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Com inovação e criatividade, uso da erva-mate pode ir muito além do chimarrão

A forma mais popular de consumo ainda é no chimarrão, mas cenário está mudando

Um dos produtos símbolo do Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai, a erva-mate não é mais uma exclusividade dessas populações e tampouco serve apenas para fazer o tradicional chimarrão. Apesar de os maiores mercados ainda se concentrarem na América do Sul, o produto é exportado para cerca de 120 países e usado na fabricação de diferentes tipos de bebidas, alimentos e até mesmo nas indústrias de cosméticos e materiais de limpeza. Para os próximos anos, a tendência é de pequeno aumento nas áreas plantadas, mas a cultura exige cada vez mais profissionalização.

De acordo com Ilvandro Barreto de Melo, engenheiro agrônomo e extensionista rural da Emater/RS-Ascar, o Estado tem por volta de 30 mil hectares com ervais produtivos e outros 6 mil hectares com plantas ainda em estágio de desenvolvimento inicial e não aptas à colheita. Nas últimas três safras, em função da estiagem prolongada, a extensão de área colhida diminuiu, assim como a produção total, que caiu para 275 mil toneladas de folhas anuais. Nesse período, algumas plantações com baixa produtividade foram extintas, mas outros produtores com bons resultados decidiram expandir.

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Melo chama a atenção para a necessidade do manejo correto e boas práticas de cultivo para garantir a boa produtividade das árvores e também um produto com qualidade satisfatória. Para o futuro, o especialista se preocupa com a escassez de trabalhadores. “A erva-mate exige grande disponibilidade de mão de obra, sobretudo na colheita, e isso se apresenta como uma das dificuldades a serem superadas pela cadeia produtiva.” Assim, a tendência é de que muitas famílias abandonem a atividade por não terem mais condições físicas para o trabalho e por falta de sucessão. No Estado, são cerca de 14 mil propriedades com cultivo de erva-mate, 5 mil delas em processo avançado de profissionalização.

O destino de toda essa produção, além do mercado interno, é principalmente o Uruguai, que adquire cerca de 30 mil toneladas anuais. Em 2020 e 2021, por questões cambiais e de equilíbrio de produção, a Argentina importou uma quantidade semelhante. Além deles, entretanto, o produto vai para os cinco continentes, com destaque para a Alemanha, França, Turquia, Espanha, Estados Unidos e Síria. “Hoje a erva-mate tem trânsito livre na América do Sul, Estados Unidos, Europa e também nos países asiáticos”, observa Melo.

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A forma de consumo mais popular ainda é a infusão, seja no chimarrão, tererê ou chá mate, mas novos usos para a planta estão surgindo. “Hoje temos um caminho muito grande para novos produtos com a retirada do extrato da erva-mate, como a produção de cosméticos, gêneros alimentícios, itens de limpeza e bebidas”, salienta Melo. Para ele, a tendência é de que a inovação se fortaleça nos próximos anos e a diversidade disponível ao consumidor aumente.

Para o presidente do Sindicato da Indústria do Mate no Rio Grande do Sul (Sindimate), Álvaro Pompermayer, o surgimento de novos subprodutos e a conquista de novos públicos depende da insistência, trabalho e investimentos da própria indústria. “A grosso modo, a erva-mate é um chá e o mundo consome anualmente algumas milhares de toneladas de chá, mas nós temos dificuldade de entrar nesses mercados”, ressalta.

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Mercado tem retração, mas preços estáveis

O presidente do Sindimate destaca que o isolamento social e os auxílios do governo federal em função da pandemia da Covid-19 em 2020 foram positivos para a cadeia produtiva da erva-mate e acabaram com uma retração no consumo que chegava a 20% em 2019. “Foi muito bom para a indústria e para o produtor, porque aqueceu o mercado e nós atingimos números que não eram registrados há muitos anos.” Ele acrescenta ainda o grande volume adquirido pela Argentina, algo que não ocorria anteriormente.

