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Coronavírus

Dias de quarentena: vovó, fique em casa!

Alessandra Steffens Bartz
Psicóloga
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No imaginário popular, avós são pessoas doces de afeto; graças a elas, comemos aquele bolo gostoso e escutamos as sábias histórias do seu tempo. Mas agora vovó não pode espalhar seu carinho; não deve beijar e abraçar netos, filhos, vizinhos. Precisa ficar em isolamento, reclusa em casa, pois os idosos fazem parte do grupo de risco desta doença que se arrasta sobre nós, a Covid-19.

Pode ser muito difícil, para um ancião, entender com clareza o que está acontecendo. Porém, eles precisam receber informação confiável para poder colaborar e não apenas se sentirem privados de sua liberdade. Para isso, precisamos fornecer explicações claras, não tão complexas, nem tampouco infantilizadas. A informação assusta, mas também tranquiliza. Desta forma, o idoso pode se preparar (talvez precise de lã para começar uma manta para o inverno) ou, para os mais ativos, reorganizar a rotina longe do chimarrão com as amigas ou da bocha com os amigos. Aliás, manter uma rotina é uma estratégia útil nesse contexto. Dentro do possível, que acorde no mesmo horário, faça as atividades da manhã, almoce, descanse um pouco, procure uma atividade prazerosa, durma bem. Também não deixe de se alimentar adequadamente, pois estar fisicamente saudável é uma arma importante para a manutenção da saúde.

Os avós mais teimosos precisam se esforçar para ceder e aceitar que as medidas tomadas são para o bem de todos, de sua família e de todas as outras famílias mundo afora. Alguns podem estar fazendo uso de medicamentos para Transtorno Depressivo ou Ansioso, ou outros. Devem manter seus tratamentos de saúde mental e física. Conversem com os familiares para que providenciem as receitas dos medicamentos com seu médico, pois os médicos e as farmácias seguem trabalhando por todos nós. Procurem conversar com familiares e amigos por telefone, pelo computador, ou por outro recurso que saibam utilizar. Alguns podem estar realmente sozinhos em casa, mas não estão abandonados. Contatem os familiares com frequência, e não deixem de solicitar aos mais jovens que busquem algo no mercado ou na farmácia.

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Os familiares devem estar atentos, pois momentos de tensão e de estresse podem ser gatilhos para desequilíbrio emocional. Certa dose de medo e ansiedade é comum em tempos como esse, e eles podem ser mais intensos para os idosos mais vulneráveis. Pesquisas recentes sobre o impacto psicológico das pandemias apontam para piora dos quadros depressivos, do Transtorno Obsessivo Compulsivo, do Transtorno de Ansiedade Generalizada e da ideação suicida. Esses idosos devem ser conduzidos para atendimento psiquiátrico e psicológico. Estão sendo disponibilizados atendimentos online ou consulta à domicílio. Contatem os profissionais. O importante é ficar acompanhando os idosos de perto, através das tecnologias, para que se sintam amparados.

O medo da morte acompanha as pessoas ao longo da vida e pode crescer com o envelhecimento. E esse temor pode ser potencializado pelo risco real existente. Alguns avós ficarão mais assustados, temerosos, e precisarão de mais suporte familiar e profissional. Outros podem não dar importância ao perigo, pensando que já estão próximos da morte, e tomarem postura mais resistente à prevenção. O ancião abandonado pela família estará mais vulnerável. Todos precisamos de uma rede de apoio, mesmo que à distância. A finitude dá sentido à vida, faz com que a valorizemos mais. Não foque no medo da morte, mas na vontade de viver. Viva intensamente, usando sua criatividade para lidar com o revés. Sofrer por antecipação não evitará o que tememos. Proteger-se contra o contágio do coronavírus é a melhor forma de lutar pela vida.

E, vovôs, não passem o dia com a televisão ligada. Tem-se dito que a TV por horas jorra sangue, e o excesso de notícias e imagens de pessoas doentes, hospitais, mortos só vai abalar e entristecer. Precisamos ter respeito por este vírus que se dissemina tão rapidamente, mas não podemos viver falando ou assistindo este conteúdo o tempo todo. Idosos precisam se ocupar com atividades prazerosas e alegres. Leia um bom livro, tricote, borde, assista um filme romântico ou de aventura, experimente uma receita nova, reorganize seu quarto, separe o que não precisa mais para a próxima doação. Aprecie todas as formas de arte.

Além disso, a fé é uma arma poderosa. A ciência já comprovou que ter fé ajuda na manutenção da saúde e na recuperação das doenças. Então, separe um tempo para conversar com seu Deus, seja qual for sua religião. Reencontre-se com Ele, se preciso. O cultivo da espiritualidade fortalece nossa saúde mental. Agarre-se em sua crença e reze por todos. Mas em casa, não nos templos ou nas igrejas. Não por enquanto. Reveja velhos conflitos, perdoe, lembre dos momentos felizes, profira palavras de amor e afeto.
Concluo advertindo que podemos esquecer que os idosos podem nos surpreender e dar grandes lições de resiliência. Muitos deles já passaram por outras situações graves, alguns até mesmo pela guerra. Esses avós podem ser o testemunho vivo de que o tumulto vai passar; serão nossos mestres, contando suas histórias passadas, e como reagiram. Os idosos acumularam sabedoria desde longa data e muito podem ensinar. Podem ser exemplo do cuidar de si para cuidar do outro, numa rede de solidariedade. Vovós, voltaremos a abraçar e beijar a todos que amamos!

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