Futebol. O esporte que movimenta a paixão dos brasileiros de todas as idades, sexos e gêneros. No interior de Santa Cruz do Sul, a modalidade sempre foi ponto de encontro aos finais de semana para muitas famílias em diversas comunidades, que se reuniam para acompanhar jogos válidos pelos mais variados campeonatos e torcer por atletas que vestiam com amor as cores dos seus clubes locais. Com o passar dos anos e o aumento da gama de opções de lazer e entretenimento para as novas gerações, a chama do futebol vem diminuindo, mas que ainda resiste motivados pela força e persistência de alguns abnegados que, mesmo diante das dificuldades, seguem mantendo os clubes amadores em atividade.
Nos últimos anos, alguns destes times do interior decidiram apostar na renovação e passaram a investir na criação de escolinhas e oportunizar a prática do futebol no interior para crianças entre 6 e 17 anos, onde cada treino ou jogo, se transforma em momentos de lazer e entretenimento que está realizando o movimento de atrair novamente as famílias para conviverem e torcerem novamente pelas agremiações e manter viva a paixão pelo futebol nas comunidades.
Nesta reportagem especial, a Gazeta do Sul mostra o trabalho desenvolvido pelas escolinhas de futebol do São José, de Monte Alverne, Rio Pardinho e Linha Santa Cruz, três clubes que possuem histórias vencedoras no futebol amador e que através dos projetos sociais, renovaram as suas estruturas e estão oportunizando aos pequenos e pequenas o lindo sonho de um dia se tornarem jogadores de futebol.
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Foto: Tiago Mairo Garcia
Linha Santa é local de integração
O Esporte Clube Linha Santa Cruz reativou a escolinha em 31 de janeiro de 2022 após 25 anos sem atividades. Um trabalho feito com dedicação e paixão, mantido por auxílio da Prefeitura, doações, eventos e apoio de comerciantes locais. A coordenadora é Eluza Assmann, que atua no projeto junto com os professores Guilherme Rocha e Dionatan Hilbig. Os principais custos são os materiais esportivos, o transporte para viagens e o pagamento dos professores.
As famílias não precisam pagar para inscrever os filhos. Além da localidade, o projeto social conta com jovens de Linha Nova e Pinheiral, que não contam com escolinhas. Além da utilização do Estádio do Imigrante, o ginásio da comunidade também é um espaço de treinamentos, principalmente no inverno. A iniciativa conta com cerca de 120 atletas, entre seis e 16 anos. Os times divididos por faixas etárias disputam competições como a Taça Kids, disputa local entre escolinhas. Além disso, conforme se desenvolvem, os garotos são absorvidos pelo time sub-18, na disputa da Liga de Futebol Amador de Santa Cruz do Sul (Lifasc).
Na avaliação de Eluza, o projeto aproxima as crianças e adolescentes de suas famílias e criam um elo forte com a comunidade e a entidade. Para ela, proporcionar a prática esportiva é uma ferramenta de formação cidadã. “Estamos promovendo saúde, convivência social e valores éticos. O projeto é um instrumento de integração social e educação”, resume.
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Foto: Tiago Mairo Garcia
Propósito de repassar valores
Na escolinha, os jovens atletas recebem orientação dos professores, que repassam valores como disciplina, respeito, trabalho em equipe, autoestima e hábitos saudáveis. Trabalham para afastá-los de situações de risco social, como o ócio improdutivo e a vulnerabilidade a práticas nocivas.
Há histórias de sucesso no Linha Santa Cruz. Em relação ao futebol profissional, o goleiro Jorge Meurer Bartholdy foi integrante da escolinha e passou pelo sub-18, na Lifasc. Atualmente, com 24 anos, defende o Grêmio, após boas passagens por Glória e Pelotas. Outros nomes são o atacante Nicolas Miguel Morsch (24 anos, do Figueirense-SC), o zagueiro Rafael Augusto Klein (26 anos, do Camboriú-SC), o atacante Victor Gabriel Braga (24 anos, do Tobol-Cazaquistão) e o zagueiro Kevlin Israel da Silva (24 anos, com passagens pela dupla Ave-Cruz).

Foto: Tiago Mairo Garcia
Sonho de tornar-se profissional
Como tantos garotos, os atletas do Linha Santa Cruz sonham com o futebol profissional. Sabem das dificuldades para chegar ao alto nível de rendimento, mas vislumbram carreiras semelhantes às dos grandes ídolos, acompanhados nos jogos e também pela rotina nas redes sociais.
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Bruno Bragança tem 14 anos e atua como lateral-esquerdo. Está disposto a evoluir para alcançar a meta de construir uma carreira no mundo da bola. Gabriel Francisco Mueller, de 12 anos, atua como meia. A dupla se inspira em craques como Neymar, Cristiano Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho.
Pai de Gabriel, Ismael Mueller, de 38 anos, foi da escolinha e defendeu o Linha Santa Cruz na Lifasc. Na concepção dele, o trabalho aplicado no projeto social é fundamental. “Ajuda muito no desenvolvimento dele. É importante para tirar os jovens das telas. Criam relações de amizade e precisam lidar com o coletivo. Aprendem na prática esportiva e passam a fortalecer os aspectos mentais e psicológicos. Sou muito grato pela existência do projeto”, destaca.



