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História

O Lado Pessoal: Bozzetto, o do ‘Do It Yourself’

Foto: Lula Helfer

O punk, o último grande movimento cultural de massa realmente importante para as nossas vidas, fez florescer, entre outras tantas coisas fundamentais para quem realmente quer ser alguém neste mundo, a tão difícil, complicada e bastante almejada autoconfiança.

Não por acaso, uma das principais “cusparadas” de ordem punk, quando do seu surgimento, nos anos setenta, era ao mesmo tempo lema e slogan, que se tornou mundialmente famoso: “Do it yourself (DIY, ou ‘faça você mesmo’)”.

Principalmente nas artes. Principalmente na música. Foi o que fez o então jovem-meio-punk-tardio-intelectualizado, na época, Vagner Bozzetto. Fez ele mesmo. Fez por ele mesmo. E neste domingo, quando completa 33 anos de vida, segue colhendo os frutos.

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Meu primeiro encontro se deu há meia dúzia de anos por intermédio da música quando ele me trouxe aqui, para a divulgação, alguns exemplares do seu CD de estreia, o Maledetto do Porão. Fiquei impressionado! Sete ótimas canções, com excelentes letras, um instrumental porrada, leve, sombrio, pesado, suave, tudo feito por uma pessoa só e gravado no quartinho de um apartamento.

Quer coisa mais punk do que isso? O disco tocou na Gazeta FM, onde meus colegas também ficaram igualmente impressionados, dei um de presente para meu irmão caçula – que adorou! – e fiquei com o meu, que algum “amigo do alheio” também gostou, emprestou para todo o sempre e se foi com o meu Maledetto do Porão. Tristeza!

Mas aquelas sete pérolas musicais que integram o disco nunca me saíram da cabeça e esta semana voltaram com força total quando Bozzetto me (re)presenteou com mais um exemplar. Bah, me soou como quando da primeira vez, sem nada perder para o tempo. E as letras continuam lá, firmes, fortes, atuais. Mas algumas coisas mudaram na vida do Maledetto.

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“Eu nunca entendi muito bem a minha relação com a música”, começa ele, enquanto me instalo numa cadeira junto a uma das mesas em seu confortável e aconchegante apartamento na Gaspar Silveira Martins. O maior aguaceiro lá fora faz a trilha da nossa conversa.

“É muito complexo. Talvez seja como a tua ligação com a poesia. Com dez anos tive aula de violão, tive bandas, meu pai era técnico de som. Eu não sabia tocar muito bem, mas sabia escrever. Foi uma adolescência bem punk rock mesmo, em todos os sentidos”, e solta um sorriso, meio de lado, para sublinhar o que estava dizendo.

Eu olho para uma das estantes e vejo os livros. Muitos livros. Principalmente biografias, de músicos, o que inclui a do Marky Ramone, que ele está lendo no momento. “Eu não tinha muito saco, mas tinha aquele desejo latente de ter que produzir alguma coisa, artisticamente. Acho que tu me entende.”

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Foi o que levou Vagner ao ensino superior. É formado em Produção em Mídia Audiovisual pela Unisc e tem a sua própria produtora, a BSK Filmes, parceira direta da catarinense Catavento, de maior porte, e onde Vagner trabalhou, por um tempo, até sair para “fazer por ele mesmo”.

A especialidade da BSK são os documentários – foram finalizados 15 até agora – mas, como produtora, topa qualquer parada (de bom gosto!). É só entrar em contato. Sua paixão pelo cinema também fica estampada em alguns objetos espalhados pela casa – bonecos como o do Spock, por exemplo, de Jornada nas Estrelas – e algumas fotos de Woody Allen presas no mural do escritório concorrem com as do blueseiro Woody Guthrie. Grandes Woodys!

Bozzetto é natural de Ilópolis. Aos 14 se mandou para Bento e desde 2006 está estabelecido em Santa Cruz. Passou um período em Pinhalzinho, em Santa Catarina, por causa de seu contrato com a Catavento, mas logo voltou para cá. Sempre se guiou por aquilo que está a fim de fazer.

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E é com essa determinação que está concluindo o seu mestrado em Letras com uma linha de pesquisa voltada para o estudo literário midiático. Tem também uma forte preocupação com o social e está bastante ciente de que há uma espécie de “cortina de fumaça” no ar.

“Não foi feito absolutamente nada este ano. Ano que vem vamos ter que sair um pouco do Facebook e fazer a arte, a cultura, aparecer nos espaços públicos. Não só por uma questão estética, mas por uma questão de necessidade, mesmo. E o audiovisual é um bom instrumento para isso.”

Concordo plenamente. Balanço a cabeça positivamente. Bozzetto é incisivo em sua indignação. Deixo um exemplar do meu Sleeping bag com ele. Fazia parte do trato. Um escambo. Meu Maledetto do Porão está sobre a mesa. Só me olhando. Estou louco para ir para casa escutar. Fui. Escutei. Ah, como é boa a vida. A vida é punk! A vida é bela!

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