Com alguma frequência, quando me deparo com situações espinhosas ou muito desafiadoras, recorro a uma estratégia que, para mim, funciona como espécie de autodefesa, uma alavanca de superação. A véspera de um procedimento cirúrgico, por exemplo. É inevitável um certo grau de tensão diante do incerto ou de qualquer intercorrência que pode vir a ocorrer.
Em situações como essa e diante de tantas outras adversidades que a vida nos apresenta, procuro racionalizar: amanhã – ou daqui a uma semana, pode ser! – tudo já terá passado. O que tiver que acontecer já aconteceu e a vida haverá de seguir seu rumo. Objetivamente falando, talvez não mude nada. Mas, pelo menos para mim, a estratégia alivia o peso emocional. Em vez de sofrer antecipadamente pelo que está por vir, penso no depois, na superação.
Cheguei a imaginar que poderia me valer dessa estratégia para me imunizar contra a dor, o desgosto, a decepção quando me dei conta que daqui a um ano estaremos nos dias decisivos para definição dos novos governantes no País e nos Estados. Mas, devo admitir: não vejo defesa para processo tão invasivo e perturbador porque desconhece freio e ignora limites.
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Vamos nos energizar ao longo dos poucos meses que restam para fazer frente ao turbilhão de apelos, mensagens e informações que nos alcançará logo adiante, não importa onde estivermos.
Por que isso atormenta? Por que o que menos se ouve em um processo eleitoral são propostas sérias, um projeto de País (e não de poder), com fundamento e foco no bem-estar do povo. Novamente nos sentiremos alienígenas numa terra que não existe: romantizada por um lado, arrasada por outro.
Não adianta dizer que não vamos nos envolver. Esse processo é onipresente nas mais diferentes plataformas de comunicação e nos alcança nem que seja em conversas na intimidade do lar. Você já sabe como funciona: onde uns enxergam um mar de virtudes, onde tudo é utopicamente lindo, onde repetem para si mesmos que o amor prevalece e todos são felizes, outros denunciam o ódio, a perseguição, a lama da corrupção, a obstinação pelo poder a qualquer preço.
E nesse ambiente hostil e indigesto, onde o ativismo se sobrepõe à ideologia e prevalece até em instituições que deveriam se reger pela isenção, ninguém convence ninguém. Resta a parcela do eleitorado que não se identifica com lado ou outro e que, no final, vota por eliminação mais do que por preferência e, infelizmente, a turma que compõe a massa de manobra que, em última instância, é que decide o nosso futuro.
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Isso, por si só, implode meu plano de autodefesa. E já que não há como atropelar o tempo, resta aliar-se a ele: que nos faça enxergar a realidade e não nos torne reféns da utopia; que nos permita ver a alma e o caráter dos que nos pedirão votos ao invés de imagens maquiadas por marqueteiros espertos que disfarçam a autêntica fisionomia e escondem o currículo que não convém.
Enfim, espero que, passado este ano que se anuncia imprevisível, tenhamos sobrevivido e que estejamos mais animados e esperançosos que hoje.
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