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SANTA CRUZ

Edmar Hermany: “Foi muito difícil substituir o Arno”

Foto: Rodrigo Assmann

Hermany tem como uma das marcas de sua gestão a construção do Parque da Cruz

A Gazeta do Sul veicula, a partir deste fim de semana, entrevistas com todos os ex-prefeitos vivos de Santa Cruz do Sul. Será uma espécie de “aquecimento” para a campanha eleitoral deste ano, que começa oficialmente no próximo dia 26. O primeiro da série é Edmar Hermany (PP), que governou o município entre 1993 e 1996, sucedendo a Arno Frantz, falecido no ano passado. Pela ordem, serão ouvidos nas próximas semanas Sérgio Moraes (PTB), José Alberto Wenzel (PSDB) e Kelly Moraes (PTB). Nas entrevistas, eles relembram momentos marcantes de suas trajetórias, contam histórias de suas gestões e avaliam os desafios impostos pela função de prefeito.

Edmar Hermany
Quando elegeu-se para a Prefeitura de Santa Cruz em 1992, Edmar Guilherme Hermany, advogado da região de Trombudo (hoje Vale do Sol) com um mandato de vereador no currículo, tornou-se o sucessor de Arno Frantz – que, além de ser o prefeito mais popular da história do município, era irmão de sua mãe.

Ao contrário do tio, porém, Hermany experimentou tempos mais difíceis à frente do governo: duas trocas de moeda, inflação galopante que chegou a mais de 15% ao mês e, na reta final, quebras severas de arrecadação. Apesar disso e de não ter conseguido disputar a reeleição, conseguiu deixar marcas como o Parque da Cruz, canalizações e melhorias no interior.

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Quatro anos após entregar a Prefeitura para seu principal rival político, Sérgio Moraes, sua esposa, Helena, tornou-se a vereadora mais votada da história. Na quele mesmo pleito, Hermany também entraria para a história ao lançar-se candidato a prefeito e renunciar no meio da campanha. Voltaria à cena em 2004, quando elegeu-se vereador novamente e, desde então, permaneceu na Câmara.

Hermany recebeu a Gazeta em sua casa essa semana, às vésperas de uma eleição na qual Helena tentará retornar à Prefeitura e o mais novo de seus três filhos, Henrique, pleiteará a sua cadeira no Legislativo. Na entrevista, falou sobre sua relação com Arno e Sérgio, os principais momentos de sua gestão e o desafio de ser prefeito.

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ENTREVISTA
Edmar Hermany (PP)

Ex-prefeito

A sua candidatura a prefeito era algo natural, considerando que o Arno era seu tio?
O Arno sempre achava que eu não teria condições. Isso é normal, os caciques do partido não queriam sombra. Aí surgimos eu e o Ademir Müller, e nós colocamos o nosso potencial político na rua. Naquela época, não havia espaço na política para mulheres e jovens, os altos mandatários do partido simplesmente chegavam às convenções e decidiam quem iria concorrer. Mas eu era muito ligado aos clubes de serviço e ao futebol, e aí fui fazendo a minha caminhada.

Como foi suceder ao Arno?
Foi muito difícil substituir o Arno. Ele queria de todo modo ser secretário. E eu achava que, se ele fosse secretário, eu não seria prefeito. Mas ele sempre achava que eu não tinha condições, e isso levou a uma desavença política de muitos anos.

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E como ficou a questão familiar?
As coisas não se misturavam. A minha mãe era muito chegada no Arno. Mas foi muito difícil, para ele e para mim. Nós nos respeitávamos, mas a realidade é essa.

O senhor se frustrou por não ter conseguido concorrer a reeleição?
Eu estava preparado para concorrer. Havia uma emenda no Congresso que autorizaria a reeleição. E eu tinha feito um governo de muitas obras, pavimentações, iluminação pública, redes de água, repasses para a universidade. Na época, inclusive, saiu uma pesquisa do Ibope em que o Tarso Genro (então prefeito de Porto Alegre) tinha 96% e eu tinha 92%. Mas aí, na última semana, a emenda não passou. O Arno concorreu, e o Sérgio Moraes ganhou com larga margem.

Em 2000, o senhor se lançou mas acabou renunciando. Como foi?
Nós estávamos acertados para o Wenzel ser meu vice. Mas aí o Arno resolveu bancar a candidatura do Wenzel e a chapa se abriu, os dois concorreram. Estávamos indo bem, mas aí a candidatura dele começou a crescer e eu fui caindo. Como eu não queria que o Sérgio ganhasse de novo, renunciei e dei apoio ao Wenzel. Só não ganhamos porque os próprios companheiros do PSDB e do PDS não acreditavam.

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Mas foi difícil abandonar a campanha?
Não foi porque éramos ferrenhos adversários do Sérgio e queríamos ganhar a eleição de novo. Eu poderia ter renunciado e ido para casa. Mas renunciei e fui para a campanha do Wenzel. Mas vou dizer uma coisa: para renunciar, é necessário ter muita hombridade. Do dia para a noite, tem que dizer para todos os companheiros: aquilo que vocês queriam que eu fosse, eu não vou ser.

O senhor e o Sérgio eram vistos pela comunidade como inimigos. Isso era real?
Ao contrário, sempre me dei muito bem com o Sérgio. Conheci ele quando vereador. Nossa desavença sempre foi apenas política e partidária. Nunca deixamos de nos cumprimentar e nos respeitar.