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A renovação do São José através da escolinha
Um dos clubes amadores mais tradicionais do interior de Santa Cruz, o São José, de Monte Alverne, está com a energia renovada e vem passando por uma reformulação através da escolinha de futebol criada há três anos. A ideia nasceu de uma conversa entre o presidente do clube, Luis Fernando Keller, o Kui, o educador físico Alexandre Ribeiro e o ex-técnico Darley Costa em 2022.
Atualmente a escolinha conta com 100 crianças entre cinco e 17 anos moradores de Monte Alverne e região, que são divididos por faixas etárias e atuam na escolinha de forma gratuita. “É um projeto social que veio para agregar e de grande importância para o desenvolvimento das crianças. Nossa ideia é tirar as crianças um pouco eles do celular, proporcionar uma atividade física, formar cidadãos e quem sabe, futuros craques”, disse o presidente, lembrando que o São José já teve a participação do atacante Pedro Henrique Konzen, do Ceará e do goleiro Jorge Meurer, do Grêmio, atletas santa-cruzenses que atuam no futebol profissional e que já defenderam as cores do clube em competições amadoras. “O Pedro Henrique começou em um projeto social de escolinhas em Pinheiral, morou em Monte Alverne e fez parte do São José. Ficamos felizes por ele sempre reconhecer e valorizar as raízes dele. O Pedro Henrique, sempre que pode, participa e as crianças adoram quando ele vem”, detalha o presidente.
Os treinos acontecem todas as segundas, nos turnos da manhã e tarde, no Estádio da Serraria. Em dias de chuvas, as atividades ocorrem no ginásio da comunidade. Além dos treinos, a escolinha disputa a Taça Kids, um campeonato de base criado para movimentar as escolinhas da região. Para se manter, o projeto conta com apoio mensal da prefeitura de Santa Cruz do Sul para custear as despesas com o trabalho dos professores e transporte para jogos e através da captação de recursos com apoio do Sicredi e que foi usado para compra de material esportivo, melhorias na estrutura da sede e custeio das atividades.
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Foto: Tiago Mairo Garcia
O sonho dos trigêmeos do São José
No São José, os meninos e meninas, juntos, se divertem através do futebol e alimentam sonhos. Os irmãos trigêmeos Tiago, Bruno e Kátia Bergmann, todos de 12 anos, moradores de Monte Alverne, são alunos da escolinha e contam que se inspiraram no esporte ao assistir os jogos do Grêmio pela televisão, fato que motivou eles a torcer pela equipe tricolor e a gostar de futebol. Além da escolinha, eles se reúnem para jogar com os amigos na escola estadual Monte Alverne, onde estudam. Como ídolos, eles se inspiram em Cristiano Ronaldo, Neymar e Marta e destacam possuir o sonho de um dia serem jogadores de futebol.
Charles Roberto Bergmann, pai dos trigêmeos, conta que sempre gostou do esporte e que desde os seis anos incentiva a paixão dos três filhos pelo futebol. Sobre a escolinha estar em atividade na comunidade, o pai destaca ser um grande incentivo. “Na escolinha tem pessoas preparadas para orientar o que é certo e errado e eles poderem aprender através do futebol. Acho que os pais devem incentivarem mais os filhos a ter um convívio diferente que eles irão levar para o resto da vida”, salienta o pai.

Foto: Tiago Mairo Garcia
O trabalho voltado para a inclusão de todos
A escolinha também tem trabalhado a inclusão de crianças com necessidades especiais e que são inseridas através do futebol. Os professores Alexandre Ribeiro e Darley Costa, relatam que o principal objetivo é formar cidadãos e que a inclusão é muito importante. “Colocamos todos os alunos para jogar e mostramos a eles que todos são importantes e iguais, sem diferenças”, disse Alexandre. Darley salienta a importância da família estar participando e auxiliando na escolinha. “Queremos ver todos inseridos neste projeto. Os pais nos ajudam e estão sempre apoiando. Essa integração é muito importante para que todos possam participar”, frisa.


