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Conheça a Santa Cruz de Moina Rech

Perspectiva da rua central de Santa Cruz por volta das décadas de 1930 e 1940, período abrangido pelo livro de Moina Fairon Rech

Há 20 anos, Santa Cruz do Sul ganhava um presente em forma de livro: em maio de 2003, a santa-cruzense Moina Mary Fairon Rech lançava Uma janela para o passado, obra com reminiscências de seu tempo de infância e de pré-adolescência, que compreende parte das décadas de 1930 e de 1940. A edição, viabilizada pela autora, causou forte sensação entre os leitores, que se deliciaram com as lembranças da Moina, aos 70 anos, das peripécias vivenciadas por ela quando menininha, entre os 8 e os 13 anos.

Mais do que um livro de memórias ou de apontamentos pessoais, o que Moina apresentava era um retrato vívido e intenso de uma época, tendo como pano de fundo uma Santa Cruz que se industrializava (apoiada no processamento e no beneficiamento do tabaco) e um mundo apreensivo com a Segunda Guerra Mundial, em curso. Ainda que a cidade fosse uma pequena aldeia, pelo perfil da colonização local, germânica, e também pelos negócios envolvendo a exportação de tabaco, a população acompanhava atentamente o que ocorria no grande mundo.

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O sucesso da edição original foi tal que a tiragem esgotou-se. E foi por empenho da editora Helga Haas que a Edunisc viabilizou, em 2015, uma segunda edição, inclusive ampliada. Não seria despropósito classificar essa obra como um clássico.

Moina, a vovó iluminada

O livro Uma janela para o passado constituiu a estreia de Moina Mary Fairon Rech na literatura. A experiência, aos 71 anos, foi de tal forma gratificante que ela se animou a prosseguir na escrita de memórias e lembranças de outras vivências e de outras épocas na caminhada pessoal e em família.

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A segunda obra nesse gênero veio em 2009, coedição da Edunisc com a Movimento, de Porto Alegre, já na esteira do sucesso de Uma janela… Em Aventura na Amazônia, recuperou a experiência que ela e o marido Cláudio, militar, tiveram, já com filhos pequenos, no extremo norte do Brasil. E agregam-se A casa sobre rodas, A cozinha e eu e uma série de livros infantis, um deles traduzido para o espanhol e publicado em Buenos Aires e dois outros bilíngues (português e inglês). Pelo conjunto da obra, ela integra a Academia de Letras de Santa Cruz do Sul, da qual hoje é a decana.

Aos 91 anos (completa 92 em setembro), Moina segue residindo na área central de Santa Cruz, a apenas uma quadra, em diagonal, da esquina em que nasceu e cresceu ao lado do pai, Patrick Joseph Fairon, irlandês, e da mãe, Ana Guilhermina Frantz, descendente de alemães, sendo ela a segunda entre cinco irmãos. Lamenta a perda, em meados do ano passado, do companheiro de vida, Cláudio, mas se mantém em contato frequente com os três filhos (Moira, Eduardo e Juarez), residentes fora de Santa Cruz, e com os netos.

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A vez do romance

A obra de Moina é predominantemente apoiada sobre memória e reminiscências de diferentes épocas e lugares. Mas não se resume a esse prisma. Lançou também ficção, como A casa do bosque. E em 2020 veio mais um romance, Serra Bonita, pela editora Zum, no qual cria um universo ficcional em localidade igualmente fictícia livremente inspirada em Gramado, na Serra, onde ela e o marido Cláudio viveram por vários anos na década de 1990.

Após sucessivas transferências para diferentes locais no País, o que envolveu temporada mais longa em Minas Gerais, retornaram para o Rio Grande do Sul. E foram aqueles anos em Gramado, bem como as lembranças de Santa Cruz quando esta ainda era bem menor, que serviram de mote para um divertido romance de época.

