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LUÍS FERNANDO FERREIRA

De fora para dentro

A vida é breve. Que o digam os Replicantes, os androides fabricados com validade de quatro anos no filme Blade Runner. Em um futuro próximo, são eles os encarregados de executar trabalhos pesados e perigosos, inclusive fora da Terra. Contudo, faltando poucas semanas para o fim desse prazo vital, um grupo de Replicantes rebeldes sai à procura de seu Criador, cientista e dono (ou, como dizem hoje, “CEO”) de uma poderosa corporação.

Seu objetivo é forçar o Criador a fazer com que tenham uma existência mais longa, mas são seguidos por Rick Deckard, policial cuja especialidade é exterminá-los. Perto do desfecho de Blade Runner, o líder dos Replicantes tem a chance de matar Deckard e não o faz. Decide poupá-lo. Como se naquele momento, em que sente sua energia vital já se esvaindo, o androide percebesse que a vida é um bem para se preservar a todo custo – seja ela de quem for.

Gesto nobre esse de Roy Batty, o Replicante-mor, mas de um caráter que parece mesmo, cada vez mais, coisa de ficção. Infelizmente. A realidade concreta vem sinalizando outro tipo de mensagem: de que a vida não vale nada em absoluto. Não qualquer vida, pelo menos.

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Habituamo-nos já à violência desmedida e ostensivamente covarde, seja na escala micro (casos diários de agressão doméstica, por exemplo) ou macro: guerras que se prolongam sem nenhum apreço pela segurança da população civil. Ao contrário, às vezes esta é exatamente o alvo, como ocorre no inequívoco genocídio em curso na Faixa de Gaza.

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E para que falar sobre isso? Fará diferença no Oriente Médio, na Ucrânia, Sudão ou Congo? Em um dos ensaios de seu livro Homens em tempos sombrios, a filósofa Hannah Arendt lembra que perguntas dessa natureza foram feitas por muitos alemães nos anos 30 e 40, no cerne de um fenômeno psicológico que ela chamou de “emigração interna”. Segundo a autora, certas pessoas “se comportavam como se não mais pertencessem ao país, se sentiam como emigrantes”.

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A escolha, então, foi voltar-se para dentro. “Mas naquele mais sombrio dos tempos, dentro e fora da Alemanha era particularmente forte, em face de uma realidade aparentemente insuportável, a tentação de se desviar do mundo e do seu espaço público para uma vida interior, ou ainda simplesmente ignorar aquele mundo em favor de um mundo imaginário, ‘como deveria ser’ ou como alguma vez fora”, escreve.
Mas até para respirar é preciso abrir janelas.

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