Em 2021, com a redução dos auxílios e a alta na inflação, a disparada no valor dos alimentos causou grande impacto na atividade. “Os preços mais altos e o menor poder de compra por parte do consumidor certamente refletiram nas vendas”, analisa Pompermayer. Ele observa ainda que, enquanto outros produtos tiveram aumentos expressivos, a erva-mate permanece com preços estáveis e, em alguns casos, houve redução. O custo de produção, por outro lado, registra aumento em vários itens, como insumos, embalagens e transporte.

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“A indústria está em uma situação complicada. Tenho colegas dizendo que trabalham com prejuízo de 10% e não conseguem recuperar esses valores porque o mercado não está aceitando aumento”, enfatiza. Ele diz que, além do consumidor estar adquirindo menos quantidade do produto, muitos deixaram de comprar a marca de preferência e estão optando por outras mais em conta. “Para satisfazer a demanda da sua casa, o cliente compra a mais barata que tiver na gôndola do supermercado. Isso puxa o preço para baixo”, explica.

Visionários criam novos produtos e sabores

O portfólio da planta, que foi fundamental ao desenvolvimento da região Sul do País, é bem mais extenso do que se pensa. Embora a produção dos ervais ainda remeta muito ao passado e transforme folha em chimarrão ou tererê, uma grande linha de novos produtos aparece com força no mercado, provando que é possível mudar a forma de consumo iniciada há um século. Chás, drinks e temperos feitos a partir da planta ganham as gôndolas, mesas e os paladares.

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Carla criou uma marca para lançar novos produtos | Foto: Divulgação

“A erva-mate é realmente uma planta que vai muito além do chimarrão”, assegura Carla Mikolaiewski, Tea Blender e fundadora da Gourmate, empresa paranaense que aproveitou o momento de refinamento degustativo para lançar uma nova forma de utilizar o produto. A marca é resultado de um estudo da anatomia da erva-mate e de tudo o que ela pode oferecer. Oportunidade observada na Agroindústria Qualitá do Brasil, fazenda com certificação orgânica da família de Carla, a Gourmate foi criada justamente para buscar novos produtos.

No caso dos chás, por exemplo, os blends podem ser consumidos quentes ou frios, em drinks (alcoólicos ou não) ou adicionados ao popular chimarrão. Já as releituras dos temperos chimichurri, ervas de Provence, lemon pepper e mix prático podem ser usadas na maioria dos pratos salgados. “A Gourmate foi pensada não apenas para buscar as funcionalidades, mas sim experiência de sabor, novos sabores para a erva-mate”, destaca. Garantir a delicadeza da introdução da planta seja na alta gastronomia ou no dia a dia é fruto de um trabalho de imersão que está sendo vivenciado por alguns profissionais visionários do setor que buscam diversificar a produção e transformação da matéria-prima.

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Distribuição de mudas

Para incentivar o reflorestamento dos ervais e a diversidade agrícola, a Prefeitura de Venâncio Aires desenvolve um programa que oferece o custeio da metade do valor de mudas de erva-mate a produtores interessados. Neste ano, mais de 28 mil mudas serão disponibilizadas aos 38 produtores do município que se habilitaram para participar. O reflorestamento dos ervais contribui para o fortalecimento da cultura do alimento, que é a matéria prima para produção da bebida símbolo do Rio Grande do Sul e, principalmente, fomenta o título de Capital Nacional do Chimarrão, atribuído a Venâncio Aires.

Um dos produtores é Jânio Godoy, que destina quase sete hectares de terras em Linha Travessa para o cultivo da produção. Ao mesmo tempo em que mantém pés de erva-mate centenários, ele também planta novas mudas, com o subsídio que o Município oferece. “A produção da erva-mate passou por períodos muito difíceis, com valores muito baixos pagos pelas empresas, depois baixa qualidade por causa de fatores climáticos e ainda perdas dos pés de erva, por causa da estiagem prolongada. A ajuda da Prefeitura é muito importante porque é um incentivo para a gente continuar nessa lida”, destaca.

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O programa de reflorestamento com mudas de erva-mate tem inscrições abertas anualmente no primeiro semestre e contempla produtores do município que se inscreverem junto à Secretaria de Desenvolvimento Rural e atenderem aos critérios necessários. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 2183 0668.

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