Bastava passar pelo portão branco, de metal, para entrar na grande sala de tons claros. Mais adiante, no recinto ao fundo, era possível notar a luz. O sol, que havia se escondido do lado de fora, parecia ter encontrado novo refúgio no sorriso da aniversariante do dia, Elba Martin. Mesmo com o tempo nublado, enquanto gotas de água da chuva escorriam pela janela, abraços eram distribuídos para celebrar um grande feito: completar os seus 90 anos de vida. E, mais uma vez, a temperatura um pouco amena do primeiro dia da semana passava quase despercebida naquele reduto caloroso de alegria.

O parágrafo que abre essa reportagem bem que poderia ser parte de um dos livros que a professora aposentada diz tanto gostar de ler. Não somente agora, nessa nova fase da vida, como em toda a trajetória. Afinal, a filha da professora Rosália Schneider seguiu o mesmo ofício. E assim, por décadas, também ensinou aos outros uma porção de leituras da vida. Entre elas, inclusive, as páginas do jornal Gazeta do Sul, do qual é assinante há mais de 60 anos – e só não é há mais tempo porque antes era a mãe quem assinava. 

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“Quando me mudei para Restinga Seca, em 1962, os exemplares eram entregues pelo trem. Ele chegava às 15h30. Então a gente esperava na Estação Jacuí, que ficava a uma quadra de casa. Os vizinhos também vinham, querendo ver as novidades”, conta Elba, cuja morada na infância era a localidade de Henrique D’Ávila, no interior de Vera Cruz. Das andanças ao lado do marido, ela residiu em outros municípios do Estado: Santa Rosa, Santo Ângelo, Ijuí, Passo Fundo e, por último, Pelotas, no qual permaneceu por 14 anos e onde estudou Pedagogia e cursou pós-graduação. “A Gazeta viajou todo o Rio Grande do Sul comigo.”

Prazer em ler

Nessa segunda-feira, 26, na Residência Geriátrica Viver Bem, Elba Martin relembrava histórias dos 90 anos de vida. Diante da decoração de aniversário, sentada à mesa, rodeada de flores, quitutes, família e amigos, ela celebrava mais um ano fazendo planos. “Quero chegar aos 100! A cabeça é muito boa ainda!”, dizia, animada. Aposentada desde a década de 1980, quando ela e o marido voltaram das andanças para fixar residência em Santa Cruz do Sul, coleciona passagens por escolas, como as estaduais Bruno Agnes e a antiga Professor Murilo Braga de Carvalho. Também foi secretária de Educação de Vera Cruz. 

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Uma entre os cinco filhos de um agricultor e de uma professora, diz adorar viver no meio de gente e se considera uma apaixonada pela leitura. “Gosto muito de ler. Jornal, livros. De outubro até agora, já li cinco romances. Estou no sexto. Tem um moço que sempre diz: ‘Toda vez que eu entro aqui a senhora está lendo!’.”No dia do aniversário, em 1959, casou-se com Victor Bruno Martin, que morreu em 2008, aos 70 anos. O casal teve dois filhos, a psicóloga Raquel Martin de Melo, 64, e o comerciante Jarbas Augusto Schneider Martin, 61. Ao chegar no 90^o aniversário, ela deixa como mensagem: “A gente tem que trabalhar a vida toda com seriedade, querendo fazer o bem. E sempre procurando melhorar em todas as partes. A minha vida foi toda certinha.”

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