As homenagens ao colono (colonizador da região), junto com o motorista, em 25 de julho (dia da vinda dos primeiros imigrantes alemães a São Leopoldo, enquanto em Santa Cruz chegariam ao final de 1849), e também dedicado a São Cristóvão (padroeiro dos condutores de veículos), permitiram rememorar fatos históricos importantes para nós, que não podem se perder no tempo. E, fiel a um dos nomes de locais dos festejos, mostraram também a boa visão tão necessária para nossa história.

Assim como ocorreu novamente em Monte Alverne e outros locais da região, em Boa Vista, a Sociedade de Canto Cruzeiro do Sul realizou sua Festa do Colono e Motorista, a partir de um belo culto ecumênico em homenagem ao grande arranjador de corais, falecido há pouco, Carmo Gregory, do qual entoou arranjos como “Cantar é Coisa de Deus” e “Heimweh” (Saudade da terra natal). A entidade, fundada em 1927 e perto de completar 100 anos, conta com 23 integrantes masculinos, é presidida por Romeu Bohnen, coordenada por Paulo Kist e regida por Astor Hauser.

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Inicialmente, era denominada de “Waldesgrün”, para destacar as matas verdes do lugar, mas que precisaram alterar com a deplorável proibição da língua alemã na 2ª Guerra Mundial e paralela Campanha de Nacionalização. O uso dessa língua materna de grande parte da população regional, felizmente, está sendo recuperada, onde o coral contribui para a preservação, como lembrou Paulo Kist e mostrou também aluna da Escola Guilherme Simonis, Milena Frantz Back, de nove anos, que cantou, após o culto, a música alemã “Nach meiner Heimat, da ziehts mich wieder”, de Ludwig Hermann, falando também da afeição à terra natal.

O padre José Renato Back recordou frase em alemão, da sua mãe: “Wo die Lieder singen und Blumen blühen, da lasst euch nieder, weil dot wohnt die Friede” (Onde se canta e se planta flores, pode chegar, ali mora a paz). A pastora Nidrian Heinrich frisou que é preciso apreço à terra, “criação divina”, e redescobrir o valor da união. Na hora cívica, o cantor Gilberto Muller (em alemão) e o presidente da Afubra, Marcílio Drescher, reforçaram o necessário apoio a quem trabalha a terra, o prefeito Sérgio Moraes observou o respeito à cultura, e o coral cantou pela primeira vez o Hino de Boa Vista, em que o autor, Nelson Wagner, enaltece a terra natal e que não se pode esquecer a história dos antepassados, que “legou uma tradição de cultura, amor ao trabalho, à família, fé e oração”.

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Uma semana depois, a escola local ensinou novamente essa lição, ao realizar caminhada com alunos até o local da primeira missa na região, que fica 1,3 quilômetro acima, em direção a Alto Boa Vista, na chamada Vila Hilbig e propriedade Stülp. O espaço tem uma cruz e um pequeno altar, com placa afixada, e ao lado outra maior, lembrando, em português e alemão, a inserção no roteiro “Caminhos da Imigração”, a missa celebrada pelo Pe. João Batista de Motta Velloso, de Rio Pardo, em 02/08/1854, junto com batizados e casamentos de imigrantes e descendentes, e procissões realizadas historicamente ao local (“Bitteantag”, cultos de preces, confirmam moradores – Marino Klein, 71 anos, e Aidor Heck, 69).

Já a escola, segundo a diretora Marilei Naue Fischer e a professora Rosane Sehnem Martinez, pretende tornar rotineira a caminhada nesta data e ampliar cuidados (mais árvores e flores) neste “marco histórico e lugar sagrado”, como disse o padre Back, filho da terra, pelo que representou na vida dos primeiros moradores, na realidade precária e desassistida de então, enquanto hoje já se chega ali por asfalto. E, falando em recuperar história, aproveito para lembrar que estamos em Feira do Livro, onde se acha minha mais recente obra na área (Peter & Lis – Quando era proibido falar a própria língua, no espaço da Academia de Letras, junto à Dona Boleira), e, assim, muitos livros, que precisam ser vistos mais de perto.

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