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Perfis falsos: os fakes estão à solta

“Não me venham com falácias.” A frase está em destaque na página de Ana Júlia Sobreiro no Facebook. Recentemente, ela, que se apresenta como servidora federal, publicou dezenas de comentários críticos a políticos de Santa Cruz. O detalhe: Ana Júlia Sobreiro não existe. Trata-se de mais um entre os perfis falsos que vêm se disseminando perigosamente pelas redes sociais no município.

Embora o fenômeno não seja novo, ele se intensificou com a chegada do período eleitoral. Contas como essa – que foi retirada do ar nessa sexta-feira – utilizam nomes e informações fictícias, além de imagens garimpadas na internet, para difundir conteúdos de cunho político, que não raro descambam para difamações.


A Gazeta do Sul monitorou alguns perfis durante as últimas semanas. Ainda que não seja difícil identificar os traços suspeitos, não são poucos os usuários que interagem com fakes sem perceber. Uma dessas usuárias comentou em uma postagem de Ana Júlia Sobreiro essa semana, mas, quando questionada, admitiu que não sabia de quem se tratava.

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Segundo o professor de Informática da ESPM e Insper, Humberto Sandmann, a criação de perfis falsos serve a diversos propósitos, como golpes e roubos de dados. No caso de contas usadas para propagar conteúdo político, trata-se de uma prática que pode gerar danos grandes à imagem de qualquer pessoa. “Quando isso acontece próximo ao pleito, a margem de manobra jurídica é quase nula”, observa.

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Como identificar um fake

Com a ajuda de especialistas, listamos algumas dicas para usuários de redes sociais identificarem possíveis perfis falsos por meio de dados públicos disponíveis nos próprios perfis nas redes sociais.

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1 – Observe as fotos. É comum perfis falsos usarem fotos retiradas de bancos de imagens na internet. Existem, inclusive, sites criados para municiar os fakes e que oferecem imagens de forma gratuita. Uma forma simples de descobrir é fazendo uma busca pela imagem no Google – se encontrá-la em outro contexto, é muito provável que se trate de um fake. Também é importante observar se a pessoa que aparece na foto do perfil é a mesma das fotos dos álbuns e se há familiares e amigos nas imagens. No caso de Renato Prates (imagem abaixo), tanto a imagem do perfil quanto outras foram encontradas em bancos e sites estrangeiros.


2 – Antes de aceitar a solicitação de amizade de um perfil suspeito, observe quem são seus amigos. Caso tenha amigos em comum, pergunte se conhecem ou têm alguma referência sobre a pessoa. Em alguns casos, se o perfil é muito ativo, mas tem poucos amigos, pode ser um indicativo. Em outros, porém, os fakes disparam solicitações de amizade em massa para disfarçar. A reportagem consultou nos últimos dias cerca de 40 amigos de Renato Prates – inclusive alguns que interagiram com ele em comentários – e todos admitiram que não o conhecem.

3 – Analise se há coerência nas informações de apresentação e, se puder, cheque-as. Tanto a direção da Escola Ernesto Alves quanto a assessoria de imprensa do curso de Direito da PUC-RS confirmaram à reportagem que não há registros de algum ex-aluno com o nome Renato Prates. Esse mesmo perfil continha informações diferentes há poucos meses: apresentava-se como ex-aluno de Jornalismo da Unisc e ex-funcionário do jornal Diário Gaúcho, mas também não há registros dele nessas instituições. Também é importante cuidar quando o perfil foi criado – se for muito próximo a um período eleitoral, por exemplo, é possível que seja uma conta concebida com fins políticos.

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4 – Verifique o conteúdo que é publicado no perfil. Se o tom for essencialmente político, voltado a um determinado partido ou candidato, ou puramente denuncista, há fortes chances de se tratar de um militante disfarçado.

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É crime ou não é?

Criar um perfil em rede social para uma pessoa fictícia não gera penalidade por si só. Conforme o advogado especializado em Direito Digital e consultor do escritório Truzzi, Marcelo Mallen da Silva, o crime geralmente começa no uso da falsa identidade para obtenção de alguma vantagem (como em uma situação de estelionato) ou para causar dano a outra pessoa (crimes contra a honra). “Se o perfil não tem o objetivo de prejudicar ninguém, está dentro do limite da liberdade de expressão. Mas esses perfis muitas vezes têm o intuito de provocar”, observou.

