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Coluna

Dias de quarentena: aprendizagens e pandemia

Alessandra Steffens Bartz
Psicóloga
[email protected]

No dia em que a cidade parou, o comércio fechou e o povo sumiu, conhecemos a pandemia. Foi-nos apresentada sem rodeios, remetendo-nos diretamente ao isolamento de nossas casas. Susto, medo, raiva, ansiedade. De repente, eclodiram novos sentimentos, inverteu-se a escala das necessidades. Tivemos de revirar o baú das experiências até então vividas para encontrar as melhores ferramentas a fim de lidar com a nova realidade.

Quando educamos uma criança ou jovem, nos perguntamos sobre quais serão as aprendizagens fundamentais para sua vida. Uns acreditam que seja a melhor escola, o cursinho de inglês, aulas de xadrez. Outros valorizam o curso técnico, ter experiência profissional desde cedo, o conquistar para valorizar. Alguns apostam no futuro do filho como atleta, e por aí vai. Pais sonham com o sucesso dos filhos, uma vida estabilizada, uma família equilibrada. Eis que, revirando o baú, agora com aprendizagens colhidas durante a pandemia, poderemos nos deparar com outros olhares. De que realmente precisamos quando a vida se transforma, nos frustra, nos assusta? Precisamos de tão pouco…

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Os bens materiais, não necessitamos de tantos. Roupas, calçados, celulares, não precisamos de muitos. Carecemos de alimento, remédio, material para limpeza, um lar, certo conforto. Corremos tanto para TER o melhor. Casa grande, carro potente, celular moderno, roupas da moda. E tudo que precisamos encontrar no nosso velho baú é afeto, cuidado, solidariedade, relações de qualidade, otimismo perseverante. Será que estamos estimulando as crianças e os jovens a desenvolverem inteligência emocional? A SEREM pessoas de bem, que cuidam de si, cuidam do outro, cuidam da natureza, do planeta? Talvez as próximas gerações passem por provações maiores… O aquecimento global é um dos itens já em pauta…

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Ensinar para a vida é valorizar não somente o importante conhecimento escolar, mas também o aprender a lidar com sentimentos dolorosos, frustrações, raiva. Vemos agora que se sairão melhor aqueles que conseguirem gerenciar suas emoções adequadamente, superar a frustração, ter iniciativa para mudar, criar, inventar. Proteger demais as crianças e os adolescentes priva a vivência das dores da vida e a aprendizagem de como lidar com elas. Uma criança mimada se transforma num adulto mimado, que não tolera que as coisas não sejam como ele quer. Quantas vezes observamos adultos graduados sendo incapazes de ceder, de pensar além do seu próprio umbigo.

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Eduquemos as crianças para reconhecer suas emoções e gerenciá-las da melhor forma. Quando o pequeno cai, não faça alarde. Acolha, explique para ter cuidado, e em seguida estimule a voltar a brincar. Tombos, teremos muitos na vida. Precisamos, apesar da dor, conseguir levantar e seguir em frente. Então, não prive seu filho de cair. Não dê tudo o que ele quer. Ensine a esperar pelas datas comemorativas para ganhar presentes. Estimule a autonomia de dormir em seu quarto. Incentive a poupar água, luz, dinheiro. Essas oportunidades são valiosas para o aprendizado da volta por cima, da paciência, da tolerância às frustrações, da segurança, da responsabilidade, do esforço e da persistência. Enfim, para aprender a gerir emoções e cultivar bons valores. A capacidade para resolver problemas e tolerar frustrações é protetiva e essencial frente às pendengas da vida. Valorize a inteligência emocional, o ser humano.

Miremos nosso olhar para o SER. Foquemos com atenção. Crianças e adolescentes com agenda de adulto estão tendo tempo para simplesmente SER? Tempo para brincar livremente, ter experiências variadas, cada um conforme sua idade, sem avançar ou regredir etapas. Crianças não devem ser adolescentes, e adultos também não. Assim criamos um mundo complicado.

E não esqueçamos de habilidades práticas muito importantes na vida, como o costurar, fazer pequenos consertos, plantar temperos. Quão válidas foram as antigas técnicas domésticas, ensinadas tempos atrás na escola, já aventando o que a família vinha deixando de transmitir para as gerações seguintes. Os jovens precisam aprender a cozinhar, costurar um botão, lavar roupa, pregar, parafusar, tricotar (desde cedo). Nos primeiros vinte dias de isolamento, foi fundamental saber resolver pequenos problemas domésticos para não ficar com a pia entupida ou tomando banho frio. Pais, ensinem aos meninos e às meninas tudo que puderem, da mesma forma que nossos avós ou bisavós faziam, transmitindo ensinamentos gerais de geração a geração.

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O simples não pode ser tão complicado! Nossos jovens não precisam acumular bens materiais. Precisam ser humanos, ter espírito coletivo, visão ecológica, habilidades emocionais e práticas que permitam se virar em bons e maus momentos. Preparar para a vida vai muito além do conteúdo escolar ou da fluência em línguas. Perpassa a formação de cidadãos com visão de mundo, com ímpeto de SER, aquele que se adapta e busca alternativas saudáveis para os diferentes tempos da vida. Somos um todo, não podemos nos facetar em partes e escolher uma para ser o pé mais importante da mesa. Todos são importantes e necessários. O conjunto conduz ao equilíbrio e à harmonia. A pandemia está nos ensinando muito. Aprendamos as lições.

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