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Novo Cabrais

Para sempre uma voluntária das boas ações na comunidade cabraisense

Muito antes de Novo Cabrais ser Novo Cabrais, desde a década de 1940 quando a hoje localidade cabraisense do Cortado ainda fazia parte do oitavo distrito de Cachoeira do Sul, uma mulher de descendência italiana já fazia muito pela sua terra que, meio século depois apenas, passaria a ser Novo Cabrais.

Livette Amalia Lovato Piazza, ou simplesmente Dona Livette, nasceu, se criou e vive até hoje na localidade do Cortado, local que viu mudar e crescer muito por conta dela, embora, humilde, não reconheça. “Sempre vivi aqui. Nasci aqui no Cortado nessa casa onde tem o mercado”, aponta ela da sala de sua casa à rua, na direção da estrada onde fica localizado hoje o Mercado Central. A senhora de 88 anos, nascida em 16 de junho de 1927, conta, com riqueza em detalhes, os momentos marcantes de sua vida que a tornaram – em uma época onde as mulheres eram, de berço, criadas apenas para serem donas de casa – uma das maiores expoentes do trabalho voluntário e social da época.

AMOR QUE ATRAVESSOU O CONTINENTE

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De descendência italiana, Dona Livette conta que seu pai não permitia que ela tivesse um relacionamento com nenhum rapaz que não tivesse origem ou descendência italiana. “Meu avô Pedro Lovato veio numa onda de imigração da Itália, e meu outro avô, Maximiliano de Franceschi, queria vir para Brasil também e veio. Ficou um tempo em São Paulo e depois veio para cá. Meu pai e minha mãe sempre se comunicaram por correspondências com esses parentes da Itália e, quando eu fiz 20 anos, minha mãe tirou uma foto minha e mandou para a Itália. Assim que o Luigi viu minha foto ele falou que havia sonhado com uma moça encostada num muro sorrindo pra ele, igual como eu estava foto, e disse ‘se eu for para o Brasil eu vou me casar com essa moça’”, conta sorrindo Livette se referindo ao seu marido, Luigi Piazza.
Seu pai, Jacob Lovato, em 1948, fez, no Consulado Italiano em Porto Alegre, a garantia de vida de Luigi Piazza e outros italianos que queriam vir para o Brasil, sendo este o documento que permitia a vinda dos imigrantes ao país. “Quando ele chegou a gente se conheceu, fomos nos acertando, ele não falava nada português, fui ensinando ele e deu certo”, conta Livette. O destino dos dois estava traçado. Livette e Luigi noivaram em 1º de janeiro de 1948 e casaram em novembro do mesmo ano.

TRABALHO SOCIAL

Já casados, Livette e Luigi, apoiados pelo irmão de Livette, o construtor Ildor Lovato, ajudaram a fundar o tradicional Clube Cruzeiro do Sul, localizado na localidade do Cortado. Mas o trabalho pelo crescimento da localidade e da região só havia começado. “Eu estudei três anos no Colégio das Irmãs Coração de Maria, em Vale Vêneto, e eu sempre gostei muito de cantar e tinha bom ouvido, pois aprendi também a tocar violino. Aí aqui eu comecei a formar o coral na Igreja. Formamos um coral muito bom que chegou a cantar até em Cachoeira do Sul na época em que as missas ainda eram cantadas em latim”, destaca Dona Livette, que complementa: “Fui fazer um curso de canto com a professora Julieta Carvalho e a partir disso comecei a dar aulas de canto gratuitas para as pessoas que quisessem aqui na comunidade”, conta Dona Livette, que também, na época, se engajou no movimento da Ação Católica, do qual foi presidente.
Em meio a essas atividades voluntárias e o trabalho de dona de casa, Dona Livette iniciou uma pastoral da catequese no Cortado. “Adquiri bastante conhecimento religioso quando estudei três anos no Colégio das Irmãs Coração de Maria e tinha adquirido mais conhecimento entrando para o movimento da Ação Católica, aí fui catequista para as pessoas que não tinha muito conhecimento da religião e queriam saber mais”, destacou Piazza, que também foi durante nove anos da diretoria da Igreja na localidade, todos estes trabalhos de forma voluntária e gratuita.

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GRANDE DOM

Mesmo realizando todas essas atividades, o grande dom de Dona Livette, no entanto, segundo ela própria, seria outro. “A parteira daquela época era a Dona Teresa Puntel. Quando ela faleceu minha mãe dizia que alguém precisava ajudar as pessoas a fazer os partos, pois morriam tantas mulheres e tantas crianças, então ela começou esse trabalho de parteira e quando ela se apertava ela me chamava pra ajudar. Assim eu fui aprendendo também a ser parteira”, destaca Livette.
Mesmo iniciando o trabalho de parteira, Dona Livette entendia que precisava de conhecimento técnico sobre o trabalho.

Foi aí que, em contato com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), um curso surgiu. “Eu era muito amiga da extensionista da Emater, a Dalva Souto, e expliquei a situação. Ela se interessou pelo assunto, resolveram abrir um curso de parteiras e eu fiz”, conta Livette que, ao final do curso, recebeu uma bolsa de instrumentos da Unicef para utilizar nos partos. Bolsa que guarda com orgulho até hoje. “Na bolsa tinha avental, pinças, tesouras, frascos de injeções contra hemorragia, Coramina (estimulante cardíaco) e tudo que era necessário para o parto”, ressalta Dona Livette, que foi parteira mais de 35 anos e contou até 800 partos realizados, mas garante ter passado de 1.000, todos em municípios ou localidades da região como no próprio Cortado, Agudo, Capão Grande, Mangueirinha, Contenda, entre outros, sem nunca cobrar.

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“Nunca pedi nada em troca dos partos. As pessoas que, muitas vezes, me davam alguma coisa. Eu aceitava em função de ter que comprar material, tinha transporte, despesas, então quando as pessoas me ofereciam eu aceitava, mas nunca cobrei nada de ninguém”, diz Livette, que deixa uma mensagem final: “Quem recebe o dom da vida tem que aproveitar para fazer o bem. Não tem dinheiro no mundo que pague um sorriso de retorno em agradecimento à uma ação tua. Muitas madrugadas eu descia a estrada de volta pra casa e agradecia à Deus pela graça e pelo bem que eu havia feito à uma família. Que as pessoas aproveitem mais a vida para fazer o bem”, finalizou Dona Livette, uma dona de casa, parteira, catequista, professora de canto, mas, sobretudo, uma pessoa disposta a fazer o bem.

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