Rio Pardinho resgata a própria identidade
Fundado em 1938, o Futebol Clube Rio Pardinho é uma das agremiações mais antigas e tradicionais do futebol amador de Santa Cruz do Sul. O clube verde e branco localizado em Rio Pardinho, a dez quilômetros de Santa Cruz do Sul, criou em 2017 a escolinha de futebol, projeto social que nasceu com o objetivo de aproximar crianças e adolescentes com o clube e comunidade, proporcionando inclusão social e evitar o êxodo rural através do esporte.
Ex-jogador do Rio Pardinho e atual coordenador geral do projeto, Oli Jurandir Limberger, 69 anos, destaca que a escolinha conta com 134 alunos, de cinco a 17 anos, que integram a escolinha de forma gratuita e treinam todas as terças e quintas, das 18h30 às 21 horas, no campo de futebol, o primeiro do interior a possuir iluminação para jogos à noite. Em dias de chuvas, as atividades são realizadas no ginásio do clube, que foi inaugurado recentemente. Os treinos são orientados pelos professores Alexandre Ribeiro e Alex Staub. Participam alunos de Rio Pardinho e oito localidades próximas. Limberger ressalta que a escolinha é voltada para a inclusão social. “Recebemos crianças que vem da Copame e já tivemos alunos que viviam no abrigo municipal. Temos esse respaldo e orgulho de ajudar oportunizando a prática do futebol”, disse o coordenador.

Foto: Tiago Mairo Garcia
Projeto social ajuda no desenvolvimento pessoal das crianças
O trabalho da escolinha também tem auxiliado na educação e no desenvolvimento das crianças. O pequeno Gabriel Nicolau Oldenburg, de oito anos, é um exemplo de superação após passar a integrar a escolinha. Marina Oldenburg, mãe de Gabriel, relata que o menino é uma criança imperativa e que o esporte tem auxiliado a melhorar o seu desenvolvimento. “O Gabriel é uma criança agitada. Após ele entrar na escolinha ele evoluiu bastante, pois está interagindo mais com os colegas e formando novas amizades”, frisa. Meia-atacante, Gabriel destacou que gosta de jogar e que deseja seguir carreira no futebol. “Meu ídolo é o Messi e sonho em ser jogador de futebol”, disse o menino.
Morador de Linha Travessa, Gabriel Lemes da Silva, de 17 anos, está em seu último ano na escolinha. O atleta, que atua como zagueiro, atua desde os 10 anos e conta com o apoio dos pais, que realizam o transporte para que ele participe dos treinamentos. “Acho importante ter uma escolinha aqui no interior. Todos que participam eu conheço e são pessoas próximas. Acho muito legal o projeto por envolver as famílias que vivem no interior”, disse o aluno, que já disputa campeonatos pelo Rio Pardinho e se inspira em Pedro Geromel como ídolo e sonha em defender a dupla Gre-Nal no futebol profissional. “A escolinha me ajudou a evoluir muito. Não apenas no futebol, mas no meu emocional ao ter uma rotina de treinos, disciplina e jogar sob pressão para seguir evoluindo em todos os sentidos”, disse o menino.


O pai que auxilia como voluntário por amor
A escolinha também conta com pais que atuam como voluntários e ajudam no dia-a-dia. É o caso de Márcio José Roesch, morador de Rio Pardinho, pai de Pedro Augusto Roesch, 10 anos, que atua desde os cinco anos na escolinha. “Participo há cinco anos. Sou um voluntário do grupo e cuido de todos os cadastros, documentação e fichário das crianças. Hoje temos 134 alunos inscritos em cada categoria”, conta. Ele relata que a participação do filho na escolinha melhorou o desempenho escolar do menino. “A escolinha agregou na forma como ele se relaciona com as outras crianças e ajudou muito na formação e no aprendizado na escola. Acho muito positivo e valido ter este projeto social inserido no interior”, frisou.
Presidente do Rio Pardinho, Ademir Luis Bohnem, salienta que a escolinha em atividade é um orgulho para o clube e para a comunidade. “Nós não estamos apenas desenvolvendo atletas e sim estamos preparando crianças e jovens para o amanhã e para eles fazerem escolhas certas na vida. Oferecemos a opção para que eles tenham amor pela sua comunidade e através do futebol conseguimos manter eles vinculados ao interior e ao caminho correto ao lado das suas famílias”, sublinhou.
Sobre a captação de recursos para manter o projeto, o presidente destaca que a principal fonte de receita é a através da destinação do imposto de renda pelos contribuintes. “Temos o auxílio da Prefeitura que repassa um valor mensal, Comdica e pedimos apoio para a comunidade através de doações de qualquer valor”, frisou. O presidente ressalta que através do projeto, o clube também está buscando formar novas lideranças e manter os jogadores atuando na categoria sub-18 e nos times adultos A e B do Rio Pardinho. “Temos três atletas que passaram pela escolinha e que já chegaram em clubes como Internacional e Grêmio. O principal para nós é ter os alunos identificados com o Rio Pardinho para que eles possam seguir e mantenham o clube em atividade no futuro”, finalizou.




Confira o vídeo da reportagem com os principais depoimentos
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