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ENTREVISTA

‘A economia não vai voltar sem que a população esteja vacinada’, diz economista

Foto: Alencar da Rosa

Para o presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-RS), Mário de Lima, não há como pensar em retomada econômica sem uma aceleração da vacinação no Brasil. Embora apoie o retorno do auxílio emergencial para estimular o consumo, bem como os programas de redução de jornada e suspensão temporária de contratos de trabalho nas empresas para proteger a empregabilidade, Lima não tem dúvidas de que serão políticas sanitárias, e não econômicas, as que vão retirar o Brasil da grave crise que se avizinha.

Doutor em Economia do Desenvolvimento, Lima acredita que os impactos do aperto nas restrições às atividades econômicas nas últimas semanas virão no curto prazo e serão mais intensos do que os verificados no ano passado, quando da eclosão da pandemia, sobretudo para os setores de comércio e serviços. No médio e longo prazo, segundo ele, os efeitos serão proporcionais ao ritmo da campanha de imunização. “Quanto mais demorar a possibilidade de vacinação da maioria da população, pior se desenha o cenário de final de ano”, analisa.


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Em entrevista à Gazeta do Sul, Lima também comentou o risco de “estagflação” (estagnação econômica combinada a alta nos preços) e os reflexos do cenário de instabilidade política.

Lima: sem vacinas, não há expectativas

ENTREVISTA

O agravamento da pandemia levou à necessidade de restrições mais severas às atividades. Quais serão os impactos disso?
Infelizmente, desde o início houve muitas dificuldades na gestão do combate à pandemia. Isso ocorreu porque o novo coronavírus possui uma natureza pouco conhecida, e que gera uma doença altamente contagiosa sem tratamento científico comprovado e sem cura. Motivados pela incerteza, e orientados pela ciência, os gestores públicos agiram rapidamente para a contenção do vírus, por meio do distanciamento social, de forma mais flexível ou mais rígida. Isso trouxe consequências negativas para a economia pelo lado da demanda, ou seja, impactou diretamente no consumo e nos investimentos.

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No que se pode agora chamar de uma “segunda onda”, motivada pelas mutações do novo coronavírus, potencializadas pelo descuido da população, principalmente nas festas de fim de ano e no Carnaval, haverá um segundo impacto na economia no curto prazo, com danos superiores aos que ocorreram em 2020, pois não houve nem mesmo tempo para uma sólida recuperação econômica. Esses danos serão sentidos de forma mais significativa nos setores de comércio e serviços, principalmente no ramo de alimentos, especificamente em bares e restaurantes, bem como no setor turístico. Impactarão diretamente o setor hoteleiro, aumentando o desemprego, reduzindo a renda (salários e lucros) e trazendo menor arrecadação de impostos.

No médio e longo prazos, o impacto será proporcional à demora da vacinação em massa, que irá reduzir a expectativa dos agentes econômicos, especialmente os investidores internacionais, que irão retirar dólares do País, deixando o dólar mais caro e fazendo o Brasil reduzir as importações de produtos. Isso resultará num aumento da inflação já no médio prazo.

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Pode-se dizer que a retomada da economia depende fundamentalmente do avanço da campanha de imunização? Com certeza. Os problemas econômicos causados pela pandemia são de natureza sanitária e não econômica. Não importa o que se faça no campo econômico neste momento, a economia não irá voltar aos patamares de crescimento de antes sem que a população toda esteja vacinada. A única forma de agir diante da pandemia de Covid-19 é o combate ao vírus. As expectativas são fundamentais para o crescimento da economia. E sem vacinas, não há expectativas positivas em relação ao futuro. Logo, a economia fica prejudicada no curto, médio e longo prazos.

Qual a importância do retorno do auxílio emergencial neste momento?
O primeiro fator diz respeito à necessidade de auxiliar as pessoas que mais precisam de recursos para garantir a sobrevivência. A pandemia impactou negativamente de forma direta os trabalhadores informais. E a informalidade é a realização de atividades alternativas para as pessoas suprirem o desemprego formal ou ter uma renda extra, ou seja, as atividades informais já são decorrentes de problemas econômicos, mas a pandemia acabou tirando dos trabalhadores essa opção.

O segundo fator diz respeito à demanda. O PIB brasileiro em 2020 só não foi pior em decorrência do auxílio emergencial. O auxílio garante que essas pessoas que atuam na informalidade e não têm reservas financeiras possam continuar consumindo, garantindo o mínimo de rentabilidade para que os empreendedores possam manter os empregos. Logo, um novo auxílio emergencial é fundamental para reduzir os impactos econômicos da Covid-19 neste difícil momento.

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O retorno dos programas de redução de jornada e suspensão temporária de contratos nas empresas também é inevitável?
Exatamente. Assim como o auxílio emergencial, a redução de jornada e a suspensão temporária de contratos nas empresas foram fundamentais para a manutenção dos empregos. Sem essa combinação, nossa taxa de desemprego seria muito pior, e a queda do PIB muito maior.


Para além da pandemia, temos um cenário de inflação em alta, com forte pressão sobre os combustíveis e alimentos. Corremos o risco de ter estagnação econômica acompanhada de inflação?
Isso é bastante preocupante. No caso dos combustíveis, os custos de transportes e logística serão maiores e serão repassados aos preços finais dos produtos transportados, gerando uma inevitável inflação de custos, que irá incrementar a inflação geral dos preços. Significa dizer que custará mais caro produzir, desincentivando a produção. A alta demanda de produtos alimentícios, combinada com uma baixa oferta e produção desses produtos, garantirá um aumento da geração de demanda.

Há expectativa de que o Copom eleve a taxa básica de juros na reunião desta quarta-feira. Qual será o efeito imediato disso?
É muito provável que a taxa básica de juros seja elevada nesta quarta-feira a 2,5%. Segundo o Banco Central, a Selic deverá fechar o ano de 2021 em 4,5%. O efeito imediato seria frear um processo inflacionário que já está presente de forma observável em muitos preços da economia.

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2021 terminará pior ou melhor do que começou?
Isso irá depender muito de como o governo brasileiro e seu novo ministro da Saúde conduzirão a gestão de combate à pandemia de Covid-19. Quanto mais demorar a possibilidade de vacinação da maioria da população, pior se desenha o cenário para o final do ano. A cada semana que passa, a expectativa de crescimento do PIB tem uma redução. Há quatro semanas, essa expectativa de crescimento era de 3,43%; há uma semana atrás era de 3,26%; e nesta semana é de 3,23%.

Existem ainda outras questões conjunturais, como a má condução do governo brasileiro frente à pandemia, além da intervenção do presidente na Petrobras e o retorno do ex-presidente Lula. Tudo isso sinaliza um frágil e confuso arcabouço institucional brasileiro, que acaba resultando na redução de melhoria de investimentos externos. Cabe a pergunta: se você fosse um estrangeiro querendo realizar investimentos, você faria no Brasil, diante de um cenário de tantas incertezas? Logo, ainda é cedo para dizer como o ano vai terminar, seria temerário fazer uma projeção precisa. Mas já sabemos que 2021 não começou bem.

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