A primeira apresentação do coral Cantoras da Liberdade, projeto desenvolvido pela escritora santa-cruzense Marli Silveira, ocorreu nessa sexta-feira, 14, no Presídio Estadual Feminino de Rio Pardo. Acompanhadas do músico Sandro Figueiredo, 18 presas interpretaram canções que falam em sonhos, Deus e esperança.

Durante o ato, também foi inaugurada a terceira mostra pedagógica Transformar pelo saber: experiências pedagógicas no contexto prisional, com trabalhos confeccionados em oficinas e projetos dentro da instituição. Essas atividades são coordenadas pela equipe do Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos (Neeja) CP Mario Quintana. 

De acordo com Marli, o Cantoras da Liberdade objetiva dar visibilidade às mulheres reclusas por meio da música, além de humanizar o espaço prisional. “Acreditamos na arte como ingrediente fundamental do estabelecimento de vínculos, construção de pontes e visibilização das mulheres.”

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O delegado da 8ª Delegacia Penitenciária Regional, Bruno Pereira, destacou a importância do projeto. “As apenadas, quando entram, perdem apenas um direito – o da liberdade –, pois outros se mantêm íntegros, como saúde e educação. E essa unidade foi pensada para ser um lugar diferente, uma vez que causava certo desconforto recolher apenadas com homens”, explicou. “Então, aqui passou a ser feito um trabalho especial, com educação, lazer e cultura. E é satisfatório ver os resultados.”

A diretora do presídio, Carina Helena Bubolz, enfatizou que a integração séria e contínua fomenta oportunidades e promove autonomia e transformação. “O projeto representa nosso compromisso para a promoção do desenvolvimento e da disciplina e para criar oportunidades de ressocialização. A privação de liberdade não significa privação de humanidade”, afirmou. 

“A música vem sendo um instrumento importante de fortalecimento de vínculos e de ampliação de perspectivas no processo de tratamento penal”, complementou.

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Mérito Farroupilha

Na ocasião, Marli Silveira também recebeu a Medalha Mérito Farroupilha, concedida pelo deputado estadual Valdeci Oliveira (PT), representado no ato por Frederico de Barros Silva, secretário de Comunicação do partido em Santa Cruz. Desde 2023 ela desenvolve no local, de forma voluntária, projetos voltados à cultura e à literatura. 

Frederico ressaltou o trabalho feito pela professora e escritora. “Em tempos onde se fala tanto que ‘bandido bom é bandido morto’, é revolucionário olhar com carinho e respeito por outro ser humano. E quantos de nós estendem a mão e permitem oportunidades? Poucos”, disse. “A grande verdade é que desaprendemos a olhar com solidariedade e acolhimento os outros. Por isso, esse projeto e a atuação da Marli merecem a homenagem.”

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Sensibilização 

Parte do projeto de literatura Flor da Pele, o Cantoras da Liberdade começou em meados de junho e conta com 20 participantes do total de 60 internas no presídio. A partir de atividades desenvolvidas em outras oficinas, como saraus poéticos, a música passou a ser cada vez mais presente. 

“Vimos que a música sensibilizava – as meninas choravam, cantavam, dançavam. E aí, fomos percebendo que seria interessante criar um coral”, conta Marli Silveira. O grupo faz ensaios a cada 15 dias, ampliando o repertório e preparando futuras apresentações internas. 

Ao longo do ano, Marli desenvolveu o livro Corpos Ardidos, com textos escritos por presas. A exposição de artes visuais Ímpares, apresentada em Santa Cruz e Vera Cruz, também teve trabalhos das reclusas.  

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