Em dezembro de 2011, escrevi artigo sob o título “Justiça Idealizada”, cujos parágrafos principais ora reproduzo. “Idealização é o ato humano de projeção de algo de modo positivo e ideal. Quase sempre de faculdades totalmente virtuosas. E quase sempre, ou sempre, fantasiada e exagerada.
Idealizamos nossas famílias e nossos pais. Nossos amigos. Nossos hábitos e nossos gostos. Idealizamos nossa cidade, nosso Estado e nosso País. Mais do que outras coisas, idealizamos nossos amores, namoradas, cônjuges e amantes (quem as tem!). Ah, e nosso time de futebol!
Idealizamos porque cremos, porque queremos crer, porque precisamos crer, e idealizamos, principalmente, porque amamos. E o amor, porém, todos sabem, é cego!
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Já idealizávamos os governos e o Parlamento. Os políticos e os governantes. Não que merecessem. Mais porque precisávamos e precisamos crer nas instituições. Ainda que também fantasiada e exagerada expectativa.
Todavia, ainda idealizamos o Poder Judiciário. Talvez influenciados pelo idealismo das leis, dos rituais, das roupas, da pompa e circunstância, entre outros sinais exteriores.
Faz tempo que há um agravamento na autodesmoralização dos poderes de Estado. Afinal, os sucessivos escândalos – de todos os tipos e tamanhos – significam algo.
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Assim como se sucedem os tipos humanos, cada vez mais patéticos, seja pela natureza de seus golpes, seja pela qualidade de suas explicações. Ou a falta de. Por tudo e por todos, distantes de nossas idealizações. O Poder Judiciário parece que também resolveu se autodesmoralizar.”
Na sequência e encerramento desse artigo houve menção a um caso específico. Tratava-se da reação das associações de magistrados às investigações do Conselho Nacional de Justiça, sob a liderança da então corregedora Eliana Calmon.
Eu perguntava: “Se a absoluta maioria dos juízes é honesta, bem-intencionada e vocacionada, por que essa reação? O CNJ procura ‘peixes graúdos’? Enfrenta as cúpulas dos tribunais estaduais? Vai ‘respingar’ em membros do STF? Vai demonstrar o corporativismo predatório e desmoralizar a Justiça? Vai desmoralizar que Justiça? A que idealizamos ou a verdadeira?”
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Bem, à época havia vários motivos e razões de averiguação. Mas o que diríamos hoje, quase 14 anos depois, quando sucedem-se absurdos e mais absurdos, desde a persistente soltura de criminosos e corruptos até uma sucessão de ilegalidades e inconstitucionalidades cometidas pela corte maior da nação?
Renovo a pergunta final de então: “Será que a sociedade brasileira não merece explicações? Ou será que se soubermos muito mais sobre o ‘último e casto’ dos poderes de Estado, nossa idealização acabará?”
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