Não há precedentes em Santa Cruz para o que assistimos nos últimos dias. No penúltimo ano da gestão que coroa uma das trajetórias mais brilhantes da política local, Telmo Kirst enfrenta não uma crise de popularidade, tampouco uma batalha com opositores, mas uma sangria interna, um confronto aberto com aliados de décadas e principais fiadores de suas campanhas vitoriosas. Quem imaginaria que a disputa entre Telmo e Sérgio Moraes em 2016 seria fichinha perto do embate que o prefeito trava agora com a família Hermany e outros correligionários históricos?

A imagem da vice-prefeita correndo ao MP para denunciar que fora expulsa de seu gabinete é surreal. Mas não há com o que se surpreender: faz tempo que Telmo age para sufocar o grupo com o qual se elegeu. Primeiro, aparelhou os principais setores da Prefeitura com pessoas de seu próprio círculo, ignorando indicações partidárias. Depois, articulou uma debandada do PP. Na jogada mais agressiva, desfez acordo firmado na base governista e definiu a eleição da presidência da Câmara, em dezembro.

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O objetivo não poderia ser mais evidente: com o pleito de 2020 virando a esquina e impedido pela legislação eleitoral de concorrer, Telmo não abre mão de ter o controle da sucessão e direcionou sua artilharia contra quem cobiça a sua cadeira. A demissão de Henrique Hermany, o divórcio com o MDB de Alex Knak, a guerra declarada contra a vice e a nomeação de uma secretária do principal partido de oposição são apenas consequências disso.

Desde que chegou ao Palacinho, Telmo confidencia a pessoas próximas que sua meta é “acabar com a política de famílias em Santa Cruz”. A vitória arrasadora contra os Moraes foi o primeiro êxito, calcula. Agora, mira as famílias de sua própria linhagem. Até onde vai essa briga, não se sabe, mas ela será decisiva para o cenário do ano que vem. Tudo indica que Telmo seguirá arregimentando políticos não tradicionais e fortalecendo legendas hoje inexpressivas e facilmente manobráveis por ele, ao mesmo tempo em que se afasta de antigos companheiros. Acredite, leitor: o espetáculo está apenas começando.