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Cantora das Multidões

ENTREVISTA: reinado de Sula Miranda está prestes a completar 35 anos

Em 1986, em pleno ambiente de reabertura política nacional, a voz de uma cantora de 22 anos começava a se impor através das rádios em todos os recantos do Brasil. Como os caminhões responsáveis por transportar as riquezas e abastecer os mais distantes rincões e regiões, os quais inclusive a letra da canção homenageava, a jovem Sula Miranda trazia um fôlego novo, um alento poético para a nação que vivia na expectativa da retomada democrática.

Quase 35 anos passados desde aquele período, a música Caminhoneiro do Amor permanece como um hino, a celebração do afeto e da dedicação a uma atividade profissional, a do transporte, cuja importância só viria crescer nos anos seguintes, quando o Brasil se fortalecia como um celeiro na produção de alimentos e referência no agronegócio mundial.

Aos 56 anos, Suely Brito de Miranda, a Sula Miranda, como se consagrou no cenário artístico, segue colhendo os frutos daquela tão acertada parceria. Havia encomendado ao compositor Joel Marques, então já respeitado, letra para uma canção associada justamente aos caminhoneiros, categoria fundamental em um país de dimensões continentais, que tem na matriz rodoviária a base de seu abastecimento.

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Não por acaso, então e nos anos seguintes, os caminhoneiros seriam tema recorrente na música (basta lembrar de Roberto Carlos, que também explorou o filão). Mas Sula, com sua voz aveludada, conquistou a todos, e granjeou milhões de fãs. No Magazine, é homenageada como a segunda artista da série Cantor das Multidões, cuja estreia ocorreu na edição de 11 e 12 de janeiro com a matéria dedicada a Amado Batista.

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Com mais de 20 discos gravados, entre os de estúdio, os ao vivo e os especiais, de datas marcantes na carreira, Sula Miranda posicionou-se ao longo de três décadas entre os artistas da canção com uma das maiores vendagens no País.

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Mais do que isso, como refere na entrevista concedida para essa edição (confira abaixo), foi o trampolim para que, ao longo do tempo, se tornasse artista multimídia, atuando também como apresentadora de programa de TV e atriz. Nesse caso, 2020 inclusive marca nova fase em sua carreira, tendo em vista que atuará na novela bíblica Gênesis, da Record, de autoria de Emílio Boechat, reforçando seus laços com o universo religioso, ao qual passou a se dedicar com gravações de canções gospel.

No início, ela cantou com as irmãs
Tudo começou em ambiente de periferia da capital paulista. Filha do casal Maria José Brito de Miranda e Mário de Miranda, nasceu no dia 12 de novembro de 1963. Cresceu ao lado das irmãs mais velhas, Maria Odete Brito de Miranda Marques, que ficaria popularizada pelo nome artístico de Gretchen, hoje com 60 anos, e Yara, com dois anos de diferença de idade entre elas. Quando Sula estava com cerca de 15 anos, o produtor Jorge Gambier decidiu apostar em grupo musical integrado pelas três irmãs e por uma amiga delas, Paula Matar, conformando o quarteto de As Melindrosas.

Em 1978 lançaram um vinil, Disco Baby, que vendeu 1 milhão de cópias. Foi o trampolim para a fama. Mas a irmã Maria Odete logo deixou o grupo para se lançar em carreira solo, como Gretchen. As Melindrosas seguiram em atividade até 1983. Na sequência, Suely igualmente apostou em carreira solo, como Sula. Caminhoneiro do Amor, o primeiro álbum, vendeu mais de 250 mil cópias, tendo sido seu mais bem-sucedido trabalho, embora A Voz do Rádio, o segundo LP, de 1988, também tenha atingido a casa de 200 mil cópias.

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Com esse respaldo, passou a apresentar programas de TV, como o Roda Brasil, na Rede Record, entre 1990 e 1991. Desde então, não ficou um ano sem aparecer na telinha, entre SBT, Record, Manchete, RedeTV ou TV a cabo. E em 2020, depois de aparições esporádicas como atriz, está escalada para sua primeira novela, a bíblica Gênesis, na Record.