O que é mais difícil em ser prefeito?
Na minha opinião, é acomodar os companheiros. Isso é o pior. Hoje a mentalidade é outra, muitos cargos-chave são escolhidos pelos próprios funcionários de carreira. Mas imagina uma pessoa que trabalha há dez ou 15 anos na Prefeitura e de repente um CC, sem experiência alguma, vira chefe dela. Por isso, tem que ter muita habilidade.

Uma das marcas do seu governo é o Parque da Cruz. Como surgiu o projeto?
Surgiu em função do hino de Santa Cruz, que diz “A cidade crente e santa/ Que sua cruz ao sul levanta”. A ideia era que a cruz fosse iluminada e pudesse ser vista de qualquer canto da cidade. Foi um marco de fé que eu instituí em meu governo. Em volta da cruz, fizemos um parque e, infelizmente, nenhum prefeito deu continuidade ao projeto. A intenção era fazer uma réplica do anfiteatro de Curitiba. Tinha previsão de implantar teleférico e um restaurante panorâmico. Agora, pelo menos, o restaurante está sendo feito.

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No primeiro ano do seu governo, a Oktoberfest não foi realizada. Como foi isso na época?
Esse foi o maior problema político da minha vida. Tu sabes que o Armando (Wink, ex-prefeito) foi quem criou a Oktoberfest e o Arno continuou. Eu tive que não fazer a Oktoberfest, porque não era possível que a Prefeitura bancasse a festa. Fazer recepção, jantares, dar chope para os convidados, construir sem licitação, isso tudo não era mais possível. A Prefeitura tinha prejuízos homéricos com isso, e aí chegamos à conclusão de que não havia condições. Aí eu propus que a festa fosse terceirizada. Nunca me esqueço, na inauguração de uma obra ali próxima ao Corpo de Bombeiros, foi a primeira vez que me encontrei com o Arno depois que anunciamos o cancelamento da Oktober. Foi terrível.

O que aconteceu?
Ah, ele não aceitou. Veio tirar satisfação comigo no meio da solenidade. Disse que eu não poderia deixar de realizar a Oktoberfest. Aí passamos a gestão da festa para uma associação sob o compromisso de que a Prefeitura não participasse de nenhuma resolução. Por isso a Oktoberfest sai hoje, ela tem uma estrutura própria e se mantém sem o Município.

No final da sua gestão, a Prefeitura enfrentou dificuldades grandes de arrecadação.
Foi o momento mais difícil que eu enfrentei. O governo estava indo para o fim, as pessoas queriam obras e nós não tínhamos dinheiro para nada. Não podia deixar de pagar a Previdência, pois se deixasse eu ia para a cadeia. Deixamos de pagar muitos credores.

Qual o maior orgulho da sua experiência enquanto prefeito?
É o reconhecimento que tenho da comunidade até hoje. Poder olhar todos nos olhos e dizer: esse cara eu não passei para trás, não devo nada para ele, não fui desonesto com ele.

E do que o senhor se arrepende?
Sinceramente, não tenho muito do que me arrepender. Sinto um pouco por não ter colocado mais pessoas para continuar o trabalho político, por não ter dado mais oportunidade para pessoas de dentro da Prefeitura.

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Mas o que o senhor faria diferente, se voltasse a ser prefeito?
A montagem do governo eu faria diferente. Faria algumas junções de secretarias e apostaria muito em terceirização. Ficaria só com o que é chave – saúde, educação, segurança e assistência social. Mas o resto, não. A Prefeitura não tem capacidade para fazer grandes obras.

Quem foi, na sua opinião, o maior prefeito que Santa Cruz teve?
Não por ser meu tio mas, para mim, foi o Arno. Era um momento diferente da política, as pessoas confiavam mais no prefeito. O Arno era um líder tão grande que as pessoas que vinham a Santa Cruz passavam na Prefeitura para dar a mão para ele. Quem faz isso hoje? Eu me inspirei muito nele.

Independentemente de quem vencer a eleição este ano, qual conselho o senhor daria?
O maior conselho que eu daria é: no dia seguinte ao da eleição, deve se despir de todos os egos e colocar a comunidade como prioridade. Não se governa sozinho. Nenhuma empresa tem bom rendimento se não houver diálogo com os funcionários. E os funcionários têm que ser valorizados.

Para terminar, o senhor já mencionou em várias ocasiões na Câmara que está escrevendo um livro de memórias.
Vai se chamar “Por trás dos bastidores”. A cada dia, eu escrevo alguma coisa. Vamos ter um capítulo novo agora, com essa eleição que está chegando. Tem muitas coisas que o povo não sabe que a gente passa e tem que engolir na política. Por exemplo: eu tenho um apelido de Gambá. Mas eu não sou alcoólatra, nunca fui.

E como surgiu esse apelido?
Isso foi lançado em uma campanha. E eu sei quem foi. Vai estar no meu livro. E é uma coisa que eu nunca consegui desfazer. Eu não dei bola, mas pegou. Ainda hoje tem gente que chega para mim e diz: “Parou de beber?”. Eu digo: “Sim, parei”. Vou fazer o quê? Não adianta…

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