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A santa-cruzense Moina Mary Fairon Rech construiu obra fascinante, elaborada a partir de memórias e de vivências pessoais e em família | Foto: Lula Helfer/Banco de Imagens

Entrevista – Moina Mary Fairon Rech, escritora e professora aposentada

  • Magazine – Como foi essa experiência de relatar memórias e lembranças do tempo de menina, que resultou em “Uma janela para o passado”? Em que momento a senhora se sentiu determinada a fazer esse registro?
    Tudo começou quando meus netos perguntaram o que as crianças do meu tempo faziam, se não havia nem TV, nem videogame, nem nada de interessante para se fazer. A minha resposta foi imediata: a gente brincava o dia inteiro! Foi divertido ver a incredulidade se estampar no rosto dos netos, e foi aí que tomei a decisão de escrever algumas páginas para mostrar como era a vida de criança lá pelos anos de 1930 e 1940. Comecei a escrever e momentos do passado foram relembrados. Quando me dei conta, estava com o rascunho de um livro nas mãos.
  • Passadas duas décadas desde a publicação original do volume, o que ele representa para a sua própria caminhada como escritora?
    O Uma janela para o passado foi bem recebido, e me dei conta de que ainda tinha algumas outras aventuras para relatar. E foi assim que surgiram Aventura na Amazônia, A casa sobre rodas e A cozinha e eu. No meio-tempo, também comecei a escrever livros para crianças.
  • A senhora cresceu na área central de Santa Cruz e hoje ainda reside nesse ambiente. É a área que mais alto fala em seu imaginário pessoal?
    Quando o assunto é Santa Cruz, sim! É a área central que fala mais alto, pois a nossa vida toda se resumia a essas quadras: a Igreja, o Colégio das Irmãs, com o Jardim da Infância, a praça, as padarias, o armazém, a casa da avó, das tias e primas e amigas.
  • Como a senhora descreveria, hoje, aqueles tempos das décadas de 1930 e 1940? O que mais se salienta em termos de inovação ou de fatos marcantes naquela comunidade?
    Muito sossego, pouquíssimo movimento de carros, ruas de terra, com muito areião, pedra e poeira. Qualquer tropeço na rua significava joelho ralado, que era medicado em casa com água oxigenada para desinfetar, ai, ai, ai! Também foi iniciada a plantação das tipuanas na rua principal, a Marechal Floriano.
  • A senhora vem de família de pai irlandês e mãe santa-cruzense, de origem germânica. Foram duas influências muito fortes, não é mesmo?
    Talvez, mas nunca me dei conta disso. Em casa só se falava inglês, e ponto final! Falava-se em alemão com a avó, as tias e as primas e no Jardim da Infância! E, para coroar, português com a nossa lavadeira, que era um amor de pessoa, a Maria Vitorina.
  • Depois de “Uma janela para o passado” vieram outros relatos de viagens ou de vivências. Que papel a leitura e a escrita tiveram para a senhora e para seus familiares?
    Não sei como aconteceu, mas achei que deveria anotar algumas lembranças que ainda possuía do período que passamos às margens do Rio Oiapoque, da época em que tivemos um trailer, e a vida numa cozinha. Acabaram virando livro!

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Fonte de inspiração

“Como sempre gostei de história, adquiri o livro Uma janela para o passado no ano do lançamento. Quando li as primeiras páginas, me encantei e tive que levar a leitura até o final em questão de horas. Mas jamais imaginei que, nos anos seguintes, teria um contato intenso com esta obra. Em 2011, recebi da Gazeta do Sul a tarefa de produzir a coluna Memória. E o livro de Moina Fairon Rech, seguidamente, é minha fonte de consulta e inspiração.
Em diversas ocasiões, conversei com a autora e aprendi a admirar a maneira educada, simpática, simples e alegre de me atender e, principalmente, de incentivar-me no trabalho de pesquisa e recuperação dos fatos da história do nosso município. Moina foi testemunha ocular dos acontecimentos da cidade desde o início dos anos de 1930 e, como ninguém, soube traduzi-los em textos. Obrigado, Moina, e que continues, por muito tempo, nos encantando com tuas narrativas e abrindo mais janelas para o nosso passado.

José Augusto Borowsky
Jornalista da Gazeta do Sul

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