres humanos. As pontas da trança também podem ser unidas, de maneira a formar uma coroa, chamada de Osterkranz, que simboliza o sol e, desse modo, também reverencia Jesus como a luz do mundo”, salienta.

O Osterzopf, também chamado de Trança Pascal ou Pão Pascal, reverencia Jesus como a luz do mundo | Foto: Lissi Bender/Divulgação

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