Na vida pessoal, depois de um casamento conturbado, entre 1983 e 1990 (seu marido, Luís Flávio Rocha, suicidou-se), casou pela segunda vez com Osmar Gonçalves, com quem teve seu único filho, Natan, em 1998. Desde então optou por viver sozinha e voltou-se à espiritualidade, convertendo-se ao evangelicalismo em 2008.

Mas nunca mais abandonaria a identificação com a vertente sertaneja, explorada inclusive em produtos licenciados com seu nome. E muito menos abriria mão da condição de Rainha dos Caminhoneiros, como se consagrou junto aos fãs. A eterna rainha apostou no caminhão, esse veículo que transporta as riquezas e o progresso, e a sua vida foi com ele nessa estrada, viajando o tempo inteiro no coração do povo brasileiro.

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A CANÇÃO
Caminhoneiro do Amor
Letra de Joel Marques e Carlos Randall

Ele sai logo de madrugada
E vai pegando a estrada com seu caminhão
Quase sempre me deixa dormindo
E vai sumindo pela cerração.
A carreta vai cortando o vento,
E ele passa o tempo só pensando em mim
Que espero morta de saudades, que a sua viagem logo chegue ao fim.
E vai e vem!
Não tem parada,
Traz uma carga de saudades na chegada.
E vem e vai!
Mais uma jornada,
E a minha vida vai com ele nessa estrada.
O caminho é sempre perigoso
E ele é cuidadoso, não pode arriscar.
Suas mãos bem firmes no volante,
Certeza constante de que vai chegar.
Na vontade de voltar pra casa
Quase que põe asas em seu caminhão.
Ele é o meu caminhoneiro
E viaja o tempo inteiro no meu coração.
Quando chega, é sempre aquela festa,
Tudo que nos resta é tempo de amar.
Na alegria da sua chegada, eu sou mais uma estrada pra ele trafegar
E nas curvas da felicidade a nossa saudade é coisa que passou,
E me leva ao meu caminhoneiro
Pelos sorrateiros caminhos do amor
E vai e vem!
Não tem parada.
Traz uma carga de saudades na chegada.
E vem e vai!
Mais uma jornada
E a minha vida vai com ele nessa estrada.

ENTREVISTA
Magazine – Sula, como avalias tua história de envolvimento com a música e o que ela hoje significa para ti?

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Sula Miranda – O meu envolvimento com a música começou desde muito cedo, desde menina, eu cantando em família, com minhas irmãs. Cantávamos literalmente no porão de casa. Depois disso, eu já mais grandinha, começamos a cantar em festivais, no colégio, e aí a coisa foi crescendo, até chegarmos no profissional, com As Melindrosas. O conjunto teve grande sucesso; vendemos mais de 1 milhão de cópias. A música para mim representou uma mudança de vida e a maior porta que se abriu para que depois pudesse desenvolver todas as outras atividades: cantora, apresentadora, locutora, decoradora. Quem abriu as portas para isso foi a cantora Sula Miranda.

Quais os planos para 2020? Há novos projetos em vista?
Esse ano de 2020 já começou com muita coisa literalmente se realizando. Um projeto é levar o programa Sula na Estrada, que tenho no meu canal no YouTube, também para a TV. E vou participar como atriz na novela Gênesis, da Record. Também tenho projeto para a música sertaneja. Enfim, é um ano promissor. E há minha caravana para a Grécia, a Turquia e Israel, na qual levo pessoas comigo, porque também continuo atuando na música gospel. Ou seja, o ano está bem agitado.

Caminhoneiro do Amor foi a música que te projetou em definitivo para o Brasil. Fala-nos um pouco disso.
A música Caminhoneiro do Amor eu falo sempre que é meu hino. É a música que canto com muito amor, para o resto da vida. Onde quer que eu vá, tenho de cantar. Mas isso não me cansa, porque foi a música que realizou tudo, todos os meus sonhos, todos os meus projetos. E até hoje ela emociona, até hoje aonde quer que eu vá as pessoas cantam; ela é atemporal, passou de geração em geração. É um grande presente que eu recebi do compositor Joel Marques.

