Dos 12 imigrantes alemães que vieram para a então Colônia de Santa Cruz, em 1849, seis eram proprietários legais de lotes de terras distribuídos pelo governo imperial. Além deles havia mais um, Johann (ou João) Beckenkamp, que, ao invés de se instalar logo na Picada Velha (hoje Linha Santa Cruz), decidiu permanecer no Rio de Janeiro, onde havia desembarcado com os demais após longa viagem de travessia pelo Oceano Atlântico.
Conta-se que ele trocou o seu lote inicial para ficar na Casa Real, a convite de Dom Pedro II, a quem serviu como cocheiro. Além do imperador, conduzia na carruagem a Imperatriz Teresa Cristina e os filhos. Pelo fato de Dom Pedro II falar bem o alemão (era filho da princesa austríaca Dona Leopoldina), logo Johann conquistou sua confiança e simpatia. Os fatos são mencionados no livro Carl & Ciss, do jornalista Benno Bernardo Kist. A obra traz um compilado de crônicas da colônia alemã e foi publicada pela Editora Gazeta em 2019, em homenagem aos 170 anos de imigração germânica em Santa Cruz do Sul. Da mesma forma, o jornalista José Augusto Borowsky compartilha tais histórias na coluna Memória, que assina na Gazeta do Sul.
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Uma das peculiaridades citadas é que Johann, natural da Prússia, tinha 23 anos quando desembarcou no Brasil. Depois de ter aprendido português chegou a ser até mordomo da Casa Real, na Quinta da Boa Vista. Seus descendentes contam que ele conquistou a confiança do imperador e costumava conduzi-lo em suas “escapadas” noturnas. Embora tivesse uma vida confortável no Rio de Janeiro, o imigrante sentia falta dos seus conterrâneos. Sempre que um navio da Alemanha chegava ao porto, ele ia até lá para conversar.
Como falava português e alemão, tornou-se intérprete e tirava as dúvidas dos viajantes. E foi assim que, em fevereiro de 1850, conheceu a jovem Suzanna Elisabeth Herberts, de 18, que chegara da Alemanha com os pais Jakob e Catharina Herberts e estava a caminho da Colônia de Santa Cruz. Johann e Suzanna começaram a trocar correspondências e, apaixonado, ele pediu que Dom Pedro II o liberasse do cargo para que pudesse ir atrás dela. Em junho de 1850, chegou ao porto de Rio Pardo, onde reencontrou a jovem. O pai dela já estava estabelecido naquela cidade, com um pequeno armazém.
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Dois anos depois, Johann e Suzanna casaram em Rio Pardo, mas mudaram para Linha Santa Cruz (Alte Pikade), onde ocuparam o lote de número 24. Tanto no livro Carl & Ciss quanto na coluna Memória, descendentes do casal relatam outros detalhes: que os dois possivelmente moraram por um tempo em Rio Pardo, que ele teria recebido o apelido de João da Ladeira (referência à rua onde morou) e pode ter exercido alguma função de confiança do governo imperial, na alocação de imigrantes que vinham para a região. Contam ainda que, em ocasiões e eventos especiais, Johann costumava usar roupas que havia trazido da corte, inclusive luvas brancas.
Outras informações são de que eles tiveram 11 filhos e se dedicaram à agricultura. Johann produzia vinho e foi tropeiro. Já Suzanna teria sido parteira e ajudado no nascimento de muitos bebês. Os dois só foram separados na morte, pois como um era católico e outro evangélico, não puderam ser enterrados juntos. Suzanna faleceu em 1904 e foi sepultada no antigo cemitério de Alto Linha Santa Cruz. Ele, em 1916, tendo sido sepultado em Boa Vista.
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