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AUTOBIOGRAFIA

De carroceiro a delegado regional: morador de Santa Cruz lança livro neste sábado

Foto: Alencar da Rosa

João José da Silva lança sua autobiografia na Iluminura, onde recebeu a Gazeta

A dedicatória já estava na primeira página do livro, colocado sobre a mesa, ao lado do chapéu. O banner de divulgação já havia sido posicionado no tripé. Foi dessa forma que João José da Silva, o Juca, recebeu a Gazeta do Sul nessa quinta-feira, 18, na Livraria Iluminura, para falar sobre o livro autobiográfico de 272 páginas, intitulado A vitória de um guerreiro, com selo da Editora Catarse. Mais do que pontual, preferiu chegar antes do horário marcado, a fim de organizar o ambiente para a entrevista.

Aqueles que o conhecem sabem que a organização sempre foi uma das características que marcaram a carreira de sucesso. “Sou assim a minha vida inteira. Já deixei dedicatórias prontas em 60 livros, faltando apenas escrever o nome e um adjetivo da pessoa que o adquirir”, disse ele, referindo-se ao lançamento da obra, que ocorrerá neste sábado, 20, das 10 horas ao meio-dia, na Iluminura.

A ideia de escrever uma obra sobre sua vida partiu de uma reportagem publicada na Gazeta do Sul, assinada pela jornalista Simoni Gollmann e veiculada na edição de 26 de abril de 2014 (abaixo, a reprodução da matéria). “Lembro que ela falou que minha história dava um livro. E aquilo ficou na minha cabeça.” A partir disso, aos poucos, Juca foi desenvolvendo o enredo por capítulos. Mas a grande evolução para lançar a obra aconteceu durante a pandemia. “Nesse período mais em casa, consegui fechar as histórias e terminar.”

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No papo descontraído, o autor, hoje com 76 anos, relembrou algumas das histórias que o marcaram ao longo de sua trajetória, desde que nasceu, em Rio Pardo, passando pelas dificuldades da época. “Foi um início de vida muito complicado. Era filho único. Precisava trabalhar para sustentar minha casa, com minha mãe, pois meu pai havia morrido quando eu tinha 15 anos. Fiz de tudo, fui carroceiro, ferreiro, marceneiro, jornaleiro.”

Mas Juca sabia que a busca por melhores condições de vida só tinha um caminho: o estudo. “Sempre fui um ‘CDF’, estudioso. Me formei no Ginásio em 1969 e depois passei no curso de escrivão. Comecei a trabalhar em Venâncio Aires e me formei em Educação Física. Mais tarde, resolvi cursar Direito. Quando terminei, surgiram as oportunidades como policial”, relatou. Depois de um tempo, João José da Silva assumiu as delegacias de Vera Cruz e Santa Cruz, a Delegacia Regional e também a antiga delegacia Ciretran, responsável por acidentes e crimes envolvendo trânsito.

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Alguns “causos”

No livro, Juca relata também 34 fatos pitorescos que passou durante a vida. Dos engraçados, cita um episódio, em uma reunião da Afubra, que contou com a participação dele e de outros convidados da região. Um orador, com carregado sotaque germânico, teceu algumas palavras que provocaram risos dos convidados. “Mas deixa para as pessoas descobrirem no livro o que ele disse”, brincou.

Algumas histórias vividas por ele, no entanto, vão ficar somente no papo entre autor e jornalista. “Já essa outra história, sobre esse promotor, deixamos só entre nós, não precisa colocar na matéria”, pede ele, sorrindo, recordando um dos casos sigilosos que acompanhou como delegado de polícia. Já outra passagem, que também acabou ficando de fora do livro, ele resolveu contar aos leitores da Gazeta. “Lembro de um fato nos anos 1980 que me marcou muito. Prendemos um rapaz de 24 anos, que era integrante de uma gangue que realizava assaltos a banco pelo Estado todo e já havia matado seis. Todo mundo queria pegar ele e nós conseguimos. Ele não queria falar nada. Pedi para trazê-lo a minha sala”, contou Juca.

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O delegado então mostrou uma espada e uma pistola municiada ao preso, a fim de deixar claro qual era sua condição no local, e que ele precisava se comportar. Depois, ofereceu água e o deixou ficar calmo, para daí se aproximar. “Foi olho no olho. Perguntei se ele tinha pai, mãe, filhos. Ele disse que sim. Questionei-o sobre o que ele queria deixar de legado para os dois pequenos, de 2 e 5 anos, que tinha; e se ele se importava com a vergonha que os pais estavam passando, sabendo que o filho era um bandido. Ele baixava a cabeça e eu a levantava, e pedia para ele olhar no olho.”

Trabalhando no psicológico do preso, fez com que o assaltante de banco falasse pela primeira vez. “Ele me disse que até então só tinham batido nele e não haviam conversado, mas que a mim ele iria confessar. Falou sobre os casos em que teve envolvimento, inclusive informações que nem sabíamos. O aprendizado que fica é de que a consciência é um juiz silencioso e muito forte”, afirmou Juca, que em 5 de dezembro de 2016 recebeu o título de Cidadão Santa-Cruzense.

Alunos ilustres

Rio-pardense de nascimento, Juca morou na Cidade Histórica até os 24 anos, mas já vive há mais de 40 em Santa Cruz do Sul. Ele relembrou a época em que atuou nas delegacias da região. “Tínhamos que trabalhar com muito menos recursos técnicos e de pessoal, se comparado a hoje. Mesmo assim, desenvolvíamos um grande trabalho. Também fazíamos reuniões periódicas com promotores e juízes para organizarmos o trabalho”.

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Consolidado como delegado, por 31 anos também foi professor do curso de Direito da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Ele relembrou alunos ilustres para os quais lecionou, como alguns dos principais delegados da região, caso do regional, Luciano Menezes, e dos responsáveis pelas delegacias de Vera Cruz e Venâncio Aires, Paulo César Schirrmann e Felipe Staub Cano, respectivamente. As juízas Márcia Inês Doebber Wrasse, Josiane Caleffi Estivalet, Lísia Dorneles Dal Osto e Luciane Inês Morsch Glesse também foram alunas de Juca na Unisc.

“Eu via familiares que bebiam, fumavam, brigavam, gastavam em jogo de azar, e eu decidi fazer tudo ao contrário, com foco no estudo. Foi assim que tracei minha vida e assim consegui vencer. A mensagem que fica desse livro é para os mais jovens. Qualquer pessoa, de qualquer classe social, querendo e lutando, vai conseguir chegar lá”, finalizou Juca.

A partir deste sábado, 20, o livro A vitória de um guerreiro estará disponível para venda na Livraria Iluminura, Livraria da Unisc e na Clip Casa do Fogo, em Rio Pardo.

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