E segues identificada como a Rainha dos Caminhoneiros.
Minha relação com os caminhoneiros é especial. Não abro mão do título, a Rainha dos Caminhoneiros. Tenho muito orgulho de ter sido reconhecida assim. E hoje vou além disso. Além de cantar a realidade dos caminhoneiros, da sua família, das esposas, também faço ação social para os caminhoneiros. Me envolvo para defender as suas causas. Hoje, estrada e caminhoneiro são sinônimos de Sula Miranda.

Teu nome virou uma grife. Como hoje exploras tua popularidade, tua marca, em termos de áreas e produtos?
Tive a oportunidade de ter muitos produtos licenciados com meu nome, mas hoje trabalho diferente a minha relação comercial e meu uso de imagem. Atuo emprestando minha imagem para empresas, usando minha credibilidade, minha seriedade no mercado. E me alio a empresas das quais acredito no propósito delas, que venham a beneficiar os caminhoneiros e o segmento do transporte. Hoje trabalho dessa forma. Penso ainda em ter produtos lançados, mas não com o objetivo do passado, de ser uma grande marca. Quero levar bons produtos e emprestar meu nome só para projetos que realmente façam a diferença.

Após quase 35 anos de carreira, entendes que a tua trajetória pode também inspirar outras mulheres, num tempo em que se fala tanto em empoderamento?
Como ser humano, como artista, como mulher, como pessoa, quero sim ser uma referência, quero sim poder passar coisas boas para as pessoas. Mas eu não gosto do termo empoderamento. Acho que isso tira da mulher a feminilidade, tira um monte de coisas, e eu vejo isso de uma forma não muito positiva. Acho bacana sim ser um referencial, mas até nisso de mostrar para as mulheres que elas não precisam se sentir empoderadas; mostrar para as mulheres que elas podem ser bem-sucedidas, sem essa competição que essa palavra empoderamento gera. Eu prefiro não fazer parte disso.

Como é a tua rotina hoje? O que gostas de fazer?
A minha rotina é muito simples, mas muito disciplinada. Eu tenho uma rotina de tudo, até de alimentação. Eu acordo, tomo um shot para a minha imunidade, com limão, com própolis, com água morna e com glutamina. Depois tomo meu suco de couve, e depois vou fazer meu exercício. Só então é que vou ver as atividades do dia. Cada semana é de uma forma, dependendo dos compromissos, tanto de reuniões de negócios como de gravações. Mas sou muito disciplinada; tenho minha agenda certinha, com horários. A segunda-feira sempre tiro para dar uma geral na agenda, para ver tudo o que ficou parado, cuidar das coisas de banco, enfim, ficar paradinha, fazer o serviço de escritório, vamos dizer assim, checar e-mails, ver recados, contratos. Para poder no resto da semana sair, cair pelo mundo, cumprindo minha agenda de compromissos.

O que é a felicidade para a Sula?
Felicidade para mim é ter a paz que excede a todo entendimento. É ter a minha comunhão com Deus, ter literalmente intimidade com Deus, através do Espírito Santo, para que Ele me dirija, me conduza, que eu seja um ponto de luz aqui, para que outras pessoas possam também conhecer a palavra de Deus, conhecer o que conheço, viver o que vivo. E ter essa paz que acho que não vai ter sucesso, dinheiro, fama, nada que compre isso. O segredo do sucesso, da felicidade, é ter comunhão com Deus.

A série
A série Cantor das Multidões foi idealizada pelo Magazine para homenagear artistas que se consagraram e se eternizaram entre os fãs da música brasileira. Em janeiro, o primeiro contemplado foi o cantor goiano Amado Batista, que concedeu entrevista à Gazeta do Sul. Ao longo dos próximos meses, cantores e cantoras de diferentes gêneros, que fixaram seu nome na história do cancioneiro nacional, terão a sua vida e a sua obra lembradas.

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