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Biologia

Estudo sugere que aves preferem fazer ninhos em prédios, mesmo onde há árvores

Uma pesquisa de doutorado realizada na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) analisou o comportamento de aves que preferem fazer seus ninhos em construções humanas, mesmo em ambientes com muitas árvores. Conforme um dos autores do estudo, o biólogo, mestre em Ciências Ambientais e doutor em Ecologia e Recursos Naturais, Augusto Batisteli, a pesquisa foi feita com uma única espécie, a Turdus leucomelas, conhecida popularmente como sabiá-barranco ou sabiá-pardo.

“A gente elege uma espécie porque é inviável estudar muitas ao mesmo tempo. Escolhemos, entre as possíveis, uma que represente as demais, para que sirva como modelo. Temos motivos para acreditar que os resultados que a gente encontrou para esta espécie em particular valem também para outras que apresentam o mesmo comportamento”, explicou o pesquisador em entrevista ao programa Rede Social da Rádio Gazeta. Além de aves, os resultados podem valer para répteis e mamíferos, que também utilizam as construções humanas como abrigo.

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O local analisado foi área do campus-sede da universidade, que apesar de ser muito arborizada, tem várias espécies que constroem os ninhos nos prédios. “O argumento costuma ser a falta de árvores, porque estamos acabando com o ambiente natural deles e por isso as aves se voltariam para as construções, mas não é o caso. Elencamos as possíveis vantagens nesse comportamento e decidimos estudar cada uma.”

Segundo o estudo, os ninhos em prédios são, em média, seis graus mais quentes que os de árvores, o que permite que as fêmeas passem menos tempo por dia incubando os ovos, reduzindo os esforços na incubação e permitindo que ela fique períodos maiores longe do ninho, em busca de alimento. Outra vantagem é que os ninhos nas construções seriam mais difíceis de serem localizados e acessados por predadores e que a proteção manteria os ninhos íntegros de um ano a outro, permitindo o reuso.


Conforme Batisteli, apesar de elencar esses benefícios, as conclusões ainda são preliminares para definir se o comportamento deve ser incentivado ou evitado, o que deve exigir estudos extensos futuramente. “Mostramos pela primeira vez em nível global que os ninhos em construções humanas modificam o comportamento daquela ave. É uma área nova de estudos que estamos inaugurando e queremos responder até que ponto isso é vantajoso ou se outros fatores, com a presença desses bichos tão próximo das construções, trazem algum prejuízo para eles.”

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A tese de doutorado Conquistando o ambiente urbano: valor adaptativo e comportamento parental nos ninhos de Turdus leucomelas (Aves, Turdidae) em edifícios foi realizada com bolsa Capes e orientada pelo professor Hugo Miguel Preto de Morais Sarmento. A pesquisa foi realizada entre 2016 e 2020 em conjunto com a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e envolveu nove pessoas. A primeira etapa consistiu em verificar a temperatura dentro e fora dos ninhos usando um aparelho que fazia as medições e armazenava os dados.

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Campo vasto

O trabalho contou ainda com 220 horas de observação de cerca de 40 ninhos em todo o campus, com registros da movimentação das fêmeas. O estudo sobre a temperatura dos ninhos chegou a ser publicado no periódico britânico International Journal of Avian Science (IBIS), uma das mais tradicionais na área de Ornitologia. Mais informações e a íntegra do trabalho podem ser solicitadas ao pesquisador, pelo e-mail [email protected].

Para o biólogo, o campo é muito vasto e a intenção é seguir nesta linha de pesquisa com outros estudos nos próximos anos. “Temos evidências similares em uma espécie próxima do nosso sabiá, que vive na Europa. Essa adaptação ao ambiente urbano pode levar a uma microevolução, ou seja, a espécie pode evoluir a uma linhagem que é especialmente adaptada ao clima urbano.”

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O melro preto (Turdus merula) habitava florestas e hoje vive em centros urbanos; migrava, e em alguns locais deixou de realizar a migração. Um dos próximos passos é diagnosticar uma diferença genética entre a espécie urbana e as dos ambientes naturais, além de avaliar outros aspectos do comportamento, como sobrevivência e qualidade de vida dos pássaros.

Símbolo

O sabiá é o pássaro-símbolo de Santa Cruz do Sul. Os moradores estão acostumados a ouvir o canto do pássaro logo cedo, especialmente durante a primavera. Uma lei proposta pelo então vereador George List foi aprovada em novembro de 1994 adotando o sabiá-laranjeira (Turdus rufiventis) como símbolo do município.

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Na justificativa para a escolha, o vereador argumentou que o objetivo era a “preservação de uma das maiores expressões de nossa fauna, o verdadeiro regente e entoador das mais belas sinfonias do nosso meio ambiente”. Além de citar a presença expressiva da espécie na cidade, a ideia era criar campanhas ecológicas chamando atenção para a necessidade de cuidado e conscientização sobre o animal.

De acordo com o biólogo Augusto Batisteli, o gênero Turdus, ao qual pertence o sabiá, tem representantes em todos os continentes e engloba cerca de 65 espécies diferentes, das quais mais de uma dezena vive no Brasil. “As mais comuns no ambiente urbano são o sabiá-laranjeira, o sabiá-poca e o sabiá-barranco. Os nomes populares podem variar de acordo com a região.” Segundo o pesquisador, os sabiás controlam a população de insetos e têm a importante função de dispersar sementes.

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