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De acordo com ele, se o perfil é utilizado para difundir conteúdo difamatório, o anonimato serve para dificultar a identificação do responsável. Nesse caso, o fato de ter sido usado uma identidade falsa pode ser agravante em uma ação judicial. “A questão é: por que criar um perfil falso? Qual o interesse de quem está por trás? Mais importante do que identificar quem, é identificar o porquê”, colocou.

Ainda segundo o especialista, as próprias empresas que administram as redes sociais podem ser responsabilizadas caso se omitam em relação a atos ilícitos cometidos em perfis falsos. “Quando um fake é identificado, a vítima denuncia o conteúdo à plataforma. Se a plataforma se nega a retirar ou se omite de analisar ou suspender aquele perfil, pode responder. E isso é muito comum, por incrível que pareça.”

Confira alguns fakes

Criada em 2012, a conta Ana Júlia Sobreiro veiculava críticas ao governo municipal e, nas últimas semanas, postou uma série de ataques a candidatos a prefeito e vereador. A Gazeta do Sul verificou que imagens publicadas pelo perfil, que mostravam garotas em praia, foram retiradas de bancos de imagens da internet. Também foram consultados cerca de 30 amigos do perfil e todos afirmaram desconhecê-la. Além disso, na apresentação constava que a dona do perfil seria assessora de imprensa e funcionária do Palácio do Planalto, em Brasília, mas o nome não consta no Portal da Transparência da Presidência da República. Nessa sexta-feira, o perfil saiu do ar.

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O perfil Eduardo Cavalcante está em atividade há pelo menos dois anos e publica de forma sistemática críticas ao governo municipal. Na apresentação, consta que ele seria egresso da Unisc, mas a instituição confirmou à reportagem que não há registros de ex-alunos com esse nome. Além disso, não há nenhuma informação pessoal – as fotos, por exemplo, são todas genéricas, de lugares em Santa Cruz. Tem 1.255 amigos.

Como denunciar

As principais redes sociais possuem canais tem denúncias de irregularidades envolvendo usuários. No entanto, a política em relação a perfis falsos varia de acordo com cada plataforma.

Facebook – Abra o perfil e clique no último botão à direita no topo da página. Aparecerá a opção “Obter apoio ou denunciar perfil”. Basta, então, seguir os passos. É possível também bloquear ou ocultar todas as publicações do perfil.

Twitter – Abra o perfil. À direita da foto, acima da descrição, há um botão a partir do qual aparecem diversas opções, inclusive a de denunciar. A partir daí, basta selecionar a opção que mais se ajusta à situação.

Instagram – Abra o perfil, clique em um botão à direita do nome, no topo da tela, e clique em “Denunciar”.


“É muito difícil, se não impossível, blindar-se na internet”, diz especialista

Segundo especialistas ouvidos pela Gazeta do Sul, é ilusória a ideia de que é possível esconder-se por trás de perfis falsos em redes sociais. De acordo com o professor do Departamento de Informática da Unisc, Charles Neu, algumas pessoas utilizam pontos públicos de acesso à internet, como computadores em lan houses ou universidades, acreditando que dessa forma não terão seus movimentos identificados. Isso, porém, não é verdade. “É muito difícil, se não impossível, blindar-se totalmente na internet, pois sempre deixamos rastros”, observa.

Conforme Brunno Fagundes, que atua no mesmo departamento, esses vestígios envolvem desde o e-mail ou número de telefone utilizado para criação da conta na rede social, passando pelo endereço IP de acesso às contas (pontos de acesso à internet), até dados de localização, identificação dos dispositivos e informações do sistema operacional.

Porém, dados mais restritos que estão sob controle das plataformas ou provedores de acesso à internet só podem ser obtidos mediante solicitação judicial, como prevê o Marco Civil da Internet. “O recomendado é que se faça uma denúncia à rede social onde o perfil foi criado ou, se necessário, à polícia e ao Ministério Público, que têm meios tecnológicos para identificar o autor do perfil falso, geralmente”, observa Neu.

Na mesma linha, o professor da ESPM e Insper, Humberto Sandmann, afirma que, embora não seja difícil burlar os protocolos de segurança das redes ao criar um perfil, as empresas têm facilidade para identificar contas falsas, já que elas apresentam padrões. “Tudo na internet é rastreável, só é uma questão de quanto tempo e recursos se está disposto a investir nesse rastreamento. Quando um usuário acessa a rede social, por exemplo, esta possui diversos dados do ponto de acesso, IP, navegador, portas, softwares e redes.”

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